I,
Frankenstein, EUA/Austrália,
2014. Direção: Stuart Beattie. Roteiro: Stuart Beattie, baseado na
Graphic Novel de Kevin Grevioux e nos personagens de Mary Shelley.
Elenco: Aaron Eckhart, Yvonne Strahovski, Miranda Otto, Bill Nighy,
Jai Courtney. Duração: 92 min.
Querida
Mary Shelley,
Perdoe-me
pela intimidade atrevida, mas não imagino começar esse pedido de
desculpas não sendo desta forma. Em breve fará 200 anos que o seu
primeiro romance, Frankenstein, foi lançado ao mundo. Uma obra que,
não seja modesta, revolucionou para sempre como os “monstros”
eram enxergados na sociedade. Como cita a sua obra-prima: “inventar,
deve-se admitir humildemente, não consiste em criar algo do nada,
mas, sim, do caos”. A arrogância humana de Victor Frankenstein
evidencia esse seu ponto. Até onde iríamos para provar que podemos
superar a vida? Ou, melhor, a morte! A ânsia de desvendar –
cito-lhe novamente – os mistérios da criação: algo sempre tão
almejado pelo homem. Possivelmente, a senhora não saiba, mas a sua
obra foi inúmeras vezes “reinventada” para o cinema. Como não
poderia deixar de ser, portanto, observamos o que de melhor e o que
de pior os seus escritos geraram. Não, não foi o curta-metragem de
1910 que começou a gerar esse fascínio pela história de Victor e
sua criação, mas o filme com Karloff, o de 31. Ainda que, em minha
modesta opinião, o filme de 1935 (A Noiva de Frankenstein) seja o
projeto que mais se aproxima da sua sensibilidade.
Mas
talvez esteja fugindo do assunto. Não estou aqui para lhe afirmar o
que já sabe. E se você estiver lendo essa carta, certamente, possui
este conhecimento. Estou aqui para lhe pedir desculpas, ainda que
minha voz não possa responder pelos envolvidos em Frankenstein:
Entre Anjos e Demônios, novo filme baseado em seu livro. Shelley, eu
não sei o que as companhias Lakeshore e Hopscotch tinham nos
pensamentos ao apoiarem o projeto de Stuart Beattie para reinventar a
sua obra. Minto. Eu tenho, sim. A resposta é o óbvio dinheiro
fácil, mas não quero que pense que o mundo de caos visualizado por
ti é o mesmo pelo qual lhe mando esta carta. Sei que pode indagar
por que nós deixamos isso acontecer e, você está certa, assumo que
falhamos. Pior, minha cara, compramos a ideia. Demos razões a eles
em continuar investindo nessa escola de atualização das fábulas
clássicas. Mas em nossa defesa, como saberíamos que Stuart
colocaria gárgulas em sua história ou uma divisão maniqueista de
céu e inferno que, na minha tese, nunca foi sua intenção?! Espero
que na próxima vez, pois haverá, estejamos prontos para perceber,
quando o roteiro disser que o diário de Frankenstein não pode cair
nas mãos erradas, o que a expressão “mãos erradas” realmente
quer dizer: as de diretores como Stuart Beattie.
Prefiro
não lhe aterrorizar mais com esses escritos, pois você merece gozar
de uma suposta paz em seu epílogo próprio. O propósito disso é
revelar que ainda temos você nos pensamentos e, novamente, pedimos
desculpas pela mesma humanidade que você acertadamente julgou
conhecer tão bem.
De seu
admirador,
O autor.
Obs:
Aliás, sei que não tens nada a ver com isso, porém, caso esteja no
mesmo lugar que os irmãos Grimm, os meus pedidos de desculpas são
estendidos a eles.
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