15 de abril de 2015

Noites Brancas no Píer

Nuits blanches sur la jetée, França, 2014. Direção: Paul Vecchiali. Roteiro: Paul Vecchiali, adaptado da obra de Dostoievski. Elenco: Astrid Adverbe, Pascal Cervo. Duração: 94 min.
 
Já na primeira afirmação que o personagem do (fraquíssimo) Pascal Cervo faz em Noites Brancas no Píer é fácil o espectador captar que se trata de algo escrito por Dostoievski; a autorregeneração, a autocrítica existencial, o que há de melhor na obra do russo está nesse tipo de conflito. É terrível, portanto, que, no filme francês, este tipo de sátira humanista e reflexiva, aqui representada na aproximação de duas pessoas frustradas, morra por uma direção sentimentalmente esquizofrênica.
Baseado no livro de Fiodor Dostoiévski, o roteiro gira em torno de Fiodor e a personagem de Adverbe, os quais se encontram uma noite, após ela ser abordada na rua e ser salva por aquele. A partir daí, os dois viram amigos e começam a contar suas respectivas histórias, criando sentimentos confusos um pelo outro.
Expondo uma mise-en-scène quase que completamente inspirada em uma peça teatral, onde os personagens vem e vão para conferir uma dose dramática excessiva para seus monólogos sobre vida, morte e relacionamentos, Vecchiali prefere os diálogos da obra ao invés de apreciar a estética envolvida. Assim, quando muito, o diretor insiste em números de dança que mais servem como intermissão do que qualquer outra coisa.
Limitado, ainda, pelos atores escolhidos, já que Pascal não consegue ser verossímil e Astrid é sabotada pelo companheiro, a essência dos sentimentos dos dois nunca fica claro na direção conferida por Vecchiali. E o próprio clímax, onde uma chamada atrapalha a felicidade de ambos, carece de sensibilidade; ou da frieza necessária, se esta fosse a intenção.
Deste modo, a aproximação de duas pessoas que necessitam um do outro acaba se transformando numa introspecção megalomaníaca sem imaginação.
 

7 de abril de 2015

Velozes & Furiosos 7


Furious 7, Japão/EUA, 2015. Direção: James Wan. Roteiro: Chris Morgan, com os personagens criados por Scott Thompson. Elenco: Vin Diesel, Paul Walker, Jason Statham, Michelle Rodriguez, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Ludacris, Dwayne Johnson, Lucas Black, Nathalie Emmanuel, Kurt Russell. Duração: 137 min.

Para embarcar na despretensiosa narrativa de Velozes e Furiosos você tem que antecipar que observará um mundo em que Vin Diesel é visto como um sábio detentor dos "costumes familiares", o serviço de inteligência dos EUA é extremamente incompetente e precisa de ajuda clandestina (e insana) para recuperar dispositivos que nunca deveriam sair de suas mãos, qualquer um pode invadir espaço aéreo americano e que, claro, carros saltam de paraquedas de aviões. E é incrível que, dentro dessa loucura narrativa, Velozes e Furiosos 7 consegue ser no mínimo eficiente ao disfarçar sua estupidez e conseguir encaminhar um desfecho empolgante para o "legado" de Paul Walker.
Iniciando com uma sequência inusitada, onde o vilão de Jason Statham projeta sua saída de um hospital, após um verdadeiro massacre, James Wan já brinca com suas possibilidades, ao acelerar a trama quando deseja e demonstrar dezenas de soldados no chão apenas por terem se metido no caminho de Shaw - e a cena em que ele pede para um dos policiais segurar uma granada é ótima. Desta forma, o cineasta já antecipa quem é que Toretto e sua família enfrentará no sétimo exemplar da franquia: um onipotente e onipresente vilão (até porque é incrível a maneira como ele consegue se deslocar entre Tóquio, Dubai e LA em questão de horas).
E para que isso seja possível, claro, ninguém poupa esforços para deixar escancarado a fragilidade do roteiro: basta observar Shaw aparecendo instantaneamente durante uma "batida" que era tida como impossível (é para supor que ele teve o mesmo pensamento dos protagonistas e utilizou um paraquedas?) ou Roman, que simplesmente aparece para salvar o dia, após seu destino ser uma incógnita. Assim, a experiência é divertida na mesma medida que soa grosseira: e closes sustentando que estamos num mundo de hip/hop, carros e mulheres bonitas (sempre "destacadas" pelos atributos físicos) se tornam intoleráveis. Além do mais, compreendendo a falta de noção para dirigir cenas de ação, Wan tenta se aprofundar mais no comportamento familiar, o que sempre foi tênue na franquia, mas que aqui funciona pontualmente. Principalmente no relacionamento entre Toretto e Brian, que rende o momento mais bonito de toda a franquia: na homenagem à Paul Walker.
Do mesmo modo, o diretor está familiarizado com fornecer tensão para cenários clichês, portanto, a sequência em que Brian tenta escapar de um ônibus à beira de um precipício é excelente, bem como as explosões que envolvem a figura de Shawn (a entrega de um pacote ou a armadilha no depósito são muito boas). Frenético, talvez seja a palavra mais adequada, as cenas mais insanas - como as do avião e do carro atravessando prédios - quase escondem os erros mais absurdos cometidos. Com sua falta de experiência, por exemplo, o malaio escolhe usufruir de inúmeros cortes para tentar tornar a ação indecifrável e não percebermos a falta de coreografia - algo que é a maior parte das vezes terrível.
Todavia, é difícil não simpatizar com a despretensão de uma franquia que abdicou de qualquer esforço dramático a partir do quinto longa-metragem. Dwayne Johnson afirmando que ele é a cavalaria, após uma personagem perguntar por reforço, é apenas uma prova de que Velozes e Furiosos se tornou aquilo que Os Mercenários sempre quis. E, neste caso, isso pode ser o bastante.