De certa forma, como apontado em seu novo longa-metragem, Mike Flanagan já criou um tipo de assinatura: criar um vínculo com seu público através de situações dramáticas vividas por seus personagens, que são cobertas pelo sobrenatural. Não que seja uma coisa nova, mas trabalhada de forma eficiente, a situação pode render momentos tão sublimes como os mais saudosos da RKO (produtora americana de grande prestígio nos anos 40), quando o tormento psicológico era muito mais imperativo que o susto final. E é uma pena que, por mais aventureiro que o diretor seja em construir seus thrillers explorando essa faceta, as suas narrativas nunca cheguem ao resultado ideal pretendido, frustrando muito mais, justamente, pela atmosfera pretensiosa.
Portanto, assim como o seu filme anterior, Absentia, Flanagan se move pelo princípio realista dos nossos temores. Nossas incertezas e medos são facilmente explicados, ainda que pareçam assustadores para a completa compreensão. Tim e Kaylie, sob esta ótica, são personagens traumatizados pela morte inexplicada dos pais. Quando o jovem garoto volta para a casa, após sair de uma instituição psiquiátrica, ele passa a ter certeza de que o motivo da tragédia que assolou a família é um espelho. Acompanhado de sua irmã, Tim tenta provar que o crime que vitimou sua mãe seria provocado por algo sobrenatural. A montagem do próprio Flanagan, nesta perspectiva, tenta arquitetar uma forma que deixe sua atmosfera mais intrigante pelo paralelo entre presente/passado, mas isso acaba sendo mortal para o ritmo de sua realidade.
Além do mais, caso o cineasta conseguisse administrar o contraponto do sobrenatural e do drama, o clímax acabaria sendo muito mais impressionante do que a decorrência final. É uma atmosfera típica de diretores como Pascal Laugier (o do Homem das Sombras, não o de Martyrs), e que carece da mesma sensibilidade.
*Crítica concebida originalmente para o Diário Catarinense
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