Conhecido
por atmosferas caóticas e por estabelecer protagonistas tão
instigantes quanto difíceis – como o líder do IRA, Bobby Sands,
ou o viciado em sexo, Brandon –, 12
Anos de Escravidão
surge como um dos maiores desafios da carreira do promissor Steve
McQueen. Como não deixar que sua história se transforme em lugar
comum ou em um melodrama piegas?! Não é um caminho muito fácil, o
que a própria narrativa expõe em vários instantes:
especificamente, a mise-en-scène de uma briga entre Solomon e Elize é novelesca demais e até
mesmo as elipses breves, um abraço coletivo num reencontro e os
planos mais curtos das primeiras sequências escancaram uma falta de
autoconfiança. Todavia, McQueen não pretende ser sutil na sua
abordagem: e o momento em que os escravos e os índios se encontram
numa selva reflete bem essa posição. O início do longa-metragem já
nos indica os escravos em um plano frontal, que procura nos mostrar
não haver razão para esconder os podres da história. Exibe a
realidade em sua forma mais crua. As selvas para a comida nas
senzalas é outro belo exemplo. Ou o choro após o orgasmo, que
denuncia as condições para o prazer.
Embora
não seja sutil, 12
Anos de Escravidão
não é um filme explicativo, entretanto. É equilibrado. A força de
suas cenas nos banhos que apresentam as cicatrizes, a luta pela
sobrevivência que evidencia uma falta de lealdade, alguém se
calando por meio da tortura e a venda dos escravos são pontos
altíssimos da história. Os próprios diálogos acusam a abordagem
fria que o diretor se sente confortável: “O meu sentimento é do
tamanho de uma moeda”, “Logo esquecerá o filho”. Além disso,
McQueen explora diferentes pontos de vistas e facetas do período.
Não só o ponto de vista dos escravos, mas das famílias envolvidas.
Deixando tudo mais intenso. Solomon açoitando um capataz, por
exemplo, é de um significado muito maior que a mesma sequência em
Django,
de Tarantino. Não que os símbolos óbvios não estejam mais lá a
partir do segundo ato, pois estão, como mostra o protagonista
vivendo com a corda no pescoço enquanto as crianças brincam e as
pessoas levam suas vidas “normalmente”, mas é muito mais
honesto. A própria tensão nos encontros de Solomon e Edwin aponta
isso – e se há alguma justiça poética no cinema, Michael
Fassbender ganhará o seu primeiro Oscar pelo trabalho monstruoso que
faz aqui, assim como Chiwetel Ejiofor. Não dá para dizer que 12
Anos de Escravidão
é o melhor filme de McQueen, mas certamente é um reconhecimento
preciso de uma carreira próspera.
· Crítica originalmente publicada no Diário Catarinense
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