No ano passado, em
Florianópolis, cinco jovens de classe média foram detidos por furtar e entrar
em casas do bairro Jurerê Internacional por... diversão. Entravam nas
residências, tiravam fotos, roubavam as bebidas contidas em adegas e outros
objetos eletrônicos sem qualquer necessidade a não ser dar um mínimo de
aventura em suas vidas “pacatas”. Meninos com faixa etária entre 19 e 26 anos.
Quando foram presos, supostamente envergonhados do que fizeram, apelaram para o
que mais conheciam, mas que nesse caso não resolveria a situação: um pedido de
desculpas. Bling Ring se move pelo
mesma temática: a vida fútil de jovens com poder aquisitivo alto e a
libertinagem que possuem em seu mundo. Todavia, infelizmente, Sofia Coppola
sofre para dar mais profundidade para algo que carecia disso e guia uma trama
tão superficial quanto a abordagem objetiva de uma investigação criminal dessa
natureza.
Escrito pela própria
Coppola, baseado em um artigo da Vanity Fair que se inspirou na história de um
grupo de jovens que entrava nas residências da alta elite de Los Angeles apenas
por diversão e status, a história aborda exatamente o que haveria levado
aqueles jovens a cometerem o crime. Transitando entre os depoimentos e os
assaltos, a diretora/roteirista tenta acrescentar um estudo sobre o mundo
glamoroso em que estão e a ostentação que os cerca.
Percebendo que não tem
um grande domínio sobre qual é a mensagem a ser passada na narrativa, Coppola
tenta apropriar o seu tipo de estilo na história de Rebbeca, Mark e as outras
garotas, mas sem a confiança de outrora. Assim, os cortes feitos aqui e ali
nunca são sutis e chega a apostar até em um bullying deslocado no começo do
longa-metragem. Além do mais, a diretora aponta para a futilidade do mundo
adolescente sem muita inspiração, investindo no básico: fotos na balada,
leitura de conteúdos inúteis na internet e inserções de fotos de celebridade
sem um grande contexto. Os flashes, a fama, a riqueza estão lá – mas sem
nenhuma novidade ou provocação. Por outro lado, apesar da montagem óbvia (o que
falar da elipse infantil no tribunal?), a diretora consegue transmitir a
evolução dos roubos e das investigações da polícia com um pouco mais de
talento. Neste caso, observe como de uma invasão na escuridão, os garotos vão
ficando mais descuidados, passam a esquecer das câmeras e a primeira vez que são
vistos não estamos inseridos na ação junto com eles – apenas se nota os furtos
de longe, num establishing shot
eficiente e com os sons de polícia ao fundo.
Mas isso é raro. Por
mais que Coppola tenha seus momentos como diretora/roteirista – como aquele em
que Rebbeca pergunta sobre a reação da Lindsay Lohan ou a que Mark afirma
orgulhosamente que aceitou 800 novas pessoas no Facebook –, os erros são muito
mais evidentes e facilmente contornados. Afora o vergonhoso slow motion que acompanha Rebecca subindo
as escadas do colégio – com direito a flares
e cabelos ao vento –, a cena nonsense
de Mark dançando na frente da web cam é ainda mais cômica, comprovando que
Coppola não possuía muita ideia do que estava fazendo a não ser criticar
superficialmente costumes adolescentes.
Quanto ao elenco,
Israel Broussard falha ao entregar um personagem que é levado não só pela
adrenalina dos crimes, mas principalmente por estar em busca de uma aceitação
social e atrás de amizades (se você não é amigo de ninguém, você não é
ninguém!), e Katie Chang se sai extremamente mal na pele de líder da turma; ao
passo que Emma Watson não consegue extrair nada de uma personagem já morta
narrativamente desde a construção do roteiro.
Por mais que a história
abra um leque de possibilidades, a exploração e profundidade dela são o que
mais dá para sentir falta. No fim, mesmo com a falta de recursos, até mesmo a
matéria do jornal feita sobre os jovens de classe média que furtavam casas em
Florianópolis acaba tendo uma penetração muito maior que os jovens do filme de
Coppola.
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