Idem, Inglaterra/EUA/França, 2013. Direção: Stephen
Frears. Roteiro: Steve Coogan e Jeff Pope, baseado no livro de Martin Sixsmith.
Elenco: Judi Dench, Steve Coogan, Sophie Kennedy
Clark, Mare Winningham, Barbara Jefford, Peter Hermann, Sean Mahon, Cathy
Belton. Duração: 98
min.
De certa forma, Philomena é um filme muito semelhante a
sua protagonista: agradável, um pouco incoerente, possui a religião como pano
de fundo e carece de intenção. E é fácil imaginar o longa-metragem como algo
muito mais profundo do que realmente é, como a organização criminosa guiada por
freiras aparentemente ingênuas nos indica e o tráfico de bebês que ocorria inspecionado
pela igreja católica. Entretanto, é se movendo basicamente por situações
espirituosas sem qualquer vislumbre de dramaticidade que Frears retira o
potencial de sua obra. Não só na maneira como a personagem-título age com tudo
ao seu redor, como também nos flashbacks deslocadíssimos que aparecem pontualmente
na narrativa apenas para rechear uma história que poderia ser contada num
curta-metragem.
Porque Philomena não se
trata de como paróquias demonizaram suas fiéis por se renderem aos prazeres
mundanos como o sexo entre duas pessoas, e é desconcertante a obviedade de uma
maça mordida caída no exato momento em que ocorre o “pecado”; trata-se de uma
mãe que necessita reencontrar o filho, mas ao mesmo tempo não quer arriscar
perder sua fé no que a alimentou quando era uma moça. Ficando, portanto,
perfeitamente compreensível que Judi Dench não se arrisque numa construção mais
dúbia, pois sua personagem é unilateral em cada segundo (“Eu a perdoo!”). Pelo
contrário, a atriz é eficiente em não apresentar qualquer tipo de complexidade
moral à sua persona, criando um laço com seu espectador por seu ar quase
infantil com o sarcasmo e o que a cerca.
Já Steve Coogan é o
exato oposto da britânica. É cínico durante todo o percurso, mas não o impede
de refletir sobre suas próprias razões para isto ou o que o faz ser
demasiadamente cruel em determinadas situações – observe, por exemplo, a
maneira sorrateira como tenta confortar Philomena depois de ter comparado o
deus dela com terroristas. O ator consegue, ao mesmo tempo, soar como um
contraponto pertinente ao caso da protagonista – principalmente em suas divagações
sobre religião, vida e citações (o instante em que cita T. S. Elliot é
memorável) –, mas perde a força de sua atuação por não encontrar em sua
companheira de cena o que precisava para funcionar melhor: mínimas mudanças
comportamentais.
Frears nunca foge da
aparência “agradável” de seu filme, o que pode levar a admiração imediata de
muitos. Uma pena, pois se há uma coisa que a história que conhecemos não possui
é algo de agradável ou de simpático.
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