3 de junho de 2014

Malévola

Maleficent, EUA/Inglaterra, 2014. Direção: Robert Stromberg. Roteiro: Linda Woolverton, baseado nas histórias La Belle au bois dormant e Little Briar Rose, além do roteiro de A Bela Adormecida. Elenco: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley, Lesley Manville, Imelda Staunton, Juno Temple, Sam Riley, Brenton Thwaites, Kenneth Cranham, Isobelle Molloy, Michael Higgins. Duração: 97 min.

Ligeiramente diferente de outras adaptações de contos de fadas, Malévola tenta fazer uma repaginação completa do famoso clássico A Bela Adormecida, criando uma protagonista complexa que passeia entre o vilanesco e o heroísmo para chegar aos seus objetivos – seja defender suas terras ou um ato vingativo. Assim, como já se tornou comum nesse ano cinematográfico, os homens voltam a ser os verdadeiros vilões da história, com sua ganância e ambição. É uma pena, portanto, que tal personagem seja tão desperdiçada por um roteiro que se orgulha de um clima infantil raso e um diretor que procura esconder suas limitações em sequências de ação indecifráveis.

Escrito por Linda Woolverton, baseado no roteiro de A Bela Adormecida e das histórias La Belle au bois dermant e Little Briar Rose, o filme acompanha Malévola (Jolie), que defende o reino dos Moors. Como a fada mais alta e mais bela, é seu dever manter o reino dos humanos afastado da floresta, mas a garota acaba se interessando por um dos seus “inimigos”, o garoto Stefan. Porém, o rapaz é vítima da obsessão pelo trono e a abandona para conquistar o reino dos humanos; não sem antes arrancar as asas da fada, responsáveis por sua força, o que a transforma em uma mulher vingativa e que amaldiçoa a filha de Stefan para dar o troco.

Apesar de superficialmente pretensioso na abordagem, o diretor nunca esconde o seu desejo de entreter o público com gracinhas a todo o momento ou através de seus ares juvenis – com isto, a adolescente Malévola afirmando espantada que alguém fora rude ou inúmeros suspiros aqui e ali nunca são gratuitos. O próprio roubo do garoto quando os dois se conhecem, que tenta apontar sua ganância, é visto como uma pequena travessura – o que cria uma preocupante dualidade na narrativa sobre qual será o destino da história, algo mais maduro ou infantil. Mas isso está longe de oferecer qualquer desempenho dramático, tendo em vista as frustradas tentativas de Stromberg em inserir uma camada surreal que não funciona ou nas atuações apavorantes dos garotos. Do mesmo modo, analise a forma amadora como o poder do ferro sobre as fadas é entregue ou como o roteiro se comporta ao explicar cada passo (um personagem esclarecendo que a floresta é um lugar “(...) onde ninguém se atreve a entrar por medo das criaturas mágicas” é hilário).

Além do mais, é surpreendente que Angelina Jolie não tenha caído na gargalhada ao fazer expressões patéticas no primeiro ato em seus voos, lutas ou frases de efeito, como: “Você não é rei para mim!”. Ao mesmo tempo, a desconcertante direção tem momentos genuinamente engraçados, embora involuntários, quando insiste em dar closes a todo o momento para visualizar alguma emoção. Sem contar as risadas vilanescas dos homens no campo de batalha. Igualmente, Stromberg é da vertente de diretores que tentam esconder suas limitações com sequências de ação incompreensíveis e suas tentativas de tensão sempre saem pela culatra. É curioso como esperamos que uma transformação de um cachorro em humano desencadeará num latido a qualquer momento e, consequentemente, nossa risada.

Como se não fosse o bastante, o diretor e Jolie acreditam que um cajado, caretas, raios, fala pausada (os olhares para a câmera são impagáveis) e batons vermelhos são o bastante para compreendermos a transformação de uma heroína numa vilã. E é preciso aplaudir a sabedoria do rei, pois queimar tudo que pode machucar sua filha e mandá-la para outro lugar é uma atitude brilhante. Por outro lado, Elle Fanning consegue ser convincente (a forma como fica vermelha ao ver o príncipe é ótima) e sua química com Angelina Jolie proporciona os únicos bons momentos do filme: o encontro das duas na floresta é lindíssimo.

Tentando soar inteligente no seu final, como se tudo fosse organicamente antecipado, Malévola é mais uma frustrada tentativa de recriar clássicos, agora com perspectivas diferentes. Na constante tentativa do gênero em causar surpresa, ela aparecerá quando realmente sair uma boa ideia ou um bom filme. 

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