28 de fevereiro de 2014

Caçadores de Obras-Primas

The Monuments Men, EUA/Alemanha, 2014. Direção: George Clooney. Roteiro: George Clooney e Grant Heslov, baseado no livro de Robert M Eisel e Bret Witter. Elenco: George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Cate Blanchett, Jean Dujardin, Bob Balaban, Hugh Bonneville. Duração: 118 min.

Há um filme muito bom em Caçadores de Obras-Primas, nova obra do talentosíssimo George Clooney, mas que sofre demasiadamente por um problema significativo: a sua pressa. Não há profundidade em seus personagens, qualquer tentativa de emoção é sabotada pela montagem e o filme é classicista demais. Por outro lado, mais uma vez, a visão política pontual de Clooney e seu tato para a direção ajudam a erguer uma narrativa que parecia completamente perdida desde o seu primeiro ato - fazendo com que embora um filme falho, Caçadores de Obras-Primas seja bastante interessante.

Escrito por George Clooney e, seu parceiro habitual, Grant Heslov, a história acontece durante a segunda guerra mundial, quando, com o declínio de Hitler, especialistas que se autointitulam The Monuments Men se organizam para reencontrar obras de artes roubadas pelos nazistas durante a guerra. George Stout (Clooney) é um oficial americano que lidera a equipe formada por outras doze pessoas.

Tentando emular o clima de M.A.S.H., Clooney procura fazer algo que ainda não havia feito em sua carreira como diretor: experimentar. Há pouquíssimo do estilo alarmante de suas obras, ainda que esteja lá. O diretor prefere trocar o seu pensamento de vanguarda por uma estrutura hollywoodiana clássica – e basta observar a apresentação de cada personagem para verificar esse ponto de vista. Além disso, almejando um tom de comédia para a sua “aventura”, Clooney aposta sempre no timing de seus atores para criar piadas com a segunda guerra: logo, “por isso que não bombardearam Paris”, “o ditador favorito de todos”, “é torcer para que não matem Hitler” ou “Por que você pisou numa mina?”, só são situações engraçadas pela natureza cômica dos atores. Aliás, isto também afeta a estrutura da obra: porque os atores são conhecidos, mas os personagens, não. Falta profundidade, neste quesito. Do mesmo modo, a trilha sonora de Desplat busca também, explorando uma faceta mais antiga, incluindo assovios, destacar o clima descompromissado do filme, porém, sem muito sucesso. Pelo contrário, numa tentativa desastrada de simular John Williams em instantes, Desplat acaba aparecendo mais que deveria.

Por outro lado, se o senso de humor do filme funciona de vez em quando (o cuspe no copo, a piada com Michelangelo, o personagem de Dujardin oferecendo um cigarro para um cavalo), Clooney encontra substância nas cenas mais dramáticas, que é sua principal qualidade. O diretor expõe com talento, por exemplo, a divisão num bar entre mulheres e homens na década de 40 de forma sutil e interessante: somente deslocando o ângulo da câmera brevemente – as mulheres do lado esquerdo, os homens no direito. Da mesma forma, não só quadros de arte são vistos atrás da primeira reunião entre os dois fundadores dos Monuments Men, como a fusão entre a rua e a foto da Santa Ceia demonstra certeiramente o que veremos a seguir.

Ao mesmo tempo, a passagem por uma maquete, as cinzas da guerra quando observamos um Picasso sendo queimado e a tensão que ocorre durante um jantar com um ex-soldado alemão são excepcionais. E o mesmo se pode afirmar das cenas mais fortes de Clooney, quando este encontra a sua zona de conforto: o galpão com fragmentos das vidas de judeus, a extração de dente num açougue, crianças saudando Hitler, o ouro sendo encontrado por acaso (como sempre foi na história), os dentes de ouro localizados, uma criança atirando contra os oficiais, um “XX JU” visto numa parede de um apartamento, entre outros. Aos poucos, a comédia vai sendo reduzida, já que não há mais graça.

Todavia, é uma pena que as boas ideias e as cenas mais dramáticas sejam tão prejudicadas pela pressa. A cena em que um toca-discos reproduz Have Yourself a Merry Little Christmas num acampamento é uma das mais bonitas, mas menos intimistas do longa. Sem se esquecer de uma narração em off que dá as caras no final da narrativa sem grandes significados.

Caçadores de Obras-Primas não é uma obra brilhante, mas tampouco um fracasso de um grande diretor. É uma tentativa mal sucedida de Clooney em experimentar coisas novas, de percorrer novos caminhos e se permitir desvendar o que funciona e o que não funciona na visão política que possui. E é bom que tenha surgido agora, pois dificilmente o veremos errar novamente. 


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