The
Wolf of Wall Street, EUA,
2013. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Terence Winter, baseado no
livro de Jordan Belfort. Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill,
Margot Robbie, Kyle Chandler, Matthew McConaughey, Rob Reiner, Jean
Dujardin. Duração: 180 min.
“Aqui
é a América”: esta é a frase que marca a trajetória de Jordan
Belfort pelo império de ações norte-americano. Um ambiente
depravado, onde a ganância, o animalesco (a referência ao filme
Monstros é oportuna), o poder, o vício e a corrupção são fatores
imprescindíveis para ser um vencedor. Lugar em que apenas o sexo e
as drogas nos mantêm vivos; que a infância não é importante,
somente o que temos agora. Afinal, na narrativa de Scorsese, o que
importa para Belfort são os vícios da ilegalidade, o glamour, as
festas, os champagnes e, lógico, o dinheiro que conseguimos por
fora. A malandragem fiscal. Mas, muito mais do que isso, o diretor
trata o protagonista como uma espécie de pastor. Belfort é um
pregador. A sua missão é levar para seus subordinados o quanto eles
podem ter tudo e ser felizes como ele. “Não há nobreza na
pobreza. Lide com os seus problemas sendo rico”, assegura. Para o
empreendedor, o dinheiro compra tudo. Oferece a libertinagem
requerida quando se é jovem. Belfort tenta encantar uma moça que
chega acompanhada em sua festa, transa em uma cama de dinheiro, o seu
funcionário se masturba em público; nada é limitado para aquele
círculo. O que não é fruto de compra só não teve a oferta certa.
Não
que Scorsese incite esse comportamento, muito pelo contrário. O
Lobo de Wall Street
é um drama cínico. E é em seu cinismo que expõe os pensamentos
grotescos dos mantenedores da Stratton Oakmont. Seja como o casamento
e a felicidade ou alguém com alguma imperfeição física são
visualizados: a brincadeira com um anão e o personagem de Jonah Hill
(excelente) falando como se livraria de um filho com necessidades
especiais são claros exemplos. Somos, enfim, guiados por aqueles
personagens àquele mundo. Di Caprio, em sua melhor atuação, como o
biografado, é o narrador. Conecta-nos aos seus problemas e façanhas
desde o princípio. A narrativa é influenciada por suas lembranças.
Fala da vida como se ela não fosse importante. Não mais que o
dinheiro, como o clímax denuncia. Scorsese deixa a América mais uma
vez sob a ótica de um capitalismo selvagem, como em Cassino.
Utilizando-se de símbolos para designar essa esfera, o leão no
escritório, aproveita o silêncio e o exagero como nenhum outro –
chegando ao ápice na sequência com o efeito colateral do quaaludes.
Como vender algo? Scorsese sabe como ninguém.
· Crítica originalmente publicada no Diário Catarinense
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