30 de março de 2016

Batman vs Superman: A Origem da Justiça

Batman v Superman: Dawn of Justice, EUA, 2016. Direção: Zack Snyder. Roteiro: Chris Terrio e David S. Goyer, baseado nos personagens de Bob Kane, Bill Finger, Jerry Siegel e Joe Shuster. Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne, Jeremy Irons, Holly Hunter, Gal Gadot, Scoot McNairy, Callan Mulvey, Tao Okamoto. Duração: 2h31min.

Em determinado momento de Batman VS Superman: A Origem da Justiça, o homem-morcego está numa luta de vida/morte contra o homem de aço, quando este fala que aquele precisava saber que Martha estava em perigo. "Nenhuma Martha irá morrer esta noite", assume o personagem de Ben Affleck ao se deparar com a chance de salvar um simulacro de sua própria mãe e enfrentar seus próprios demônios. Uma cena belíssima que Zack Snyder decide contrapor vergonhosamente com o retorno de um flashback visualizado no começo do longa-metragem, cujo objetivo era apenas lembrar o espectador que, sim, Martha também era o nome da mãe de Bruce Wayne. Algo que não só apontava para o fato do diretor não confiar na capacidade de raciocínio básico do público, como também denunciava as escolhas inorgânicas para cimentar a profundidade dramática de sua narrativa.

Assim, Snyder falha em criar o paralelo que o roteiro tanto se esforça em estabelecer: a batalha entre homem versus deus, Zeus e Prometeu, noite contra dia, ciência e fé. O intermediário para isso tudo é a figura humana de Lex Luthor, outra decisão interessante, mas sabotada pelo propósito de transformar o empresário num sociopata extremo que faz qualquer coisa para chegar em seu objetivo - neste aspecto, nem a decisão de tentar aproximar o personagem de um tom mais palpável, quando a falta da figura paterna é explicitada no clímax do filme, parece menos do que desconfortável. A montagem de David Brenner, por sua vez, sofre para estabelecer uma continuidade minimamente aceitável entre ambos os personagens, criando opostos deslocados e que se confrontam com outros aspectos técnicos do filme. Num momento, inclusive, Bruce chega a dizer que precisa de 100% de certeza para embarcar numa batalha contra Superman apenas para, na cena seguinte, dizer que ele precisa ser detido por ter ficado em seu caminho.

Não que a figura humana não seja bem apresentada, pois ela é. Ben Affleck é cuidadoso na forma como encara a seriedade de sua persona - enquanto Christian Bale possuía uma missão de salvar Gothan da ganância, corrupção e seus opressores, o Batman de Affleck é um caçador, um homem que precisa de novas missões para continuar vivendo ou, melhor, sobrevivendo. As referências em sua BatCaverna, portanto, soam sempre bem fundamentadas - junto ao eficiente design de produção de Patrick Tatopoulos, nestas cenas, em específico. Da mesma forma, o encontro da destruição de Metropolis aos olhos de um fúnebre Bruce Wayne estabelece uma lógica muito maior sobre o confronto entre os dois heróis do que o "miolo" do filme procura solidificar.

Entretanto, é uma pena que Zack Snyder construa seu castelo de boas intenções no centro de uma geleira prestes a derreter. Seu final similar a Star Trek: A Ira de Khan joga um espectro de morte e sacrifício ao espectador que poderia fomentar discussões acaloradas sobre o futuro das franquias, caso sua cena final não fosse tão óbvia e, outra vez, inorgânica; bem como usar algo tão forte como se fosse banal. Ainda que, de novo, a separação entre Clark Kent e Superman seja belissimamente contraposta nos seus respectivos funerais.

Porque, no final das contas, infelizmente, Zack Snyder e equipe parecem se importar basicamente com três coisas: ambientar o novo Batman, sequências épicas entre os personagens-título no começo/fim do filme e criar easter eggs para os fãs incondicionais. Não é o bastante.