10 de janeiro de 2014

Ajuste de Contas

Grudge Match, EUA, 2013. Direção: Peter Segal. Roteiro: Tim Kelleher e Rodney Rothman. Elenco: Sylvester Stallone, Robert De Niro, Kevin Hart, Alan Arkin, Kim Basinger, Jon Bernthal. Duração: 113 min.

Para quem viveu no final da década de 70 o auge do boxe cinematográfico, quando o mundo conheceu Rocky e Jake La Motta, um confronto entre Robert De Niro e Sylvester Stallone – igualmente, no ápice de suas carreiras – seria visto com as melhores expectativas. No entanto, mais de 30 anos depois, quando ambos enfrentam um grande declínio, Ajuste de Contas mais se mostra uma tentativa fracassada de ressuscitar duas lendas – claro, a seu devido modo. E é curioso que não apenas o filme aponte esse deslocamento de época, como também aproveite essa deixa para criar gags e piadas que indicam essa realidade: Stallone, por exemplo, aproveita uma passada num frigorífico para treinar; o personagem de De Niro continua vivendo por um prestígio adquirido há muito tempo; e assim por diante. O diretor Peter Segal, famoso por suas comédias melodramáticas, não evita que essa ótica fora de época contamine a sua narrativa, o que não seria um grande problema, se soubesse a usar em seu favor. Assim, é uma pena que o roteiro explore como alívio cômico piadas insistentemente infames ao falar sobre tamanho, peso e idade, além de uma loud comedy (expressão que designo para comédia gritada) insuportável de Kevin Hart.

Além disso, a direção de Segal é tão evidente e complementadora com o roteiro infantil que chega a ser cômico o instante em que um personagem precisa falar duas vezes que outro é gordo, apenas para soar “engraçado”. Por outro lado, se De Niro está no controle automático, Stallone oferece algo de veracidade ao seu Razor. Deixando suas mãos sempre em movimento no primeiro ato e alongando a cervical constantemente, como se estivesse preparado para entrar no ringue, o ator só é sabotado quando Segal traz as atenções para ele novamente ao inserir uma estrutura sacrificável ao contexto e tornar tudo muito mais pretensioso do que precisava. O que nos traz a pergunta pertinente de Razor no primeiro ato: “o momento passou, por que agora? Não vale a pena!”. Uma pena que os produtores não pensaram da mesma maneira.


· Crítica originalmente publicada no Diário Catarinense

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