28 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

 


Extremely Loud and Incredibly Close, EUA, 2011. Direção: Stephen Daldry. Roteiro: Eric Roth, baseado no livro de Jonathan Safran Foer. Elenco: Thomas Horn, Sandra Bullock, Max von Sydow, Tom Hanks, Zoe Caldwell, John Goodman, Viola Davis e Jeffrey Wright. Duração: 129 minutos.

“Extremamente Alto & Incrivelmente Perto” é um livro que por mais que o leitor possa não criar empatia com o pequeno Oskar é obrigado a perceber a excelência da obra de Jonathan Safran Foer ao trazer sensibilidade e honestidade ao drama vivido pelo órfão e sua procura por um tempo a mais com seu pai. Assim, é justamente privando-se desses dois aspectos fundamentais e guiando-se pelo puro exagero que Daldry comete seu maior equívoco ao tentar exalar tristeza e sofrimento sem nunca parecer genuíno e automaticamente pecar na construção de seus personagens.

Escrito por Eric Roth (responsável por obras como O Informante, Munique e O Bom Pastor), baseado no livro de Jonathan Safran Foer, a história acompanha o órfão Oscar que sofre de síndrome do pânico desde a morte do seu pai, Thomas Shell, uma das vítimas do atentado ao World Trade Center no 11/09. Enquanto Oskar tenta se segurar nos seus últimos “oito minutos” com seu pai, ele encontra uma chave perdida que faz com que ele se aventure pelas ruas de Nova York, a fim de descobrir qual a finalidade da chave e manter a memória de seu pai viva nesse mistério.

Tentando exalar tristeza, neuras e sofrimentos de seus personagens principais a todo o momento, Daldry peca principalmente no ambiente caótico que Oskar e sua mãe vivem. Assim, o diretor coloca brigas dos dois personagens aqui ou ali para tentar fornecer um conflito emocional que nunca é natural – inclusive, utilizando saídas como explosões temperamentais a todo o momento do garoto ou apelando para frases tolas como: “Queria que tivesse sido você”. Entretanto, o diretor é certeiro na criação da síndrome do pânico que o pequeno Oskar vive desde a morte do seu pai, culminando (junto com a ótima trilha de Desplat) no momento em que o personagem sai na rua, mas começa a ter medo de metros, transportes coletivos, aviões, estrangeiros, elevador e crianças sem pais.

Da mesma forma, a inteligência do pequeno Oskar é resgatada das páginas do livro de Foer em cenas como a que o personagem começa a pensar sobre a quantidade de mortos no planeta e sugerir cemitérios subterrâneos em grandes arranha-céus e na possibilidade de visitar os mortos pelo uso de um simples elevador – infelizmente, pensamentos inconstantes no longa e que nunca voltam a ser aproveitados. Aliás, para Daldry não interessa a inteligência do garoto ou sua vocação criativa e sua impressionante sabedoria para um garoto de 11 anos, aqui, o diretor prefere investir na pura tristeza de seu Oskar e da perda de rumo do seu personagem com a falta do pai. Assim, cenas em que ele tenta mostrar a sabedoria que tem adquirida, como ele começando a falar sobre elefantes, surgem apenas como pedantes e sem sentido algum para a história.

Ainda, Daldry tenta se aproveitar o máximo da situação do 11/09 que tem em mãos e não só em frases se referindo ao dia fatídico como “o pior dia”, mas frases como “Não sei porque meu marido morreu. Não sei porque um homem jogou um avião contra um prédio” mostram essas tentativas tolas de demonstrar isso. Além disso, as brigas de seus protagonistas nunca soam como verdadeiras e salienta ainda mais esse desespero do diretor em criar conflitos emocionais e internos como tentativa de gerar sensibilidade no espectador. Deste modo, momentos como em que Oskar diz “eu te amo” por debaixo da porta, como se demonstrasse uma barreira que os separam, ou no “Me deixa entrar para dizer que te amo” da personagem de Bullock, são recorrentes.

Em contrapartida, a trilha de Desplat ajuda a pontuar a aventura vivida por Oskar em busca de uma fechadura sempre de maneira orgânica e explorando tons graves para salientar o tom aventureiro com o fúnebre. Ainda, a montagem de Claire Simpson (que já havia trabalhado com Daldry em O Leitor) também tem bons momentos, como na fusão de um desenho para uma torneira, mas peca nos saltos da trama de lembranças para a atual situação dos personagens (note, por exemplo, a cena em que Bullock se lembra da ligação de Thomas no dia fatídico).

De qualquer forma, Daldry ainda mostra que quando não se entrega totalmente ao pieguismo e a “forçação de barra” tem qualidade, como quando o diretor decide demonstrar o conflito interno de Oskar (que mesmo com síndrome do pânico não se reprime ao parar no meio de um cruzamento) ou na travessia de uma ponte em que a curiosidade supera o medo. Também, o diretor faz certo em tentar mostrar a relação entre pai e filho e o porquê da paixão tão grande que Oskar sentia por seu pai – culminando numa sensível cena em que o personagem passa a mão no travesseiro que era de seu pai, mas volta ao exagero de Daldry no santuário que o personagem constrói em seu armário.

Criando seu Oskar Shell limitado pela visão melodramática de Daldry, o estreante Thomas Horn é até eficiente ao manter sempre suas emoções à flor da pele, como se fosse explodir a todo o momento, mas nunca consegue ser natural nas brigas com sua mãe. Já Sandra Bullock é igualmente intensa ao tentar sempre mostrar esse sofrimento constante da protagonista e da falta que sente não só de Thomas, mas de seu filho – sendo a única da dupla que consegue trazer alguma sensibilidade para sua personagem, sem virar uma caricatura. Mas é o veterano Max von Sydow que se destaca na narrativa ao compor o misterioso inquilino que mora com a avó de Oskar. Sempre demonstrando os sentimentos do personagem por olhares e gestos, Sydow é admirável ao olhar sempre dolorosamente para o neto, como se instantaneamente o lembrasse do filho – e observe o belo trabalho do ator na cena em que Oskar mostra as marcas em seu corpo e a expressão que Sydow faz ou na ligeira tremida de lábios quando ele ouve as mensagens de seu filho deixadas na secretária eletrônica.

No final, é interessante notar o porquê do novo filme de Daldry conseguir tocar tanta gente e conseguir ser tão reconhecido: mesmo com o melodrama acentuado, o filme trata das dores de uma perda. E, mais importante, pessoas que perderam alguém no 11/09. E é voltando à cena em que Oskar diz para sua mãe “Queria que fosse você” e na resposta dela para o garoto (“Quis dizer isso, sim”) que percebemos que a sensibilidade e honestidade de Foer estavam nas entrelinhas, mas caíram num curioso duelo paradoxal que Oskar e Thomas gostavam tanto de brincar.

2 comentários:

Ivan Roberto disse...

Não é um filme para ser revisto e nem deveria estar numa relação dos melhores do ano. O garoto é irritante e nada carismático. O filme foi feito sob medida para o público dos EUA se emocionar com o 11/09. Foi mal dirigido, poderia ter sido melhor aproveitado não fosse tão apelativo. Não gostei e só fui ver pq estava na relação do Oscar.

Ivan Roberto disse...

Não é um filme para ser revisto e nem deveria estar numa relação dos melhores do ano. O garoto é irritante e nada carismático. O filme foi feito sob medida para o público dos EUA se emocionar com o 11/09. Foi mal dirigido, poderia ter sido melhor aproveitado não fosse tão apelativo. Não gostei e só fui ver pq estava na relação do Oscar.