Tesis
sobre un homicidio,
Argentina/Espanha, 2013. Direção: Hernán Goldfrid.
Roteiro: Patricio Vega, baseado em um romance de Diego Paszkowski.
Elenco: Ricardo Darín, Alberto Ammann, Calu Rivero, Arturo Puig,
Fabián Arenillas, Mara Bestelli, Antonio Ugo, José Luis Mazza,
Mateo Chiarino, Natalia Santiago, Ezequiel de Almeida, Cecilia Atán.
Duração: 106 min.
Nos últimos anos, o ator Ricardo Darín tem cultivado uma apreciação popular tão intensa que basta seu nome ser ligado a um novo projeto que o filme ganha notoriedade; não por acaso, já que é dono de uma expressão de fácil lembrança, forte e honesta. Mas ainda que saiba escolher projetos e personagens, a dúvida mais pertinente quanto aos seus novos trabalhos é se o longa-metragem utiliza a figura do ator para complementar a forte mensagem (Abutres, Elefante Branco, Um Conto Chinês) ou somente para manter o público entretido nos acontecimentos de uma história sem grande inspiração. Tese Sobre um Homicídio é o sinônimo perfeito para essa segunda hipótese.
Apresentando-nos a
figura de Roberto Bermudez (Darín), o roteiro de Patricio Vega, que
é baseado em um romance de Diego Paszkowski, acompanha a
investigação do professor de Direito Criminal que é surpreendido
por um crime ocorrido dentro do próprio campus da Universidade onde
leciona. Logo, ele passa a desconfiar que o filho de um amigo seu e o
aluno que mais o admira, Gonzalo Ruiz Cordera (Ammann), está
envolvido no crime.
E é sem trazer
nenhuma dúvida sobre a culpabilidade do sujeito ou apontar para
outros suspeitos que o filme já começa a ostentar um tipo de
fraqueza. Ainda que seja um erro perdoável, avalia-se que estamos
sob o ponto de vista de Roberto, o roteiro de Vega desenvolve a
investigação com uma facilidade inverossímil que não nos permite
acompanhar o passo a passo da tese do professor. Uma abordagem tão
irreal quanto a do triângulo amoroso, o
qual é grande culpado pela parcela de erros do terceiro ato. Da
mesma forma, a maneira comicamente vilanesca com que Gonzalo é
apresentado (“Minha tese é que nenhuma outra tese está
correta”) não ajuda o trabalho do limitado Ammann.
A direção de
Goldfrid, por sua vez, é típica de quem está começando e quer
mostrar um senso estético apurado, mas ainda não está lá. Neste
caso, observe como o diretor tenta nunca manter sua câmera estática
por mais de cinco segundos, buscando oferecer uma dinâmica apenas
por meio de planos curtos. Ao mesmo tempo, além de evitar
qualquer tipo de plano mais longo (aquele enquadramento em que a irmã
da vítima surge separando Gonzalo e Roberto na mesa que dividem como
dois extremos se sairia muito melhor caso fosse mais aproveitado), passa a
aproximar e afastar a câmera nos cenários sem maiores explicações
– um bom exemplo é quando Roberto chega na cena do crime. Por
outro lado, Goldfrid se sai bem no desenvolvimento quase alucinante
com que vemos o professor chegar às suas conclusões e é eficiente
em enquadrar tanto o professor durante as aulas cercado de livros
quanto a reação de Gonzalo ao encontro do corpo da estudante.
Aliás, admirável a forma como brinca com a nitidez da imagem ao
passar pelos pensamentos ainda não totalmente arquitetados por
Roberto e a posição de superioridade quando acha ter esclarecido o
delito.
Mas, como já é
de costume, muitos erros do roteiro são ofuscados por outra grande
atuação de Ricardo Darín. Mantendo uma postura arrogante e
imponente, “aproveitem-me!”, ele é impessoal, seguro de
si mesmo e levemente irônico com a falta de conhecimento dos outros
que o cercam: “Você tem, quanto, 28 anos?”. Ainda assim,
o ator é competente em trazer uma dubiedade ao personagem, apontando
que, apesar de tudo que tenha conquistado, é uma pessoa infeliz.
Analise a maneira como fala de sua ex-mulher, como se aquilo tivesse
acontecido com outra pessoa, ou a sua contradição em se sentir
ofendido ao ver um aluno atrasado para os estudos, mas aconselhá-lo
a aproveitar a vida minutos mais tarde.
Tese Sobre um
Homicídio, por fim, expressa uma profundidade que não está lá,
tornando-se subitamente pretensioso. Está longe de ser um trabalho
absolutamente condenável, mas esclarece que um filme precisa de
muito mais que um ator talentoso para funcionar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário