13 de fevereiro de 2014

Philomena

Idem, Inglaterra/EUA/França, 2013. Direção: Stephen Frears. Roteiro: Steve Coogan e Jeff Pope, baseado no livro de Martin Sixsmith. Elenco: Judi Dench, Steve Coogan, Sophie Kennedy Clark, Mare Winningham, Barbara Jefford, Peter Hermann, Sean Mahon, Cathy Belton. Duração: 98 min.

De certa forma, Philomena é um filme muito semelhante a sua protagonista: agradável, um pouco incoerente, possui a religião como pano de fundo e carece de intenção. E é fácil imaginar o longa-metragem como algo muito mais profundo do que realmente é, como a organização criminosa guiada por freiras aparentemente ingênuas nos indica e o tráfico de bebês que ocorria inspecionado pela igreja católica. Entretanto, é se movendo basicamente por situações espirituosas sem qualquer vislumbre de dramaticidade que Frears retira o potencial de sua obra. Não só na maneira como a personagem-título age com tudo ao seu redor, como também nos flashbacks deslocadíssimos que aparecem pontualmente na narrativa apenas para rechear uma história que poderia ser contada num curta-metragem.

Porque Philomena não se trata de como paróquias demonizaram suas fiéis por se renderem aos prazeres mundanos como o sexo entre duas pessoas, e é desconcertante a obviedade de uma maça mordida caída no exato momento em que ocorre o “pecado”; trata-se de uma mãe que necessita reencontrar o filho, mas ao mesmo tempo não quer arriscar perder sua fé no que a alimentou quando era uma moça. Ficando, portanto, perfeitamente compreensível que Judi Dench não se arrisque numa construção mais dúbia, pois sua personagem é unilateral em cada segundo (“Eu a perdoo!”). Pelo contrário, a atriz é eficiente em não apresentar qualquer tipo de complexidade moral à sua persona, criando um laço com seu espectador por seu ar quase infantil com o sarcasmo e o que a cerca.

Já Steve Coogan é o exato oposto da britânica. É cínico durante todo o percurso, mas não o impede de refletir sobre suas próprias razões para isto ou o que o faz ser demasiadamente cruel em determinadas situações – observe, por exemplo, a maneira sorrateira como tenta confortar Philomena depois de ter comparado o deus dela com terroristas. O ator consegue, ao mesmo tempo, soar como um contraponto pertinente ao caso da protagonista – principalmente em suas divagações sobre religião, vida e citações (o instante em que cita T. S. Elliot é memorável) –, mas perde a força de sua atuação por não encontrar em sua companheira de cena o que precisava para funcionar melhor: mínimas mudanças comportamentais.

Frears nunca foge da aparência “agradável” de seu filme, o que pode levar a admiração imediata de muitos. Uma pena, pois se há uma coisa que a história que conhecemos não possui é algo de agradável ou de simpático. 


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