24 de fevereiro de 2017

Um Limite Entre Nós

Fences, EUA, 2016. Direção: Denzel Washington. Roteiro: August Wilson, baseado na peça de sua própria autoria. Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson. Duração: 2h19min.

Proporcional as suas analogias, Fences carrega certa compatibilidade com Beisebol. Os jogadores são trocados por atores que revezam seus papeis na defesa e no ataque continuamente, fazendo com que as consequências de suas ações ajam naturalmente no desenrolar da narrativa. Isso nem sempre dá certo, claro, como nos mostra uma das cenas mais significativas do longa-metragem de Denzel Washington: a confissão de Troy sobre seu caso extraconjugal. Trazido à tona de maneira pobre e forçada, a cena apenas serve para ilustrar um choque entre o casal sem que isso seja antecipado em nenhum outro momento. Na sutileza, no entanto, Denzel consegue resguardar a segurança de sua trama. Quando Gabe corre pelas ruas delirando sobre o juízo final, uma placa de Pare se destaca. O segredo de Fences, afinal, reside na sua simplicidade.

Percebendo isso, Denzel deixa a sua câmera agindo constantemente em harmonia com os monólogos e discussões de seus personagens. Aproveitando seu cenário teatral, ele os coloca em palanques para a exposição de seus pensamentos, fazendo com que o diálogo seja sempre a principal ferramenta da narrativa. A imagem pouco influencia. A condução é calculada, próxima, quase íntima. Denzel entende o que precisa fazer para solidificar sua decisão de filmar quase que uma peça teatral sem interlúdios. De tal modo, é comum que enquanto uma discussão seja travada acerca de dinheiro, uma personagem fique andando para lá e para cá ao fundo, fazendo com que essa consonância fique mais nítida.

Troy Maxson, o personagem de Denzel, precisa ser o centro da atenção. Seu rancor em não ter conseguido mais do que poderia na vida faz com que ele precise invariavelmente contar suas histórias e trazer a tona seu passado. A sua complexidade está nas ligeiras variantes que o ator proporciona, como nas diferentes maneiras com que lida com Gabe e seu filhos, Lyons e Cory: a culpa por um e o julgamento dos outros.

Viola Davis, por sua vez, oferece uma empatia marcante para Rose. A parte compreensiva do casal, ela tenta administrar todos os relacionamentos da casa, soando como o grande porto-seguro da família. A cena em que finalmente confronta Troy sobre seus 18 anos, apesar de apelativa, sublinha o talento de Davis.  


Ancorado, principalmente, em suas atuações principais, Fences é um filme eficiente acerca de relacionamentos, de cicatrizes que podem ocorrer durante a jornada e o passado sempre influenciando o presente. 

Nenhum comentário: