23 de fevereiro de 2012

The Innkeepers



Idem, EUA, 2011. Direção: Ti West. Roteiro: Ti West. Elenco: Sara Paxton, Pat Healy, Jake Ryan, Brenda Cooney e Kelly McGillis. Duração: 100 minutos.

Depois de poucos filmes como diretor é interessante notar como Ti West já criou um estilo de filmagem próprio, mesmo baseando-se em um clima mais oitentista do gênero e buscando inspirações em diretores como Mario Bava, John Carpenter, Polanski e Argento. Em seu segundo grande filme de terror (o primeiro foi “A Casa do Demônio”), West demonstra extrema segurança com a câmera e segue o mesmo caminho de filmes como “Sobrenatural” ao construir personagens humanos, suficientemente inteligentes e com uma sintonia ímpar – transformando uma simples idéia antiga em uma poderosa ferramenta do medo.

Escrito pelo próprio West, a história gira em torno de Claire (Sara Paxton) e Luke (Pat Healy) que são os dois últimos funcionários do centenário hotel Yankee Pedlar Inn que está finalmente encerrando as atividades. O hotel, porém, tem sido fomentado por rumores acerca de possíveis presenças sobrenaturais há tempos, e Luke aproveita para criar um website colocando essas informações. E é antes de fechar as portas, em meio ao vaivém dos últimos hóspedes, que os dois decidem testar se de fato o hotel é mal-assombrado...


Priorizando sempre pela naturalidade em cena de seus dois protagonistas e estabelecendo uma química notável entre ambos, Ti West acerta, principalmente, ao administrar verdadeira tensão a sua narrativa. Também montador do filme, West prefere dar o ritmo e desenvolvimento necessário em seus dois protagonistas do que simplesmente apelar para sustos gratuitos a cada dois minutos. Assim, o diretor não apenas é certeiro na tensão instalada durante os dois primeiros atos do filme, por não acontecer grandes sustos, como consegue perfeitamente quebrar expectativas e humanizar mais seus dois protagonistas.

E é justamente nessa naturalidade e honestidade da dupla principal que reside o maior trunfo do filme. Sendo admirável, por exemplo, na declaração sincera da jovem Claire: “Tenho inveja de você ter visto, mas se eu visse algo, teria muito medo!”. Além disso, não só a química dos dois atores fica evidente, como também o diretor é esperto ao intensificar o sarcasmo dos dois – observe a cena em que Claire foge de uma cafeteria e (com belo trabalho de montagem) a jovem se atira no sofá, com Luke dizendo: “Aquela guria irritante ainda está lá?” ou quando uma hóspede destrata Claire e Luke responde: “Sei onde é seu quarto, trabalho aqui!”, algo que fica ainda melhor quando os dois tocam suas duas mãos em um sinal de vitória.

Contudo, o que mais impressiona são a direção e segurança que West tem ao produzir seus planos. E se o diretor sabe à hora exata de administrar a tensão e causar agonia no espectador (note, por exemplo, a cena final ou quando Luke vai mostrar um vídeo para Claire), a fim de quebrar expectativas, o trabalho de câmera também é notável nas abordagens que dá ao ambiente e seus personagens. Observe a cena em que o diretor focaliza quase em primeira pessoa a personagem e vamos acompanhando o seu olhar, apenas o que ela vê, algo tão agonizante quanto a câmera no ventilador em “Atividade Paranormal 3”. Da mesma forma, West parece entender como cada plano cinematográfico funciona (diferente de boa parcela dos realizadores atuais), assim, é admirável a cena em que o diretor realiza um plano holandês na cena dos dois protagonistas bêbados pensando em ir ao porão ou quando Claire fica sozinha depois de ver um morto e o plano é mais uma vez utilizado para mostrar a instabilidade da personagem naquele momento.

Ainda, o diretor também é certeiro na profundidade de campo utilizado nos corredores do hotel – note como os corredores vão ficando maiores e mais estreitos quando Claire se aproxima do porão –, além da utilização da grande angular para demonstrar a solidão naquele local e o isolamento do principal cômodo do hotel. Não satisfeito, West também respira da melhor forma o terror oitentista ao trazer aspectos simples, como o conhecido momento em que um piano toca sozinho, grandes escadarias ou no fato de uma de suas hóspedes ser médium.

Competente ao trazer humanidade (algo ressaltado pelo fato de ser asmática) e um misto de curiosidade e medo, Sara Paxton é uma grata surpresa ao conferir honestidade e insegurança a ações de sua personagem e dar o carisma suficiente para que torcemos por ela na narrativa. Do mesmo modo, Pat Healy cria um igualmente amedrontado Luke que é eficiente em não transparecer suas reais intenções com o site e Claire, assim como, mantém-se sarcástico na medida certa – e note como o personagem diz para Claire “Faria qualquer coisa por você” e depois a segue até o porão, mesmo percebendo o quão absurda é aquela constatação.

Embora seja quase inexplicável a insegurança de West no final do terceiro ato ao preferir tolices e obviedades, como a personagem simplesmente indo em direção ao único lugar que não deveria ir ou mostrando um detetive identificando um corpo na saída do hotel só para mostrar de quem é aquele corpo, West dá a sua narrativa sempre a instabilidade e curiosidade necessária que um filme de terror/suspense deve ter. E se notarmos que o último traveling que West utiliza aqui é muito parecido com o do seu filme anterior (“A Casa do Demônio”), vemos o quanto o diretor se aperfeiçoou e adquiriu mais segurança atrás das câmeras. Sendo extremamente angustiante o seu último plano com a câmera parada por minutos, mantendo nossos nervos até a última gota. E se a inspiração veio de diretores como Bava, Polanski e (do sarcasmo) de Carpenter, não resta dúvidas que ao final de The Inkeepeers, todos eles devem ter reconhecido que há um novo mestre do terror nas redondezas. 

2 comentários:

Márcio Santos disse...

Fala Andrey

Gostei bem mais de The House of the Devil do que de Innkeepers. O estilo anos 70, uma mescla de Carpenter com De Palma (ela de vermelho é pura Carrie) e Craven me convenceram mais do que a retomada oitentista de Innkeepers. Ainda assim, palmas para o Ti West por ser um diretor que sabe da necessidade de se criar um clima de suspense/terror e entende como ninguém como movimentar a sua câmera. Só falta mesmo ele fazer um filme de estilo próprio, sem resgatar essa ou aquela década especifica.

Márcio Sallem disse...

Andrey, você defendeu bem o filme, mas exagerou ao chamar Ti West de novo mestre. Suas ideias são boas e mal executadas: não senti tensão, medo e química. A bomba de asma é apenas uma muleta de interpretação e a subversão do gênero só acontece em tons de homenagem (o tom oitentista predomina). Bom, porém, saber que tem mais alguém que admira "Sobrenatural" como eu.

Abraços.