Idem, Brasil, 2014. Direção: José Eduardo Belmonte. Roteiro: Gabriel Martins, com a colaboração de Leonardo Levis. Elenco: Milhem Cortaz, Cauã Reymond, Gabriel Braga Nunes Marcelo Melo Jr., Caio Blat, Otávio Muller, Mariana Nunes, Antônio Fagundes. Duração: 90 min.
Logo no início de Alemão, é interessante como o espectador é apresentado a um promissor ambiente que, além de aprisionar seus personagens – como indica um plano atrás de grades num beco –, troca a música alta e a diversão pela troca de tiros e extrema violência. Da mesma forma, logo em seguida, o diretor não esconde a sua tentativa de versar o contraste entre favela e arranha-céus imensos num enquadramento inicial. É inquietante, portanto, a qualidade deplorável que passa a tomar conta do longa-metragem poucos segundos depois, já que, a princípio, seus envolvidos haviam alguma imaginação do que fazer com a história.
Escrito por Gabriel Martins, com a colaboração de Leonardo Levis, o filme conta a história de cinco policiais infiltrados na comunidade do Alemão, que são descobertos momentos antes da polícia tomar o "morro". Eles passam a se esconder por suas vidas, enquanto o líder da favela "Playboy" (Reymond) sai à caça dos agentes.
Juntando imagens de arquivos com establishing shots sem muita imaginação e uma câmera subjetiva intensa, Belmonte é extremamente limitado ao lidar com a tensão que a narrativa necessita: assim, sempre precipitado nos cortes, a perseguição de moto no primeiro ato ou os tiroteios carecem da pressão que as sequências requerem - aliás, o clímax é tão problemático nesse aspecto, que parece indicar uma decupagem muito precária. Ao mesmo tempo, a mise-en-scène denuncia ainda mais o amadorismo; e basta observar o encontro dos policiais na pizzaria do Doca para perceber que cada ator parece se posicionar conforme sua vontade.
O roteiro de Martins também sofre do mesmo problema ao nunca saber ao certo o que quer explorar ou a natureza da sua mensagem. E é muito notável a falta de argumento a medida que vamos avançando na história, pois muito pior que os diálogos enlatados ("posso até cair, mas levo esses filhos da puta comigo") são as retóricas dignas de um aluno da sétima série que recém está aprendendo algo sobre a criminalidade: "essa merda é mais para vocês que para gente", diz o personagem de Caio Blat. A trilha sonora de Guilherme e Gustavo Garbato, porém, é ainda pior ao tentar se sobrepor a todo o momento e não se preocupa em acompanhar o mesmo ritmo da narrativa: note o instante em que Carlinhos entra na pizzaria e os acordes parecem ter saído de um filme de suspense de quinta. O mesmo se pode dizer do design de produção de Denis Netto, que só expõe seus ambientes superficialmente: se a jacúzi de "Playboy" é o centro de destaque da residência do antagonista, o esconderijo dos policiais não fica claro - num primeiro momento, ele é humilde, nada espaçoso, como mostra as camas, para depois ele ser grande e estreito sem muitos porquês.
E se Antônio Fagundes não tem tempo para demonstrar seu duelo interno, ainda que seja o dono do filme na cena final, o restante é ainda mais ineficaz: Cortaz se restringe ao temperamento explosivo, Blat inexiste, Braga Nunes faz o tipo misterioso, ensaiando um romance bobinho, e Marcello Melo Jr até tenta acrescentar alguma profundidade, mas todas suas tentativas de apontar a importância da namorada para ele são patéticas.
Apelando até mesmo para frases explicativas que tentam criar uma empatia imediata com o público ("eu voltarei para casa, filha" é o exemplo mais claro), Belmonte é totalmente inexperiente ao guiar o drama daqueles personagens, parecendo, no final, muito mais novelesco do que deveria. Uma pena.
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