Idem,
Brasil, 2013. Direção: Paulo Morelli. Roteiro: Paulo Morelli.
Elenco: Caio Blat, Maria Ribeiro, Carolina Dieckman, Júlio Andrade,
Martha Nowill, Paulo Vilhena e Lee Taylor. Duração: 100 min.
Caso haja
algo que a vida nos ensine é que a maioria de nossos sonhos não irá
se concretizar. E isso não é necessariamente algo ruim, se
pensarmos que muitos dos nossos devaneios juvenis são, bem, juvenis.
Desconhecemos o pessimismo dos dias que virão e ignoramos os
obstáculos que são reflexos de nossas escolhas. Seus amigos do
colegial dificilmente ganharão um nobel, escreverão livros de
sucesso ou serão referências em suas áreas. Dentro desse panorama,
o diretor Paulo Morelli nos apresenta o retrato de uma juventude que
se move por esse princípio: que pensa que, de alguma forma, somos especiais. E
somos, obviamente. Cada um à sua maneira; contagiando alguém próximo
com sua essência, autocompartilhando-se. Entre Nós é uma
narrativa que constrói esse sentimento como raros filmes conseguem:
quem seremos amanhã? Estaremos aqui? Seremos alguém nesse
imenso mundo em que todos querem ser alguém? O que perderemos neste
percurso? Quem perderemos?
Afinal,
como a música de Caetano Veloso cantada alegremente pelos
personagens no primeiro ato, a lua é clara, mas o sol tem rastro
vermelho. Os nossos dias não serão as divagações de nossas
noites. O personagem do impressionante Lee Taylor, por exemplo,
escreve o final de seu livro durante a madrugada e a única coisa que
procura é o breve reconhecimento que desfruta, mas é interrompido
em seu caminho. Uma consequência de sua decisão em dirigir sob o
efeito de entorpecentes. Algo que não apenas influencia a ele, mas a
todos: desde Maria Ribeiro até Caio Blat. Este último,
principalmente, passa a viver como o amigo. Busca um visual mais
obscuro, esquece a sua expressão jovial, procura o isolamento,
torna-se alguém deslocado naquele grupo – como se fosse o único
capaz de reconhecer a dor. Porque, na visão dele, é o único que a
viveu completamente. (Aliás, é necessário o parêntese para
destacar como a melancolia de seu personagem vai crescendo cada vez
mais até não conseguir esconder que ele não está vivendo a
sua vida, mas a de outro: literalmente.)
Nesta
perspectiva, Morelli é brilhante em manter a sombra de Rafa na vida
dos amigos. Como se ele fosse um sinônimo para a máxima: “os
sonhos terminam cedo demais”. Deste modo, a maneira como o trio, Rafa, Felipe e Silvana, desfruta a felicidade, o
descompromisso, a época das experiências sexuais e anestesiantes, além das conversas sobre o futuro, encaixa-se perfeitamente na mudança de
suas vidas, posteriormente. Observe a roda de violão durante Na Asa
do Vento no primeiro ato e no terceiro: a mise-en-scène com todos
pulando e se divertindo, cada um da sua forma, para a mesma roda dez
anos depois, onde os acordes são mais lentos, a tristeza é mais
imperante e a felicidade parece cada vez mais distante (com muitos
nem lembrando da letra). Igualmente, as drogas são trocadas pelo
café, o cansaço da manhã; o vislumbre dos anos 90 é só visto no futebol, mas
ainda isso denota o afastamento: os homens jogando, as mulheres
comentando sobre suas vidas.
A
excelente Maria Ribeiro, sob esta ótica, descreve os anos passados com nostalgia
típica de alguém que não é feliz. “Há menos discurso hoje em
dia!”. Enquanto alguns estão satisfeitos com o comodismo, os
outros procuram desculpas para suas frustrações: “Hoje qualquer
um é artista, há uma supervalorização do sucesso”. Um resultado, aliás, que Blat consegue eficientemente se mostrar desconfortável – já que até
suas referências, como aquela sobre Metamorfose ou Ulísses, soam
como um pedido de desculpas. E uma supervalorização sabiamente
usada por Vilhena para seus objetivos dramáticos, principalmente no
seu desabafo na floresta ou ao exclamar que se sente uma piada.
Ainda assim, a mensagem de Morelli não é dopada de pessimismo, pois mesmo
que o afastamento tome conta de nós, as brigas sejam corriqueiras e viremos jovens com depressão, as expectativas serão voláteis. No
fim do dia, afinal, apenas queremos nos reconhecer no espelho e
lembrar aqueles tempos de juventude antes do mundo nos ter mudado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário