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A Cure for Wellness, Alemanha/EUA, 2016. Direção: Gore
Verbinski. Roteiro: Justin Haythe, baseado na história de Haythe e Gore
Verbinski. Elenco: Dane DeHaan, Jason Isaacs, Mia Goth, Ivo Nandi, Adrian
Schiller, Celia Imrie, Harry Groener, Magnus Krepper, David Bishins. Duração:
2h26min.
Na década de 50/60, os
filmes que se destacavam no cinema de terror eram aqueles que, ao fugir da
caricatura proposital da época, principalmente nos EUA, apostavam nos traumas
psicológicos para render sequências assustadoras diante da impotência na crueldade
vista em tela. São filmes como As Diabólicas, Os Inocentes ou O Que Terá
Acontecido a Baby Jane, que incitaram outros diretores americanos a tratar o
thriller psicológico como uma ferramenta poderosa do terror, onde muitas vezes
o que observávamos era uma metáfora para nossos próprios problemas mundanos de
isolamento, depressão e falta de autocontrole. Assim, quando Lockhart visualiza
um veado preso entre escombros durante sua visita a "civilização",
com uma perna presa, sem poder se locomover e tomando água infectada, ele não está vendo apenas um animal, mas sua
própria fragilidade como criatura – sua ineficácia ante aos desejos de outros.
Quem representa essa
opressão frente ao personagem de Dehaan não é o capitalismo selvagem que é
citado logo no primeiro ato, mas o maior vendedor de todos – Volmer, que de
alguma forma fascina Lockhart por lhe vender algo muito maior do que jamais pensou:
um sonho. Ao menos em princípio, é o que segura Lockhart: a sua infantilidade perante
ao novo, ao desconhecido, ao que lhe desperta curiosidade. Desta forma, o
instituto apenas lhe deixa os pensamentos quando encontra Hannah. Mas é sempre um
tênue Volmer que arma um conflito entre sua mente e seu corpo. Nunca Hannah,
que fica à parte da disputa. Jason Isaacs personifica o diretor da instituição
com uma riqueza de nuances admirável, onde se dá para perceber diversas
homenagens as múltiplas facetas de Vincent Price nos anos 60, com seus doutores
dispostos a todos os tipos de sacrifícios e o exagero teatral característico
dessas personas. Volmer é Roderick Usher, é Nicholas Medina, é Erasmus Craven,
é Robert Morgan, é Prince Prospero. Um extremista que chegou até onde muitos
não chegaram: a descoberta da imortalidade. A cura da morte.
Essa pretensão do
roteiro de Justin Haythe e Gore Verbinski encontra um respaldo gigante na
maneira como o diretor nos insere na trama. Sempre aproveitando os sons
ambientes para causar agonia e temor, Verbinski já nos mostra o choque da morte
num simples infarto, que não serve apenas para indicar o falecimento do
personagem que teria sua jornada até o Centro de Volmer, mas para denunciar
exatamente o que o filme trataria: a nossa eterna briga com o corpo, que passa
a ser nosso principal inimigo. Volmer encontra uma maneira de se desvirtuar de
seu próprio corpo. Criar camadas para que possa parecer quem ele queira. Moldar
o mundo a sua forma. Desta forma, o cineasta sugere a vida eterna sem jamais
entrar nesse mérito. Não explicitamente, ao menos. E esse é seu charme.
Pontuando sua narrativa
com inclusões de situações que podem apontar para uma confusão mental do
protagonista, como suas constantes visões ou sua paranoia típica de paciente,
Verbinski brinca com outros exemplares do gênero para dar ainda mais substância
para uma trama que seria simplista nas mãos de outros cineastas (o cantarolar
que homenageia Os Inocentes é tão sedutor quanto as cenas fortíssimas de
extrações dentárias). Desta forma, numa narrativa de repetições (e como não se encantar
pela repetição suprema, o incêndio?), Volmer se torna vítima das próprias
circunstâncias que fizeram suas pesquisas renascerem. Uma ironia fina de um
destino esperado.
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