The
Lego Movie, Austrália/EUA/Dinamarca, 2014. Direção: Phil Lord e
Christopher Miller. Roteiro: Phil Lord e Christopher Miller, baseados
na história escrita em parceria com Dan e Kevin Hageman. Vozes: Will
Arnett, Elizabeth Banks, Craig Berry, Alison Brie, David Burrows,
Charlie Day, Will Ferrel, Dave Franco, Jonah Hill, Morgan Freeman.
Duração: 100 min.
Poucas
coisas podem nos decepcionar quando somos crianças. Muitas vezes não
temos maturidade o suficiente para perceber quando são mesquinhos
conosco, muito menos captar uma ironia mais profunda. Ao mesmo tempo,
vivemos mais felizes. Principalmente por se encantar com coisas
simples, mas especiais. Inventamos as histórias mais incríveis para
“amigos” imaginários no formato que existam – neste caso
específico, LEGOs. Assim, é facílimo se identificar com a história
concebida pelos diretores Phil Lord e Christopher Miller: a nostalgia
e a empatia em doses certeiras. Confiam não só na estrutura
narrativa, mas no espectador. Em sua bagagem, sua experiência. Eu e
meu pai, por exemplo, construímos uma cidade de Lego na minha
infância. Na verdade, ele construiu, eu apenas brincava e inventava
as histórias mais surreais. Claro que ele gostava que brincasse com
os bonecos, mas de forma controlada, sem mexer demais ou destruir
alguma coisa, com regras. Essa não é só a minha infância, mas a
do pequeno que controla a cidade de LEGO no filme. É a premissa mais
interessante da animação: o nosso relacionamento com nossos pais e
o auge da nossa imaginação juvenil.
Claro
que Uma Aventura LEGO se compara quase que por princípio a filmes
como Detona Ralph e
Toy Story, pois nasce
como essa aventura sentimental de um menino (“a mão do homem lá
de cima”) que enxerga amizade em seus bonecos e de personagens que
subvertem as regras pela felicidade própria, mas impressiona mais
pela forma como expõe nossos pensamentos. Como calculamos cada
aspecto que iremos colocar aqui e ali, além do timing para isto. Não
à toa, o garoto usa as coisas que têm na mão: uma arma de
chiclete, as placas de avisos que o pai deixava no porão, o som
feito pela boca que é brilhantemente utilizado pela edição de som
e uma cola que se torna o obstáculo da história (de novo, uma
criança não quer ficar parada, a perda do movimento é logicamente
algo assustador). Da mesma forma, os personagens se tornam mais
conhecidos, a montagem pode acelerar a trama como quiser (o que rende
sequências geniais) e as mensagens de autoajuda acabam encontrando
significado: afinal, mesmo que a criança seja a mais imaginativa
possível, não dá para cobrar profundidade – e isto é muito mais
inteligente do que poderíamos supor.
* Crítica originalmente publicada no site do Diário Catarinense
Nenhum comentário:
Postar um comentário