24 de maio de 2011

Se Beber Não Case 2 (EUA, 2011)

"A segunda vez é inesquecível?"
“Aconteceu outra vez” é a frase que dá início ao primeiro ato da seqüência do excelente “Se Beber Não Case” – filme do igualmente excelente Todd Phillips realizado em 2009. A frase representa toda uma conjuntura narrativa que dá o passo para esse segundo longa-metragem com os personagens, as situações absurdas, a ressaca, as conseqüências e principalmente a mesma fórmula sendo mantida pelo simples “aconteceu mais uma vez”. Assim como o sucesso de Duro de Matar, em que víamos um policial aposentado em um ambiente de intrigas, terrorismo e em seu segundo longa o vemos na mesma situação limitando-se a falar “como isso pode estar acontecendo com o mesmo cara duas vezes”. Esse é o grande segredo de fórmulas, o espectador sabe que está ali para ver um filme caça-níquel, que teremos uma grande previsibilidade, mas ainda assim rimos e nos divertimos com o próprio fato do protagonista brincar com isso. Qual seria o segredo de Duro de Matar 2? Timing. O filme tinha ritmo. Não era de grande ousadia, mas mantinha o nível do primeiro. Esse é o maior ato falho da continuação de “Se beber não case”: a previsibilidade, mas, infelizmente, com uma grande falta de ritmo, surpresa e ousadia.



Escrito por Scot Armstrong, Craig Mazin e Todd Phillips, que substituem os roteiristas do primeiro filme Jon Lucas e Scott Moore, neste segundo filme Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms), Alan (Zach Galifianakis) e Doug (Justin Bartha) viajam para a exótica Tailândia para o casamento de Stu. Após a despedida de solteiro em Las Vegas, Stu opta por um seguro e sossegado café da manhã para a festa de pré-casamento. No entanto, as coisas nem sempre saem como planejado e ocasiona em mais uma noite completamente “esquecida” pelos personagens.


Contando com uma competente fotografia de Lawrence Sher (do brilhante “Hora de Voltar”) e que nos apresenta o novo cenário em que os personagens passarão o segundo filme, somos deparados com a mesma situação do primeiro filme já no primeiro plano: com a mesma ligação e o aspecto em que os personagens se encontram também. Phil surge com uma camiseta mais aberta mostrando o abusivo calor e de primeiro momento pensamos que voltamos ao deserto de nevada do primeiro filme, algo que é facilmente esquecido quando vemos a bela paisagem que Sher retrata ao mostrar os protagonistas chegando à Tailândia.


Igualmente interessante em transmitir as particularidades dos locais freqüentados no longa-metragem é a direção de arte de Desma Murphy e Philip Toolin quando, por exemplo, o quarto de hotel em que Phil acorda ao som de Johnny Cash está virado do avesso com uma cama de casal e um beliche; com os personagens dormindo no chão ou no banheiro e com um único ventilador ao redor dos personagens – mostrando o mundo em que os personagens se meteram e a devassidão daquele ambiente. Enquanto isso, o ambiente vivido pelas esposas e por Doug é sempre bem iluminado e com um branco que dá um aspecto límpido ao ambiente que se encontram (algo que a fotografia de Sher é competente em retratar).


Apesar de ser competente nos aspectos técnicos (vale ressaltar lugares que os personagens passam depois da ressaca e nos deparamos com ambientes depredados), a obra é bastante prejudicada pela falta de ritmo da montagem de Debra Neil-Fisher e do timing das piadas, geralmente os melhores momentos do filme contam com o talento de Galifianakis e o carisma dos conhecidos personagens. Algumas piadas surgem desnecessárias e exageradas. Um exemplo é quando Alan é apresentado a Teddy e a primeira referência de um médico novo e genial é Doggie Hower. A piada já nasce completamente morta e igualmente patética a tentativa de criar algum ciúme de Alan pelo novo integrante da turma. Os olhares de Alan para o jovem são lamentáveis.


Em contrapartida, a cena do jantar que começa exagerada e estereotipada (muito pela família da noiva de Stu) é rapidamente abafada pelo hilário discurso de Alan em que faz referencia ao primeiro filme, agora sim, com um timing excelente. Igualmente interessante é o fato de os personagens terem lembranças do acontecimento de Las Vegas e começarem a procurar a pessoa perdida em lugares incomuns, mas que apareciam no primeiro filme. Algo como “olhe para nós, aprendemos com nossos próprios erros”.


A direção de Todd Philips não oferece nenhum momento inspirador, mas é competente ao retratar as conseqüências das ações dos personagens e os ambientes em que acabam parando. Um belo plano de Philips é na cena do casamento em que o diretor faz um belo trabalho de campo/contracampo e mostra a lancha parada na terra ao lado do casamento de Stu. O diretor ainda não se limita e coloca cenas que poderiam ser consideradas mais vulgares e apelativas em tela, além de fotos nos créditos finais que também são funcionais e hilárias.


Ainda que siga uma fórmula de filme caça-níquel e pré-moldado, Se Beber Não Case 2 tem uma ou outra particularidade interessante que apesar de não ser inovadora ou surpreendente funciona como no primeiro filme. Ainda que falte ousadia para os realizadores e o tom surpreendente que o primeiro filme tinha, a continuação não deixa de ser uma boa comédia no meio de tantas atrocidades lançadas neste ano e quando um ou outro personagem pergunta “dá para acreditar que isso está acontecendo mais uma vez?”, esta é a chave para gostar ou não de um filme previsível e que segue uma fórmula de sucesso deixada pelo antecessor – a pergunta é: você consegue acreditar?

(3 estrelas em 5)

13 de maio de 2011

Erreurs et plus d'erreurs ou Divagando sobre Cannes – 3ª parte

Crise católica, do Papa!!
E Cannes continua. As críticas de “Precisamos falar sobre o Kevin” também. A maioria exaltando o filme e agraciando ainda mais a performance de Tilda Swinton. "Se havia dúvidas de que Swinton é uma das maiores atrizes vivas, em KEVIN ela prova que talvez seja a maior”, disse James Rocchi, da Indiewire. François Aubel foi além e disse que Swinton já é favorita ao Prêmio de melhor atriz. A competição vai passando e os críticos, presentes no festival, cada vez mais hiperbólicos. Depois do choro por “Restless” de Van Sant, foi à vez do novo filme de Kim Ki-duk, na mostra Un Certain Regard, provacar êxtase na platéia e ser muito aplaudido no final da sessão. Os comentários são ótimos. A cena final que Merten descreve é de uma unicidade marcante e quero ver nas telas em breve. Gosto muito do cinema de Kim Ki-duk e aprecio demais o filme “A Casa Vazia”, portanto, só espero coisas positivas de “Arirang”.



Em Un Certain Regard foi também apresentado oficialmente o longa-metragem brasileiro “Trabalhar Cansa” de Marco Dutra e Juliana Rojas. O filme parece ser uma espécie de suspense pertinente. Estabelece críticas sociais sobre desemprego e flerta com um ambiente aterrorizante. No mínimo curioso, mas não foi bem aceito por boa parte da critica. Os críticos brasileiros foram os mais entusiasmados com o projeto. Merten chegou a dizer que o filme “vai dar o que falar no sul do Equador”. O filme é com o ator Marat Descartes. Admiro muito o trabalho dele em "Os inquilinos" do Sergio Bianchi. Aliás, considero o filme brilhante, olha só, também na crítica social. Não vi nem um dos curtas de Dutra e Rojas, mas estou curioso.


Na competição oficial tivemos o francês "Polisse" de Maïwenn. Como havia falado aqui e aqui, mexer com ambientes caóticos e explorar os traumas e resoluções pessoais dos envolvidos nesse mundo é sinônimo de prêmios, mas não conseguia visualizar isso em “Polisse”. Parece que errei. O filme foi bem recebido. Muitos dizem que daria mais certo como seriado e que o filme não desperta muito interesse técnico, mas Merten achou impressionante e não foi só ele. Brad Brevet, da Rope of Silicon, disse que o filme é “comovente, trágico e emocionante”. Em contrapartida, Kevin Jagernauth, da Indiewire, achou que a diretora não compreendeu o que tinha em mãos e não estruturou a narrativa de forma adequada (menos é mais, diz ele!).


Mais um filme bem recebido no dia foi o novo filme de Moretti, “Habemus Papam”, muitos aplaudiram. Principalmente pela atuação de Michel Piccoli que interpreta o novo Papa. Não via o filme com curiosidade, havia falado disso em meu primeiro texto sobre Cannes. Agora vejo. Sempre gostei de Moretti, principalmente no maravilhoso “O Quarto do Filho”, mas não fiquei empolgado com a sinopse. Graças a Deus (trocadilho inevitável), estava errado! Sukhdev Sandhu, do Daily Telegraph, disse “Piccoli, de 85 anos, impregna em seu Papa um nível de dor, decepção e olhos tristes questionadores que engana”. Aliás, até os que não gostaram do filme acharam Piccoli brilhante. Fiquei animado, confesso.

Já foram três filmes da mostra oficial exibidos e criticados. “Polisse”, “Habemus Papam” e “Precisamos falar sobre o Kevin”. Dentre os três? Acho que Kevin ainda é favorito, por enquanto. Veremos mais reações no fim de semana, quando todos vão “descansar” e apresentar mais opiniões sobre os projetos. Também apresentaram para a crítica, “Piratas do Caribe 4”. Parece que não agradou. “Tedioso, desnecessário e longo demais”, muitos disseram. Outros falaram que “Sparow ainda conduz o filme com carisma e o apelo sexual de Penélope Cruz trará ainda mais publico para a franquia, mas até onde a franquia pode ir?”. Nunca fui fã de Piratas do Caribe, não nego. Gosto apenas do primeiro e com ressalvas. Gostei do trailer e sou um dos que torce pelo filme agradar. Só espero que não vire uma franquia como “Jogos Mortais”, etc. “Que acabe no tempo certo!”, assim como Cannes e nossa ansiedade.

Envy ou Divagando sobre Cannes – 2ª parte

"We Need to talk about Swinton"
Depois da ode ao esplendor parisiense que o filme de Allen proporcionou na abertura do Festival e passado o êxtase momentâneo, Cannes finalmente começou a competição oficial com o filme da escritora Julia Leigh “Sleeping Beauty”. Coloco escritora porque foi o que disseram por lá, nunca li nada dela. “Frio como a protagonista” (foi o que muitos disseram). Ainda assim, a performance de Emily Browning chamou muito a atenção por ter enfrentado cenas estranhamente humilhantes. Parece ser quase um consenso que o filme de Leigh (o primeiro longa dela) não foi sensacional, nem terrível. Apenas frio. Ou um tipo de sinônimo para filme Cult, disse um. Realmente parece que o filme não se priva de sua natureza estranha para agradar o público e se mantém angustiante durante toda a narrativa. Acho um acerto da diretora, mas pago pra ver. Gosto da beleza de Browning, odeio Sucker Punch. Mas não a culpo, sabotagem de roteiro é um caso difícil para qualquer um. Triste foi ver o G1 dando a chamada “Bruna Surfistinha macabra silencia Cannes”. Não apenas de mau gosto, mas bizarra. Deveria ser silenciada era a pessoa que escreveu isso. Lamentável!


Porém, tanto o filme de Julia quanto a atuação de Browning foram imediatamente esquecidas após a exibição do “devastador, brilhante e assustador” (apenas cito o que li) “Precisamos Falar sobre o Kevin”. Não que precisem saber, mas comecei a ler o livro hoje. É uma adaptação complicada para ser feita. Se Tilda Swinton realmente encarnou todas as nuances da personagem e sentimentos conflitantes descritos no livro será um trabalho realmente louvável e possivelmente “presenteado” com uma indicação ao Oscar. Sou realmente fã de Swinton. Uma atriz que investiu em caminho de águas contrárias, mas achou a cachoeira. Trabalhos sublimes, esse caso não deve ser diferente. Voltando aos comentários, o filme teve cabine para a imprensa nessa manhã, o crítico Anthony Breznican ficou assombrado ao final da sessão. Mike D’Angelo foi ainda mais adiante dizendo que “a primeira metade soa como o melhor filme jamais feito”. Já o crítico Jeff Wells (havia se derretido por Midnight in Paris) disse que o filme não envolve. Swinton está bem, mas o filme não o convenceu. Simples assim!


Quem abriu o festival Un Certain Regard foi o esperado “Restless” do cineasta Gus Van Sant. Li alguém que disse que Van Sant é gênio, mas só às vezes. Não poderia concordar mais. Gosto da fase antiga do diretor. Adoro Elefante. Sou fã mesmo. Acho a situação do filme bastante pertinente e a abordagem corajosa e inteligente. Acho que Elefante é o último grande Van Sant. Aqui sou obrigado a concordar com Merten, Van Sant virou fake. Calculadamente cult. Pauline Kael dizia “o público Cult usa os filmes de arte em grande parte do mesmo modo permissivo que o grande público usa o produto de Hollywood: encontrando satisfação sob a forma barata e fácil da exibição de sua sensibilidade e liberalismo”. São fantasias do público do cinema de arte (diz ela!). Concordo. Sempre quis escrever sobre essas diferenciações de Cult, espectador médio e pseudo-cults. Acho uma completa bobagem. Desculpas que arranjaram para um detestar o outro. Os jovens adolescentes que não assistem outros tipos de filmes, que fuja do estereótipo blockbuster, xingam os críticos e cults por não gostarem do novo filme da franquia “Jogos Mortais”; os cults dizem que qualquer tipo de trabalho indie é complexo, profundo e feito sob medida para inteligentes. Os dois lados da moeda estão errados. Sou um tipo diferente, amo o cinema. Em todas as proporções que ele tem para oferecer. Gosto do Van Sant em seus primeiros longas-metragens (Garotos de Programa, Um Sonho Sem Limites, Gênio Indomável), não gosto do símbolo que se tornou. Mas estou divagando sobre um assunto que não cabe nesse Post. Retomo outro dia!


Iria embora sem me despedir adequadamente. Adequadamente, no momento, é com os comentários acerca do novo filme de Gus Van Sant. Alguns choraram na exibição do filme, "Restless", mas Merten chamou o filme de "Hollywood às avessas". Mais uma vez! Simon Gallagher disse que "Restless" é tão emocionante quanto "Blue Valentine". O filme mais "sereno" de Van Sant. Aliás, muitos disseram isso. O filme do Van Sant é praticamente uma história de amor, mórbida, mas uma “love story”. A Varierty disse que é o filme mais acessível do diretor. Hollywood Reporter achou uma versão Indie do próprio filme “Love Story”. Andrew Pulver, “aquele do The Guardian”, foi o mais amargo com o filme. Disse que o único tratamento do filme era uma “transfusão de carisma” (palavras dele, não minhas!).


Ainda ansioso pelas estréias dos Dardenne, Von Trier e Malick no Festival. Falando nisso, consegui a trilha sonora do filme “A Árvore da Vida”, ontem à noite. Espetacular. A trilha de Desplat ainda entrega um ponto chave do que veremos no filme e que não me atreverei a contar aqui. Dois dias de Cannes e já estou querendo que o festival não acabe mais. Deve ser o sentimento de muitos por lá. Enquanto nos ansiamos por aqui e esperamos cada comentário dos raros de lá, nos sentimos invejosos natos. Ao menos, me sinto assim. Volto mais tarde com os comentários dos próximos filmes que estão começando a afetar minhas suposições para a corrida do Oscar de 2012. O Red Carpet está movimentadíssimo.

11 de maio de 2011

Divagando sobre Cannes – 1ª parte

"Midnight in Paris" ou "aquele filme com a Carla Bruni" abriu o Festival
Em meio a aplausos e à magnificência parisiense iniciou-se nessa quarta-feira (11), um dos maiores festivais de cinema do planeta, Cannes. O filme que abriu o Festival foi o novo de Woody Allen “Midnight in Paris” que já começou a ter seus primeiros comentários positivos e outros nem tanto. Um dos principais críticos brasileiros, Luiz Carlos Merten achou que o filme ganha sobrevida em momentos, as piadas de Allen são excelentes e Marion Cotillard dá show (para variar, diz ele!). Isso sem Merten ser fã da atual fase de Allen – o que entrou em foco em outros comentários a cerca do projeto. A crítica do Daily Telegraph, por exemplo, disse que o novo filme do diretor não é tão terrível quanto os outros mais recentes. Em contrapartida, a crítica Stephanie Zacharek do Movieline rasgou-se em elogios ao descrever “Midnight in Paris” como o melhor filme do Woody Allen nos últimos 10 anos ou talvez 20. É esperar para ver, sou fã demais da filmografia atual de Allen! Contemplo “Match Point” e “Tudo Pode dar Certo” como filmes igualmente poderosos aos melhores do diretor.

Recebendo o prêmio horário do Festival, o cineasta italiano Bernardo Bertolucci está sendo lembrado na mídia muito pelo seu “mais conhecido” O Último Tango em Paris ou o “Filme do Marlon Brando” – se preferirem chamar assim. Bertolucci é único e seu cinema foi muitas vezes criticado sem fundamento pelos mesmos senhores (claro, não todos) que o aplaudiram nessa manhã. Pessoalmente, adoro o cinema de Bertolucci. Acho perspicaz, muitas vezes inconclusivo, sofisticado e controverso – o próprio “Le Dernier Tango à Paris” foi considerado sujo e erótico na época de seu lançamento. Nada mais justo era que De Niro entregasse na mão de seu mestre o prêmio honorário. Quem não se lembra do filme maravilhoso “ 1900” ? Um acontecimento no cinema italiano! Épico! Entre outros adjetivos que teimam em não brotar em minha mente nesse momento.

Bertolucci ainda falou que não se sentia capaz de fazer mais filmes nos tempos de hoje e que Avatar assombrou o diretor por tamanho desempenho. Bobagem! Avatar é um grande filme, claro!, mas coloque-o em uma mesma votação de críticos (entendidos, obviamente) e terá o resultado que Os sonhadores é muito maior que Avatar. Ou apenas estou divagando sobre uma justiça inexistente no mundo atual. Mas temos que concordar... Os Sonhadores é uma obra-prima e não pode ser comparado com Avatar, principalmente em narrativa, por mais que o outro seja mais importante em apresentar de forma mais sofisticada um novo tipo de tecnologia. Claro, voltam àqueles mesmos e corretos argumentos: os dois filmes têm abordagens diferentes e não podem ser comparados. Não me culpe, Bertolucci fez a “cagada” primeiro!


A espera mais aguardada, o filme “A Árvore da Vida”, ficou para segunda-feira (16). Todos alucinados para ler os primeiros reviews que sairão dos lápis, canetas e páginas do Word de raros. Invejo cada um desses! E me vejo obrigado a apenas embarcar nos escritos, axiomas ou sofismas de alguns. O que talvez seja um tiro no pé e faça meu texto perder total sentido. Acho que estou divagando mais uma vez. Enfim, todos bem vindos a Cannes; a temporada de premiações começou!

10 de maio de 2011

Bem vindos a Cannes


Bienvenue à Cannes!

 Criado em 1946, o Festival de Cannes nunca foi um grande parâmetro para fazermos nossas suposições do que veremos no Oscar, mesmo assim é uma premiação excelente para começarmos a ler as primeiras opiniões sobre filmes com possibilidades de indicação. Nesse ano não será diferente!


O festival que terá início na quarta-feira (11), na Riviera Francesa, contará com filmes importantíssimos e possíveis indicados ao Oscar 2012, como: “A Árvore da Vida” de Terrence Malick, "Precisamos Falar Sobre o Kevin" de Lynne Ramsay, "Restless" do diretor Gus Van Sant, "This Must Be the Place" de Paolo Sorrentino, entre outros filmes que despontam como grandes promessas para o Oscar 2012.


Ainda que outros filmes com imensas possibilidades de estar no Oscar não estejam na lista do festival, as possibilidades dos indicados ao maior prêmio do Cinema Mundial começarem a ganhar seus primeiros comentários é grande.


Aqui vão alguns dos filmes esperados e meus comentários:


• Em competição oficial:



- "La Piel que Habito" de Pedro Almodovar (Espanha): O filme de Almodóvar parece ser corajoso na proposta e é um caminho que o diretor nunca percorreu anteriormente. Não acredito nas chances do filme para concorrer ao Oscar, mas acho que dá para esperar mais um trabalho competente do diretor espanhol.

3 de maio de 2011

Thor (EUA, 2011)


Homem de Ferro, Hulk, Homem-Aranha, X-men, Demolidor, Capitão América, Quarteto Fantástico e agora Thor, a finidade de filmes produzidos pela Marvel Estúdios ou que tenha personagens provenientes da companhia estão cada vez mais presentes na tela. A história está cada vez mais realista, os personagens inseridos dentro de um contexto social e a magia ou o surrealismo de seu universo está sendo deixado de lado para trazer um mundo mais palpável para o espectador ou até mesmo para os críticos. Portanto, não é surpresa nenhuma que ao indagado sobre seu universo, o Deus do Trovão é sucinto em dizer: “Vocês chamavam de magia, depois de ciência, venho de um lugar em que os dois são o mesmo”. Esse único diálogo já trás a Marvel de volta para seu mundo, não privando-se de seu universo para apresentar algo mais próximo da realidade ou mais “apresentável” para o espectador, mas situando o espectador naquele mundo e o mais importante: fazer um filme para fãs.


Escrito por Ashley Miller e Don Payne (os mesmos roteiristas do filme Agente Teen) e baseado nos personagens criados por Jack Kirby, Stan Lee e Larry Lieber, o filme conta a história de Thor (Chris Hemsworth) que está prestes a receber o comando de Asgard das mãos de seu pai Odin (Anthony Hopkins) quando forças inimigas quebram um acordo de paz. Disposto a se vingar, Thor desobedece às ordens do rei e dá início a uma nova guerra entre os reinos. Enfurecido com a atitude do filho e herdeiro, Odin retira seus poderes e o expulsa para a Terra. Lá, Thor acaba conhecendo a cientista Jane Foster (Ai, ai, Natalie Portman), enquanto seu irmão Loki (Tom Hiddleston) elabora um plano para assumir o poder.


Explorando seus efeitos especiais e a construção dos cenários desde o início da narrativa, Kenneth Branagh é admirável ao retratar Asgard (a direção de Arte é ótima) sempre em planos horizontais perfeitos e ao dar ritmo nas passagens entre mundos. Além disso, o diretor já cria excelentes cenas de batalhas em sua seqüência inicial quando Thor vai para Jotunheim em sua vingança particular e mostra todas as suas vocações como um Deus guerreiro. A seqüência é tão impressionante que lembra batalhas de videogame em que Thor surge batendo seu martelo no chão e massacrando seus adversários ou girando seu Mjolnir fazendo uma espécie de boliche com Gigantes de Gelo. E nunca pensei que formaria uma frase assim!


Branagh é igualmente competente ao retratar a mitologia do herói ou fazer planos contra-plongeé com qualidade quando mostra o seu herói olhando para cima e clamando para que o pai o perdoe ou o deixe voltar. Outro aspecto interessante da direção de Branagh é o recurso do slow motion usado de forma pontual e elegante, ao demonstrar cenas de batalhas de forma bastante orgânica dentro da narrativa. Além da trilha sonora de Patrick Doyle, que consegue transmitir cada emoção ou acontecimento que passa dentro da trama de forma eficiente.


Criando Thor com uma destreza e caráter marcante, Chris Hemsworth compõe um dos melhores super-heróis que já passaram nas telas do cinema. O ator consegue demonstrar, além de beleza ou imponência, sensibilidade e bondade em seu olhar e faz uma notável evolução de seu personagem desde o começo do primeiro ato – em que surge sempre sorridente, arrogante e merecedor de tudo – até o momento em que começa a formar suas particularidades aqui na Terra, nos fazendo acreditar em sua evolução. Seu olhar triste quando se vê totalmente vulnerável sem seus poderes e sem poder voltar ao reino de qual faz parte ou quando ouve o relato de seu irmão sobre o que ocorreu em Asgard, sua incompreensão ao não poder retirar o martelo de um rochedo ou sua raiva quando descobre toda a verdade de Asgard - todos os gestos e expressões de Hemsworth trazem um poder interessante para a trama.


Igualmente competente na construção de seu personagem está Tom Hiddleston que domina parte da trama ao mostrar todas as artimanhas que seu personagem possui, o que faz para chegar ao poder e o mais importante: nunca é caricato. Hiddleston orquestra os acontecimentos de seu mundo e faz justamente àquilo que o roteiro diz, ele é um talentoso mentiroso. Já Anthony Hopkins surge sempre sábio e como alguém que se deve confiar.


Apesar de não ter uma química notória com o protagonista principal e não nos fazer acreditar em um amor entre os dois (além da atração física), Natalie Portman consegue também criar uma personagem interessante ao retratar uma cientista que apesar de acreditar em “recursos divinos” é cética o bastante ao querer recuperar todo seu material de pesquisa para provar a passagem de mundos que a trama instiga. Ao passo que os personagens de Stellan Skarsgard e Kat Dennings não acrescentam em nada na trama.


Thor ainda é de uma grande qualidade técnica. A fotografia de Haris Zambarloukos é fascinante ao retratar os três ambientes em que a história se passa de maneira interessante. Se a Terra, que tem como local o Novo México, exibe uma fotografia que demonstra o clima de deserto e “western”; em Asgard, ela é feita salientando as cores, o dourado, e representando um lugar com muito mais vida. Ao passo que Jotunheim aparece com a ausência de, em um clima muito mais frio e pragmático.


Encerrando com um ótimo 3º ato e com créditos finais que dão alusão ao que iremos ter a seguir, Thor segue o caminho pelo qual a Marvel se propôs a fazer nesses filmes de apresentação de seus heróis ao espectador para a realização de um filme sem precedentes: Os Vingadores. Se já tivemos um mundo em que a mutação e o preconceito eram explorados, um mundo em que um escalador de paredes era um símbolo de heroísmo ou um mundo em que empresários bilionários e irresponsáveis podem ser símbolos de justiça e paz, aqui fomos apresentados ao mundo dos Deuses. E mesmo que o roteiro de Miller e Payne tente sabotar o filme em alguns momentos, como as insistentes piadas modernas ou as inúmeras cenas computadorizadas, Thor consegue sempre manter um ritmo preciso e eficiente. E, finalmente, consegue trazer um filme da Marvel em um patamar altíssimo, simplesmente por respeitar seus fãs com auto-referências sempre bem colocadas de seu universo. Thor acaba originando um dos melhores filmes de super-heróis provenientes da companhia e isso já é muito, até para um Deus!


(4 estrelas em 5)