Perfect Sense, Inglaterra, 2011. Direção: David Mackenzie. Roteiro: Kim Fupz Aakeson. Elenco: Ewan McGregor, Eva Green, Ewen Bremner, Stephen Dillane e Connie Nielsen. Duração: 92 minutos.
“Sentidos do amor” pode facilmente ser tratado como uma espécie de Ensaio sobre a cegueira (por sua infecção ser espelhada gradativamente e acompanharmos os dramas de seus personagens) em paralelo à uma história de amor impossível vivida no meio de um colapso mundial. E, ainda que o diretor David Mackenzie quase prive seu espectador de acompanhar a proliferação mundial do vírus, acompanhando quase que obsessivamente o envolvimento de seus protagonistas, o diretor consegue também se sair admirável na construção e pertinência do vírus, assim, criando um grande filme de um apocalipse não apenas viral, mas emocional.
Escrito pelo roteirista Kim Fupz Aekeson, a história acompanha o relacionamento de uma epidemiologista, Susan (Eva Green), e um chef de cozinha, Michael (Ewan McGregor). Ao mesmo tempo em que os personagens estão se apaixonando, uma pandemia global ameaça mudar a face da humanidade para sempre.
Soando não apenas como uma narrativa instigante, mas como uma pertinente crítica a falta de tato humano na atualidade e a indiferença, Aekson é notável ao priorizar o envolvimento de seus protagonistas perante o caos e suas diferentes visões sobre a tragédia. Algo que soa simbólico, tanto para a vida pessoal dos dois, já que uma acaba de sair de um relacionamento e o outro não consegue se relacionar (“Sinto muito, não consigo dormir com outra pessoa na mesma cama!”), quanto para suas vidas profissionais – e observe que ao passo que Susan trabalha na genética, estudando sintomas, Michael trabalha com o paladar, dois grandes afetados pela infecção generalizada.
Ainda, o roteirista consegue estabelecer com elegância as seqüelas que o vírus traz para a população e a readaptação humana às infecções, mesmo que utilize uma convencional e entediante narração em off do personagem de McGregor. Já o diretor David Mackenzie, consegue efetuar planos belíssimos e que demonstram a cumplicidade de seus dois protagonistas e as descobertas de novos e inexplorados sentidos – observe, por exemplo, a expressividade da cena em que os dois transam na banheira ou, talvez, no melhor plano do longa: o enquadramento que o diretor dá aos dois protagonistas na cama, quase numa fusão entre seus corpos.
Criando seu personagem como uma pessoa confiante, mas com dificuldades para o relacionamento, McGregor é carismático, porém, impotente frente à epidemia que toma o mundo de assalto e sua vida profissional e pessoal. Note, por exemplo, quando o personagem finalmente se deixa envolver com a personagem de Green e o quanto sua atitude passa a mudar com o relacionamento. Da mesma forma, Green evidencia a sintonia entre os dois, fazendo o espectador acreditar naquele amor – algo que torna a pandemia mais vivível, pelo simples fato de o lado humano, o amor, conseguir abafá-la.
E por que não? Esquecendo-se do olfato, paladar, audição, visão, temos a experiência do tato, do toque, tudo se torna uma grande novidade. A vida sem sabor e desregrada que vivíamos, torna-se literal. No final, sobrando apenas uns aos outros e como nos relacionamos com o diferente. Uma visão tão doce e humana sobre a tragédia, que Gus Van Sant daria um braço para conseguir fazer algo assim.
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