28 de agosto de 2013

Tese Sobre um Homicídio

Tesis sobre un homicidio, Argentina/Espanha, 2013. Direção: Hernán Goldfrid. Roteiro: Patricio Vega, baseado em um romance de Diego Paszkowski. Elenco: Ricardo Darín, Alberto Ammann, Calu Rivero, Arturo Puig, Fabián Arenillas, Mara Bestelli, Antonio Ugo, José Luis Mazza, Mateo Chiarino, Natalia Santiago, Ezequiel de Almeida, Cecilia Atán. Duração: 106 min.

Nos últimos anos, o ator Ricardo Darín tem cultivado uma apreciação popular tão intensa que basta seu nome ser ligado a um novo projeto que o filme ganha notoriedade; não por acaso, já que é dono de uma expressão de fácil lembrança, forte e honesta. Mas ainda que saiba escolher projetos e personagens, a dúvida mais pertinente quanto aos seus novos trabalhos é se o longa-metragem utiliza a figura do ator para complementar a forte mensagem (Abutres, Elefante Branco, Um Conto Chinês) ou somente para manter o público entretido nos acontecimentos de uma história sem grande inspiração. Tese Sobre um Homicídio é o sinônimo perfeito para essa segunda hipótese.

Apresentando-nos a figura de Roberto Bermudez (Darín), o roteiro de Patricio Vega, que é baseado em um romance de Diego Paszkowski, acompanha a investigação do professor de Direito Criminal que é surpreendido por um crime ocorrido dentro do próprio campus da Universidade onde leciona. Logo, ele passa a desconfiar que o filho de um amigo seu e o aluno que mais o admira, Gonzalo Ruiz Cordera (Ammann), está envolvido no crime.

E é sem trazer nenhuma dúvida sobre a culpabilidade do sujeito ou apontar para outros suspeitos que o filme já começa a ostentar um tipo de fraqueza. Ainda que seja um erro perdoável, avalia-se que estamos sob o ponto de vista de Roberto, o roteiro de Vega desenvolve a investigação com uma facilidade inverossímil que não nos permite acompanhar o passo a passo da tese do professor. Uma abordagem tão irreal quanto a do triângulo amoroso, o qual é grande culpado pela parcela de erros do terceiro ato. Da mesma forma, a maneira comicamente vilanesca com que Gonzalo é apresentado (“Minha tese é que nenhuma outra tese está correta”) não ajuda o trabalho do limitado Ammann.

A direção de Goldfrid, por sua vez, é típica de quem está começando e quer mostrar um senso estético apurado, mas ainda não está lá. Neste caso, observe como o diretor tenta nunca manter sua câmera estática por mais de cinco segundos, buscando oferecer uma dinâmica apenas por meio de planos curtos. Ao mesmo tempo, além de evitar qualquer tipo de plano mais longo (aquele enquadramento em que a irmã da vítima surge separando Gonzalo e Roberto na mesa que dividem como dois extremos se sairia muito melhor caso fosse mais aproveitado), passa a aproximar e afastar a câmera nos cenários sem maiores explicações – um bom exemplo é quando Roberto chega na cena do crime. Por outro lado, Goldfrid se sai bem no desenvolvimento quase alucinante com que vemos o professor chegar às suas conclusões e é eficiente em enquadrar tanto o professor durante as aulas cercado de livros quanto a reação de Gonzalo ao encontro do corpo da estudante. Aliás, admirável a forma como brinca com a nitidez da imagem ao passar pelos pensamentos ainda não totalmente arquitetados por Roberto e a posição de superioridade quando acha ter esclarecido o delito.

Mas, como já é de costume, muitos erros do roteiro são ofuscados por outra grande atuação de Ricardo Darín. Mantendo uma postura arrogante e imponente, “aproveitem-me!”, ele é impessoal, seguro de si mesmo e levemente irônico com a falta de conhecimento dos outros que o cercam: “Você tem, quanto, 28 anos?”. Ainda assim, o ator é competente em trazer uma dubiedade ao personagem, apontando que, apesar de tudo que tenha conquistado, é uma pessoa infeliz. Analise a maneira como fala de sua ex-mulher, como se aquilo tivesse acontecido com outra pessoa, ou a sua contradição em se sentir ofendido ao ver um aluno atrasado para os estudos, mas aconselhá-lo a aproveitar a vida minutos mais tarde.


Tese Sobre um Homicídio, por fim, expressa uma profundidade que não está lá, tornando-se subitamente pretensioso. Está longe de ser um trabalho absolutamente condenável, mas esclarece que um filme precisa de muito mais que um ator talentoso para funcionar.  


                              

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