Como
confessei na crítica de um dos melhores filmes de 2013, Invocação
do Mal, o gênero terror sempre foi o meu favorito. Simplesmente por
suas sensações. Afora fatores marcantes ocorridos na infância que
também citei anteriormente em outros textos, esse cinema fantástico
possui sua própria gama de revoluções e, apesar das fórmulas,
diversos diretores que se inspiram em outros colegas conseguem
construir homenagens gigantescas e atemporais. Num tempo em que
muitos parecem aceitar que o gênero está morto e que há poucas
mentes pensantes em Hollywood ou qualquer outro lugar, eu refleti
acerca de alguns dos maiores nomes do gênero na atualidade e que
muitos podem nem conhecê-los. A princípio, a meta era chegar a um
top cinco, mas a admiração e fascínio por vários destes acabaram
aumentando a lista – ainda que não tenham cabido todos os nomes
desejados. Portanto, ainda que você não encontre o nome de sua
preferência por aqui, não quer dizer que não entraria num top 15
ou 20. Antes de tudo, algumas considerações:
- Os escolhidos são totalmente de preferência pessoal e podem ser descartados se vocês não apreciam o meu gosto. Caso você nunca concorde com as minhas cotações ou análises sobre filmes de terror (ou qualquer outro), por exemplo, acredito que a lista não será de grande ajuda;
- A minha maior intenção, na verdade, é fornecer alguns nomes para serem mais propagados e debatidos. Restringi-me, deste modo, a nomes mais novos e alguns deles – inclusive – possuem apenas dois ou três filmes: algo que pode ser um tiro futuro no pé;
- Espero que aproveitem as indicações e que compartilhem também as suas considerações.
Chega
de papo e vamos lá.
10.
James Watkins
Vamos
desconsiderar as barbaridades que são seus roteiros de A Face Oculta
do Mal e o safado Abismo do Medo 2, mas vamos considerar que ambos
possuíam outras pessoas auxiliando o processo – o que nunca é um
bom sinal. A realidade é que Watkins estreou com algum controle
cinematográfico em 2008 com seu filme Eden Lake (o qual saiu
traduzido como Sem Saída). Nele, observamos um jovem casal de férias
tentando escapar da realidade urbana e passando um final de semana,
isolados, em uma casa à beira de um lago. O problema começa a
aparecer no instante em que um grupo de adolescentes rebeldes passa a
persegui-los em uma grande tortura psicológica e física. O mais
impressionante da trama idealizada por Watkins, neste caso, não é
transformar algo batido em um longa-metragem cheio de adrenalina
(algo que também contém), mas dar uma profundidade humana gritante
– culminando em um clímax singular e assustador. Não é o susto
ou o gore que o diretor procura, mas esclarecer que a própria
maneira como tratamos uns aos outros interferem na criação de
monstros antissociais. Já em A Mulher de Preto, Watkins adota uma
postura mais clássica do terror, com direito a pouca iluminação
nos lugares que Arthur frequenta (trens, casas, escritórios),
sótãos, porões, escadas que ficam rangendo, cemitérios e mansões
mal-assombradas. Um filme muito mais saudosista do que dono de uma
frieza social, o que também aponta para sua adequação.
O
melhor: Eden Lake (Sem Saída)
Por
onde começar: Eden Lake (Sem Saída);
9.
Simon Rumley
Ainda
que busque, às vezes, o total absurdo, como nos segmentos “P is
for Pressure” (ABC da Morte) e “Bitch” (Little Deaths), o
grande fator positivo de Simon Rumley é a maneira como expõe o caos
em que se encontram seus personagens e a constante autodestruição
presente em suas respectivas vidas – assim, não é difícil
imaginar as medidas extremas de seus atos conforme passa a narrativa.
Em Red, White & Blue, por exemplo, as atitudes do diretor
ressaltam um estilo próprio (desde o sexo como precursor dos
problemas até a música sobrepondo-se aos diálogos). Da mesma
forma, a sua assinatura influencia no resultado final do regular
Distúrbio Fatal, onde a dor e a intensidade infringidas na vida
daquelas pessoas expressa o verdadeiro horror almejado por ele.
O
melhor: Red, White & Blue
Por
onde começar: Distúrbio Fatal;
8.
Nacho Vigalondo
Muito
mais conhecido por seus excelentes curtas-metragens, Nacho veio a se
destacar no brilhante Crimes
Temporais,
onde o protagonista, após uma série de paradoxos temporais,
encontra a si mesmo diversas vezes – algo que culmina no
desenvolvimento e clímax angustiantes do longa-metragem. Por outro
lado, o espanhol já havia denunciado o seu talento em três curtas:
o primeiro deles, sua própria estreia indicada ao Oscar,
7:35 de la mañana
oferecia um mundo em que a ruína era o silêncio e a falta de
comunicação social, a qual requere uma atitude drástica: um
homem-bomba, sob esta ótica, entra em um restaurante e ameaça os
clientes, a fim de fazê-los dançar e cantar juntos com ele; no
segundo, Marisa, o diretor expõe as múltiplas personalidades da
personagem-título; e, finalmente, A de Apocalipse surpreende pela
visão incomum do fim. Um cineasta que conta com apenas dois
longas-metragens na bagagem, mas que já apresenta uma maturidade a
ser avaliada futuramente.
O
melhor: Crimes Temporais
Por
onde começar: 7:35 de la mañana;
7.
Bruno Forzani e Hélène Cattet
Movendo-se muito
mais por ostentações de sentidos e prazeres estéticos do que
propriamente da substância da história, embora esteja lá, Forzani
e Cattet é a primeira dupla a fazer parte da lista por um preceito
bem simples: talento. Está na exploração de suas cores, sua
fotografia e cenários, os seus maiores artifícios. No caso de Amer,
todo esse cuidado na forma como a narrativa é construída nasce tão
impactante e detalhista que arrisco dizer que o próprio Argento –
a principal inspiração – deve ter ficado orgulhoso. Ambos não
almejam o susto fácil, mas a subjetividade semiótica que as cores
possuem. Qual é o significado de cada plano e a combinação entre
eles. As perguntas acabam sendo outras. Os seus curtas se movem sob
este mesmo raciocínio. Não dá para dizer que é um estilo que
sempre dará certo, mas é no mínimo uma assinatura intrigante e
rara.
O melhor: Amer
Por onde começar:
Chambre jaune;
6. Juliana Rojas e
Marco Dutra
Na realidade, apesar
do cinema brasileiro de horror estar começando a caminhar com suas
próprias pernas, ninguém está fazendo filmes de gênero como esses
dois. Iguais aos outros casos, ambos são diretores que têm mais
fama internacional pelos seus curtas (ganhando em Cannes, por
exemplo) do que por seu primeiro longa-metragem, Trabalhar Cansa. São
diretores que procuram os sons mais simples para criar ambientes de
pura tensão: no filme de 2011, a família está reunida e um
esguicho produzido por um familiar a luz de velas consegue criar um
assombro muito maior que algum susto mais fácil. Os filmes passam a
ser mais metafóricos. Os dramas familiares presentes em seus
roteiros são tão importantes quanto as ações sobrenaturais.
Nenhum dos dois parece ter mais talento que o outro, pois se
complementam. E até os seus curtas solos deixam essa impressão
O melhor: Trabalhar Cansa
Por onde começar:
Um Ramo;
5. Jaume Balagueró
Prevejo muitas
reclamações da ausência do Paco Plaza dividindo essa quinta
colocação com o espanhol, mas o motivo é simples: acredito ser
Balagueró o verdadeiro talento da dupla. Ainda que os dois estejam
envolvidos na obra-prima [Rec], Plaza somente criou uma obra que se
destacasse em seu trabalho solo: Um Conto de Natal. Até porque
Genesis tem uma ou outra ideia interessante, mas falha no todo; e
Romasanta é um grande erro. Enquanto isso, Balagueró entregou
curtas muito mais profundos e, indo além, ofereceu o melhor filme da
série Películas para Dormir (Na Teia do Mal). Como se não fosse o
bastante, A Seita é eficiente e Mientras duermes esbanja a tensão e
a agonia de filmes como [Rec] – não deixando, acho eu, espaço
para dúvidas.
O melhor: [Rec]
Por onde começar: A Seita;
4. Christopher Smith
Nem em um milhão de
anos, eu apostaria que o mesmo sujeito que havia entregado um
thriller de horror tão trapaceiro quanto Plataforma do Medo seria o
mesmo que produziria filmes como os tragicômicos Mutilados e Morte
Negra, além do genial Triângulo do Medo. E se, apesar de escancarar
a violência, as sequelas da peste e criar situações cômicas com a
tragédia, o roteiro não acompanha completamente o talento de Smith
em Morte Negra, o mesmo não se pode dizer quando ele tem controle
narrativo total. Em Mutilados, por exemplo, subverte as expectativas
pela sua sutil ironia e debocha brilhantemente do gênero – algo
que chega ao auge numa hilária cena em que um urso caminha por trás
dos personagens. Sem poder deixar de citar o seu melhor trabalho,
Triangle. Nele, somos surpreendidos pela complexidade maternal da
protagonista, que está muito longe de ser uma heroína comum e
completa. O diretor é competente, igualmente, na parte técnica
(equilibrando planos mais fechados e abertos para demonstrar
claustrofobia e isolamento) e na profundidade psicológica que a
narrativa ganha no segundo ato. Chega a impressionar.
O melhor: Triângulo do Medo
Por onde começar:
Mutilados;
3. Ben Wheatley
Como definir
Wheatley como diretor de gênero? Não há como. Ele explora vários
durante seus filmes e brinca com perspectivas. Pegue Turistas de
exemplo, favor não confundir com o famoso de John Stockwell, e
observe como não tem como taxar aquele roteiro de formulaico ou algo
do tipo. Alice Lowe e Kenneth Hadley não representam um casal normal
e o contexto que estão inseridos, tampouco. Apesar da classificação
de comédia, é difícil enxergar a graça. O crime e a desilusão
social são muito mais óbvios. Kill List, idem, começa com um drama até
culminar numa paranoia crescente e intrigante. Apenas a abordagem do
curta U is for Unearthed é mais clássica, apesar de muito divertida
e excepcional. Ben Wheatley, no fim das contas, faz parte daquela
seleta categoria: “sim, eu daria dinheiro para dirigir mais
filmes”.
O melhor: Kill List
Por onde começar: U is for Unearthed;
2. Ti West
Particularmente, eu
não consigo resistir a diretores que bebem da água de Mario Bava,
Lucio Fulci e Dário Argento. E é exatamente isso que Ti West está
acostumado a fazer em seus longas-metragens mais atuais. Afora o
divertidíssimo Ataque dos Morcegos, é difícil esquecer que o meu
segundo diretor favorito de terror dirigiu coisas como o
incrivelmente estúpido Cabana
do Inferno 2,
mas isso é facilmente ofuscado pelas homenagens setentistas e
oitentistas com que desenvolveu Hotel da Morte e A Casa do Demônio.
Já existe essa marca mais clássica nos filmes do cineasta e é
compreensível a forma como a ideia antiga pode ser usada a seu favor
em nossos tempos atuais. O domínio de câmera que West possui, por
exemplo, demonstra que a tensão não é instaurada somente por um
aumento repentino de trilha sonora, mas pela perspicácia dos planos
e enquadramentos que ilimitam a tensão. Note, no filme Hotel da
Morte, a cena em que o diretor focaliza quase em primeira pessoa a
protagonista e vamos acompanhando o seu olhar, apenas o que ela vê,
ressaltando perfeitamente a angústia sofrida naquele instante. Para
ele, um bom filme de terror é feito da extração de tensão do
incômodo do silêncio. E é curioso perceber que se a inspiração
provém dos grandes diretores das décadas passadas, todos eles devem
ou iriam reconhecer que há um novo mestre do terror nas redondezas.
O melhor: A Casa do Demônio
Por onde começar:
Hotel da Morte;
1. James Wan
Caso tivesse
dinheiro e talento, Invocação do Mal seria exatamente o filme de
terror que eu faria. Ver um filme de terror do James Wan, para um
amante do gênero, é como se reconhecer atrás das câmeras. Brincar
de desvendar os caminhos que serão percorridos em determinado
momento e aonde ele nos levará na tensão construída até ali.
É ver um apaixonado. Essa é a melhor definição para o malaio. A
forma como expõe a linguagem e as artimanhas confidenciam esse amor:
para Wan, não é o que se cria, mas como trabalhar o que já foi
criado, o segredo. Afinal, o que poderia ser considerado original em
2013?! Não há novidades em seus filmes, mas o ápice do formalismo
e da estrutura clássica. Wan aprecia as atmosferas mais sangrentas e
misteriosas, como seus Jogos Mortais, Gritos Mortais e Sentença de
Morte evidenciam, mas é justamente em sua aura classicista que seu
talento é mais categorizado. Apresenta o que o cinema era e o que as
novas histórias de terror fizeram dele. E nenhum outro faz isso como
ele nos tempos atuais.
O melhor: Invocação do Mal
Por onde começar:
Jogos Mortais.
Nos tempos em que
vivemos, declarar que o terror morreu há muito tempo é algo tão
(in)cabido quanto afirmar que a comédia só existiu com Buster
Keaton, os Marx e Charles Chaplin, esquecendo-se de nomes como
Jacques Tati e tantos outros. Tudo está sujeito a se reestruturar,
cabe a nós identificar e extrair o que vem de bom também.
6 comentários:
FALTOU O GUILHERMO DEL TORO.
Eu amo a série de terror e suspense, são os meus favoritos porque há uma continuidade na história particular de cada personagem. Este é o gênero que eu prefiro e agora eu estou vendo Penny Dreadful,uma das Series HBO , que apenas duas temporadas já está provando popular, porque é um proposta de terror e suspense que se você viu, você ama
Rob Zombie um dos melhores !!
OUXE CADE O GUILHERMO DEL TORO.
Postar um comentário