Maleficent, EUA/Inglaterra,
2014. Direção: Robert Stromberg. Roteiro: Linda Woolverton, baseado nas
histórias La Belle au bois dormant e Little Briar Rose, além do roteiro de A Bela Adormecida. Elenco: Angelina
Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley, Lesley Manville, Imelda Staunton, Juno
Temple, Sam Riley, Brenton Thwaites, Kenneth Cranham, Isobelle Molloy, Michael
Higgins. Duração: 97 min.
Ligeiramente
diferente de outras adaptações de contos de fadas, Malévola tenta fazer uma repaginação completa do famoso clássico A Bela Adormecida, criando uma
protagonista complexa que passeia entre o vilanesco e o heroísmo para chegar
aos seus objetivos – seja defender suas terras ou um ato vingativo. Assim, como
já se tornou comum nesse ano cinematográfico, os homens voltam a ser os
verdadeiros vilões da história, com sua ganância e ambição. É uma pena,
portanto, que tal personagem seja tão desperdiçada por um roteiro que se
orgulha de um clima infantil raso e um diretor que procura esconder suas
limitações em sequências de ação indecifráveis.
Escrito
por Linda Woolverton, baseado no roteiro de A
Bela Adormecida e das histórias La
Belle au bois dermant e Little Briar
Rose, o filme acompanha Malévola (Jolie), que defende o reino dos Moors.
Como a fada mais alta e mais bela, é seu dever manter o reino dos humanos
afastado da floresta, mas a garota acaba se interessando por um dos seus “inimigos”,
o garoto Stefan. Porém, o rapaz é vítima da obsessão pelo trono e a abandona
para conquistar o reino dos humanos; não sem antes arrancar as asas da fada,
responsáveis por sua força, o que a transforma em uma mulher vingativa e que
amaldiçoa a filha de Stefan para dar o troco.
Apesar
de superficialmente pretensioso na abordagem, o diretor nunca esconde o seu
desejo de entreter o público com gracinhas a todo o momento ou através de seus
ares juvenis – com isto, a adolescente Malévola afirmando espantada que alguém fora
rude ou inúmeros suspiros aqui e ali nunca são gratuitos. O próprio roubo do
garoto quando os dois se conhecem, que tenta apontar sua ganância, é visto como
uma pequena travessura – o que cria uma preocupante dualidade na narrativa
sobre qual será o destino da história, algo mais maduro ou infantil. Mas isso
está longe de oferecer qualquer desempenho dramático, tendo em vista as
frustradas tentativas de Stromberg em inserir uma camada surreal que não
funciona ou nas atuações apavorantes dos garotos. Do mesmo modo, analise a
forma amadora como o poder do ferro sobre as fadas é entregue ou como o roteiro
se comporta ao explicar cada passo (um personagem esclarecendo que a floresta é
um lugar “(...) onde ninguém se atreve a
entrar por medo das criaturas mágicas” é hilário).
Além
do mais, é surpreendente que Angelina Jolie não tenha caído na gargalhada ao
fazer expressões patéticas no primeiro ato em seus voos, lutas ou frases de
efeito, como: “Você não é rei para mim!”.
Ao mesmo tempo, a desconcertante direção tem momentos genuinamente engraçados,
embora involuntários, quando insiste em dar closes a todo o momento para
visualizar alguma emoção. Sem contar as risadas vilanescas dos homens no campo
de batalha. Igualmente, Stromberg é da vertente de diretores que tentam
esconder suas limitações com sequências de ação incompreensíveis e suas
tentativas de tensão sempre saem pela culatra. É curioso como esperamos que uma
transformação de um cachorro em humano desencadeará num latido a qualquer
momento e, consequentemente, nossa risada.
Como
se não fosse o bastante, o diretor e Jolie acreditam que um cajado, caretas,
raios, fala pausada (os olhares para a câmera são impagáveis) e batons
vermelhos são o bastante para compreendermos a transformação de uma heroína
numa vilã. E é preciso aplaudir a sabedoria do rei, pois queimar tudo que pode
machucar sua filha e mandá-la para outro lugar é uma atitude brilhante. Por
outro lado, Elle Fanning consegue ser convincente (a forma como fica vermelha
ao ver o príncipe é ótima) e sua química com Angelina Jolie proporciona os
únicos bons momentos do filme: o encontro das duas na floresta é lindíssimo.
Tentando
soar inteligente no seu final, como se tudo fosse organicamente antecipado, Malévola é mais uma frustrada tentativa
de recriar clássicos, agora com perspectivas diferentes. Na constante tentativa
do gênero em causar surpresa, ela aparecerá quando realmente sair uma boa ideia
ou um bom filme.
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