É um pouco desestimulante observar no primeiro ato de Vizinhos uma tendência a garantir risadas com fatos tão convencionais e infantis, como ironizar estereótipos, flatulências e as turbulências da vida de um casal que acaba de ter uma filha. Assim, por mais que a cena de abertura seja bem inesperada, a falta de timing com que se desenrola uma conversa em facetime parece presumir o pior – algo que, surpreendentemente, não acontece e apenas surge como uma das poucas falhas de um filme de grandes acertos.
Não demorando muito para introduzir o ponto de virada na trama, a chegada dos novos vizinhos, o diretor Nicholas Stoller é inteligente em demonstrar a natureza prosaica com que o casal vivido de forma brilhante por Rose Byrne e Seth Rogen se sente com sua própria rotina. Para os dois, o momento mais empolgante do dia é arrumar um lugar novo em sua casa para transar, enquanto o bebê dorme. Desta forma, as saídas para apontar essa atmosfera tediosa são eficientes, quando notamos as tentativas frustradas dos dois saírem do seu dia-a-dia ou por acharem comum dividirem um beijo com seus aparelhos para evitar apneia. Num determinado instante a personagem chega a dizer naturalmente que quase chegou ao orgasmo durante um sexo inacabado, como se fosse uma grande vitória para a vida dos dois. A chegada dos jovens da fraternidade liderada por Zac Efron, portanto, traz exatamente o que faltava na vida de um casal preso à realidade: uma novidade.
De tal modo, muito mais que as ótimas referências aqui e ali ou a montagem espirituosa com o cenário mudo dos anos 30 numa festa de toga, a química entre os protagonistas da história e o crescimento da relação desenvolvida desde o primeiro encontro acaba sendo muito mais importante que as façanhas técnicas do longa-metragem. E quando Rogen e Byrne desempenham com naturalidade seu relacionamento, realmente parecendo um casal de longa data, fica fácil para o espectador embarcar no argumento do roteiro idealizado por Andrew Cohen e Brendan O’Brien. Consequentemente, o exagero das cenas envolvendo airbags ou um pula pula são esquecidos, por darmos mais atenção as hilariantes sequências em que Mac precisa “ordenhar” sua própria esposa ou nos inúmeros momentos em que os personagens imitam celebridades (o momento com De Niro e as referências na festa da fraternidade é fantástico). Sem deixar de citar o combate pontual entre as vozes de Keaton e Bale, que estão entre as melhores coisas do filme.
Ainda que não satisfaça completamente por contar com pequenos desvios – como, por exemplo, o uso desnecessário dos amigos do casal Mac e Kelly, nunca explicar competentemente o que realmente aconteceu com Jimmy e a mulher e ensaiar um desconfortável paralelo entre Mac e Ted –, Vizinhos é uma obra estável e engraçada na medida certa. E que, contando com um elenco afiado, transforma-se num excelente exemplar de seu gênero.
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