Não que
seja algo condenável, já que Villeneuve ganha os melhores momentos
de sua narrativa por aproveitar justamente a ambiguidade do
protagonista e criar nuances interessantes, mas acaba sendo bastante
pobre a dinâmica usada pelo cineasta para compartilhar as
frustrações da vida de Adam. Assim, com a câmera do canadense
passeando ao seu redor, a vida do personagem de Gyllenhaal
constitui-se no que mais ele despreza como professor: algo
padronizado. As sequências passadas nos primeiros atos, sob esta
ótica, acabam soando frustrantes por criarem uma fórmula para
desenvolver o papel de Adam no filme: cortes secos e cenas que
correspondem a alguma ação mundana – dormir, assistir a um filme
indicado pelo colega, sexo, trabalho. Deste modo, ao invés de propor
uma lógica competente, a montagem apenas prejudica uma narrativa que
tenta impor o seu melhor artifício: o psique humano.
E é nos
corredores estreitos, túneis, salas de aula (note que nunca temos a
real dimensão de seu tamanho, como se ela também fosse algo a ser
evitado) e ambientes que comprimem Adam que o longa-metragem torna-se
forte. Ao explorar que o mundo do personagem é uma sombra da
ganância e desilusão de uma sociedade autodestrutiva, Villeneuve
tenta indicar a imponência dos grandes arranha-céus a todo o
momento, inclusive, desafiando a atual lógica monetária
superficialmente, e denunciando ricaços fumando seus cigarros e
desfrutando de mulheres por prazer, após um dia estressante, num
ambiente nada confiável. Ao mesmo tempo, se o diretor volta a falar
sobre controle quando está nas mãos de Adam o destino de um homem
em visitar ou não o lugar que vemos no começo do filme, a sequência
(nada intrigante; como é possível?!) em que uma mulher solta uma
aranha apenas para prendê-la novamente sublinha mais uma vez o
deleite dos poderosos que acompanham aqueles segundos: uma pressuposição de liberdade que não existe.
Igualmente,
após o primeiro monólogo de Adam na universidade, é visível o
interesse em dualizar a tragédia versus a farsa (numa referência a
Marx – quem mais?!) na própria personalidade do protagonista. E,
embora nunca surja uma grande tensão em nenhum dos encontros,
parecendo-se mais como uma curiosidade, a perseguição literal a si
mesmo é um símbolo extremamente envolvente, quando começamos a ver
aonde nos leva a narrativa – e o encontro com a mãe, neste
aspecto, é o mais esclarecedor. Por outro lado, preocupando-se em
abraçar temas mais complexos, Villeneuve esquece de coisas mais
simples, como, por exemplo, explicar o luxo que um simples ator
figurante e professor possui. Não esquecendo da previsível e
precária cena de um acidente, que só fisga pelo paralelo criado com
uma notícia no rádio.
Ainda
assim, com acertos empolgantes na exposição
dos nossos insistentes erros (o clímax é ótimo, nesta
perspectiva), o maior problema de O Homem Duplicado é cair na
armadilha que ele próprio se esforça para delatar: o confortável
padrão. Uma fina ironia.
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