Jack and Jill, EUA, 2011. Direção: Dennis Dugan. Roteiro: Adam Sandler e Steve Koren. Elenco: Adam Sandler, Al Pacino, Katie Holmes, Elodie Tougne, Rohan Chand, Eugenio Derbez e David Spade. Duração: 91 minutos.
Quando escrevi sobre Norbit em 2007, disse que o filme representava o fundo do poço de um ator que perdeu o rumo de sua carreira e que começara a apelar para um humor gratuito, ofensivo e repugnante. Em “Cada um tem a gêmea que merece”, Sandler quer testar uma alternativa a Norbit e produz o que talvez seja seu pior filme, unindo escatologia, preconceitos disfarçados de piadas, estupidez e retardo mental e social de seus protagonistas.
Escrito pelo próprio Sandler e Steve Koren, a “história” gira em torno de Jack (Adam Sandler) que mora em Los Angeles com sua esposa Erin (Katie Holmes) e os filhos. Jack é um “publicitário de sucesso”, mas sua vida muda radicalmente durante a comemoração do Dia de Ação de Graças quando recebe a visita de sua irmã gêmea, Jill, uma grosseira moradora do Bronx.
Demonstrando toda a insegurança e completa incoerência desde o começo do longa, com um tipo de falso documentário, Sandler não apenas é estúpido na grosseria de sua narrativa, como nem sabe como ser grosseiro. Assim, o único objetivo do prólogo com os gêmeos, acaba sendo mostrar que existem irmãos tão idiotas quanto aqueles vividos por Sandler – como quando um dos gêmeos brinca com o fato de ter um rim sempre disponível ou nos irmãos que fazem sons de baleias.
Da mesma forma, chega a ser notável o talento de Sandler para o absurdo, quando vemos nos créditos iniciais os gêmeos crescendo e a menina (bebê) apalpando a bunda do irmão ou, noutra cena, as duas crianças com a bunda de fora. Assim como, a fase pré-adolescente dos dois é mostrada sempre tratando Jill como uma garota insuportável e mesquinha, além de salientar a grosseria da garota quando ela passa na frente da câmera mostrando os pêlos nas axilas, muito mais desenvolvidos que o do irmão.
Não satisfeito, Sandler, como todo diretor/roteirista com incompetência para comédia, utiliza cenas escatológicas a todo o momento sem nenhum tipo de pudor – e basta observar que até o comercial que mostra o “publicitário de sucesso” que Jack é, fala sobre diarréia ou nas flatulências soltadas na patética cena do cinema.
Como se não fosse o bastante, é ainda mais bizarro ver Sandler rindo e apontando para as próprias piadas, como se fosse um adolescente no colegial tentando impressionar os amiguinhos. Assim, o filme quase consegue ser engraçado em cenas que Jack fala sobre anti-semitismo ou outros assuntos politicamente incorretos e sempre trata de exclamar suas surpresas como se ele se achasse muito inteligente por estar brincando com aquilo. Note, por exemplo, quando um personagem fala sobre a esposa de Jack não gostar de judeu e Sandler responde “Uau, isso foi anti-semita" ou quando o ator tenta lembrar o episódio envolvendo Michael Richards. Da mesma forma, Sandler chega a ser tão infantil que tenta disparar contra o espectador tudo que possa soar como algo polêmico, como na cena do jantar em que Jill começa a dizer: “Você é um sem-teto, não, você é um gordo, não, você é da Al-Qaeda!”.
Aliás, surpreende que Sandler não use piadas como “você é tão gordo que...” durante a narrativa, já que até quando fala sobre o ateísmo de um personagem, os outros adolescentes da festa de Jack começam a gritar com ele e sugerir quase num clima de recreio estudantil: “Briga, briga, briga!”. Em contrapartida, mesmo que Sandler não utilize esse tipo de piada de maneira demonstrativa, elas estão lá – observe, por exemplo, quando Jill pergunta o que é Skype, algo que certamente poderia ser trocado por: “Você é tão burra que não sabe diferenciar um Skype de uma calculadora”.
E enquanto Adam Sandler cria Jack como um sujeito abobado e que parece ser a mesma versão de pai de família dos outros filmes do ator (infantil, não quer assumir grandes responsabilidades e tem algum problema com algum familiar), Jill surge como Sandler de peruca. Chorona, insuportável, resmungona, preconceituosa, com sérios problemas mentais e sem nenhum timing, Jill representa tudo de pior nas comédias de Sandler, Murphy e outros. Assim, sempre soa normal a ignorância marcante da personagem quando insiste em dizer que não é tal filme (algo que se repete tanto na narrativa que é certo que Sandler deve ter achado muito engraçado) ou quando anda de Jet Sky em uma piscina.
Mas é ao final do filme, depois de fazer um comercial para o personagem de Sandler dançando e cantando, que surge o momento mais genuíno e honesto do longa nas palavras de Pacino para Jack: “Queime isso. Isso nunca deve ser visto por ninguém”. E, certamente, quando, noutro momento da narrativa, Jack diz rindo “Vai ser uma péssima noite. Vai ser uma péssima noite”, é uma pena que não tenhamos percebido que aquele aviso era para nós.
5 comentários:
Nossa, a parte em falso documentário é realmente deplorável. Fiquei esperando que surgisse alguma lógica, ou que tivesse alguma graça, mas foi difícil. E aquela última cena, depois dos créditos finais, com um cara gordo "inflando" a própria barriga?! Muito nada a ver.
Fico feliz em saber que não fui o único a "abominar" esse filme. Fui com amigos ao cinema e sai de lá taxado de "sem humor", crítico excessivo, enfim...
Pior filme do ator / diretor, uma das piores e mais má escritas comédias que vi na vida. É um filme que merece todas as suas críticas e todas as "Framboesas de Ouro".
Abraço.
Mas esse filme entrou pra história por ter ganho todos os prêmios do Framboesa de Ouro. Acho que muita gente vai querer assistir e tentar encontrar todos esses méritos artísticos dessa obra.
Ingênuo e estúpido,além de preconceituoso; essas são as principais características desse deplorável filme de comédia(o pior que eu já vi na vida),além de não ensinar nada ao nossos jovens,valoriza o preconceito,como se fosse algo correto.
Alguém me fala 10 características do filme rapido4
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