12 de março de 2012

Poder Sem Limites

   



Chronicle, Inglaterra/EUA, 2011. Direção: Josh Trank. Roteiro: Max Landis. Elenco: Dane DeHaan, Alex Russell, Michael B. Jordan, Ashley Hinshaw, Michael Kelly e Bo Petersen. Duração: 84 minutos.

Quando escrevi sobre a série Dawson’s Creek, certa vez, disse que era uma surpresa que uma série com temática adolescente conferisse diálogos tão inteligentes e maduros que fazia com que o espectador simpatizasse por aqueles personagens e quisesse fazer parte da vida daquelas pessoas. Poder sem Limites almeja a mesma coisa: estabelecer seus personagens como adolescentes precoces e vividos, além de oferecer um uso surpreendente do gênero mockumentary (cada vez mais desgastado). Contudo, o filme até consegue utilizar o gênero de uma maneira fascinante, mas não percebe que para compor personagens curiosos ou inteligentes precisa bem mais do que citações de Platão ou Jung.

Escrito por Max Landis, a história gira em torno de três amigos que passam a ter super poderes depois de ter encontro com uma espécie de “força” magnética. No início, os poderes são utilizados para brincar com atividades cotidianas (como jogar pedra no mar ou assustar crianças em lojas de brinquedos), mas à medida que os poderes dos garotos vão se desenvolvendo, suas “brincadeiras” também...


Saindo-se bem na apresentação da câmera e de seus personagens, Trank é suficientemente competente ao trazer os problemas do protagonista na sua casa e o porquê de sua nova câmera – apenas tendo problemas em explicar qual o motivo do jovem Andrew querer filmar ações no colégio ou levar o aparelho para uma festa, já que não havia nenhuma pertinência com as ações de seu pai. Da mesma forma, o roteiro de Landis falha ao achar que só colocar uma briga entre pai e filho pontualmente na trama trará alguma sustentabilidade para o rumo que o filme toma a partir do terceiro ato.

Além disso, Trank e Landis parecem apostar que o bullyng contra o protagonista, tanto em sua casa quanto no colégio, é o suficiente para torná-lo a figura frágil que o espectador irá adquirir complacência no momento de suas estúpidas atitudes – porém, o roteiro de Landis falha até nisso, quando nos damos conta de que Andrew nada mais é que um adolescente tão tolo quanto os garotos que o perseguiam (basta observar o tratamento com seus próprios amigos ou sua mudança de temperamento na escola).

Como se não fosse o bastante, Landis parece querer criar figuras precoces sem nenhum propósito e sempre descartando particularidades de seus personagens ou atitudes quando bem entende – observe, por exemplo, como as frases deslocadas de Matt são utilizadas apenas pontualmente, algo que coloca toda a situação que o roteiro quer evidenciar (a inteligência de seu mocinho) apenas como um pedantismo gratuito. Não podendo deixar de citar a relação de Casey com Matt que nunca é explorada de uma forma que não seja superficial.

Em contrapartida, o gênero escolhido pelo filme é sempre bem utilizado pelos seus diretores e a mudança que a narrativa adquire a partir da utilização da câmera com os amigos é relevante e fascinante, além de surpreender nos ambientes em que ela passa a freqüentar. Do mesmo modo, a montagem de Elliot Greenberg também é admirável ao trazer outra câmera para a narrativa e poder realizar os cortes que o filme precisa e dar um bom ritmo para a trama, além das brincadeiras realizadas pelos três amigos quando ganham seus poderes que são sempre marcantes.  

Criando seu personagem como um adolescente comum e com vários problemas pessoais e sociais (algo que não o difere da maioria das pessoas), Dane DeHaan encontra dificuldades em compor de forma sólida a transição da insegurança para a segurança que o personagem adquire no segundo ato (algo que só é salientado por frases, como: “Sou mais forte que você”), mas é adequado ao conferir o nervosismo de seu personagem com o tamanho de sua força e tudo que ela pode causar. Ao mesmo tempo, Alex Russel é derrotado pelo roteiro de Landis ao criar um personagem que consegue ser deslocado até em exemplos de moralidade (algo que só acontece para que tenhamos um confronto entre primos no final do filme), bastando notar como até o sentimento que um tem pelo outro só é mostrado quando o roteirista acha necessário. Ao passo que Michael B. Jordan é apenas carismático o suficiente para o papel que possui.

Ainda que conte com diálogos ou situações terrivelmente deslocadas, Poder sem Limites é admirável ao oferecer uma visão diferente e interessante para um gênero que está se tornando cada vez mais comum, oferecendo diversão o suficiente para que não se torne nenhum desastre, mesmo que o roteiro de Landis tente proporcionar isso a todo custo. Assim, quando vemos o personagem de Matt proferir mais uma de suas incômodas citações, como a do mito da caverna, e vemos um personagem respondendo: “Ok, e o que Jung tinha a dizer sobre Light Sticks?” percebemos o potencial daquelas palavras, mas que, infelizmente, nunca conseguem soar mais do que tentativas falhas de parecer mais inteligente do que é. 

Um comentário:

Madame Lumiere disse...

Andrey,
Que review belíssima! Esse é o espírito. Há tantos Brandons e Sissies around.
Abs
MaDAme