The Fault in Our Stars, EUA, 2014. Direção: Josh Boone. Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber, baseado no livro de John Green. Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff, Laura Dern, Sam Trammell, Lotte Verbeek, Willem Dafoe. Duração: 125 min.
É interessante observar como os filmes indies americanos andam investindo numa abordagem reflexiva sobre a existência. O desejo juvenil da eternidade, de ter algum significado em um mundo difuso ou ser, numa linguagem mais brega, infinito. A personagem Hazel Grace, assim como o protagonista do bobinho As Vantagens de Ser Invisível, contempla a mesma expectativa: ambos são manchados por algo que atrapalhou suas respectivas juventudes e tentam diagnosticar o efeito em suas vidas – claro que a de Hazel é muito mais grave, afinal, ela tem como empecilho uma doença letal. É complicado, porém, entender as intenções de Boone e do roteiro de Neustadter e Weber ao intercalar o drama prosaico com uma pretensão açucarada e espirituosa.
Desta forma, a comparação com o (bom) filme 50%, por exemplo, torna-se lógica por combinar o sarcasmo com uma doença que procuramos nunca brincar. A jovem protagonista deixa clara a sua visão desde o princípio: “está é a verdade – sou uma bomba relógio prestes a explodir e atingir todos a minha volta. Gosto das histórias românticas como qualquer outra garota, mas a realidade é bem diferente!”. Assim, Hazel Grace surge como uma protagonista interessante, pois tem plena consciência de sua doença, seu destino e a dependência dos seus pais com sua existência. “Pior que ser uma garota com câncer, é ser mãe de uma garota com câncer”. Shailene Woodley é competente, aliás, por justamente conseguir suavizar o seu drama com o seu sarcasmo e rispidez reprimidos. Além disso, a jovem é genuína no seu encantamento pelo personagem de Ansel Elgort, explorando muitíssimo bem os trejeitos de uma adolescente apaixonada: a troca de olhares, a sua respiração mais afetada, as risadas, o movimento com o dedo, entre outros. Observe a maneira (cadenciada) com que ela pede desculpas ao público por sua condição – é comovente.
Por outro lado, os esforços da atriz para dar o tom certo à história são ofuscados pela estrutura narrativa que Boone pensa ser ideal: os offs intercalados com a história, a apresentação repentina de todos os personagens ou o procedimento das doenças na vida dos garotos (a cena da revelação de Augustus é patética) são exemplos. Da mesma forma, a insistência do diretor em forçar lágrimas no espectador é frustrada por sequências pouco inspiradas, como a terrível cena em que, depois de um primeiro beijo trocado, os protagonistas são aplaudidos por uma pequena plateia. Todavia, Boone possui sua parcela de acertos, como o uso da família da protagonista: se a mãe é a parte mais dependente e influenciadora na vida de Hazel, o pai surge justamente como a âncora da mãe – note que em períodos de fragilidade, o personagem de Trammell está sempre com a mão sobre o ombro de Frannie ou é ele quem fala com a protagonista quando a mãe não sabe mais o que fazer. Sem deixar de contar um ou outro plano que adquire um símbolo pouco mais atraente, como a constante presença das estrelas na vida dos protagonistas (o melhor momento é o mundo dela virando de cabeça para baixo no quarto durante um colapso) ou Hazel olhando triste para um playground – como se observasse uma infância que nunca teve.
Uma pena que Ansel Elgort não seja um coadjuvante convincente: freando ainda mais qualquer possibilidade de embarcar no romance dos dois. Elgort acha que encarar por horas alguém, olhar para o nada e dar sorrisinhos marotos com o canto da boca são o suficiente para dar atitude ao garoto, além de se achar bastante espertinho no tratamento que dá ao cigarro. E se Nat Wolff é simpático como o instável, mas amável, Isaac (a cena no pré-funeral é ótima), Dafoe sugere uma espécie de Salinger para seu personagem, afastando-se completamente do mundo, tornando-se amargurado, irreconhecível, aparentemente fracassado, arrogante e opressivo – como aponta o tratamento que dá aos seus fãs e o aspecto miserável de suas vestimentas (uma calça de pijama e um uísque na mão).
Tentando resgatar a essência adolescente, onde relações complicadas aparentam ser relações impossíveis (a homenagem ao seriado televisivo de Joss Whedon, Buffy, é pertinente por lembrar o morto-vivo com alma), A Culpa é das Estrelas é um drama indie bobinho – travestido de algo pretensioso – que só se sustenta por uma adorável protagonista.
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