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Hell
or High Water, EUA, 2016. Direção: David Mackenzie. Roteiro:
Taylor Sheridan. Elenco: Dale Dickey, Ben Foster, Chris Pine, William Sterchi,
Gil Birmingham e Jeff Bridges. Duração: 1h42min.
No
cenário pós-bolha econômica que o mundo vive, é muito fácil criar um paralelo
entre a ficção demonstrada no tragicômico A Qualquer Custo e a realidade
norte-americana. Dialogando sobre política externa e interna, o filme do interessante
David Mackenzie (Sentidos do Amor) se preocupa bastante em ridicularizar o
preconceito americano criado por políticas cada vez mais antifronteiras e, ao
mesmo tempo, apontar com cinismo os foras-da-leis modernos que decidem usar
bancos, após assaltá-los, para conseguir ficar com seu patrimônio próprio.
Nesta
ótica de faroeste contemporâneo, onde os cavalos são trocados pela quantidade
deles no motor de veículos potentes e as estradas são asfaltadas, Mackenzie é
honesto desde o princípio em sua crítica ao sistema, quando lemos "três
idas ao Iraque e nenhuma ajuda para nós" pichado em um muro – caçoando da
hipocrisia governamental. Ao mesmo tempo que a trama vingativa dos irmãos
interpretados (com excelência) por Chris Pine e Ben Foster faz chacota com
algumas das particularidades texanas mais polêmicas ("o porte de armas
complicou os assaltos a banco"), o cineasta constrói a ideologia do seu
filme naturalmente, culminando na compreensão final do xerife de Jeff Bridges
sobre a cumplicidade dos irmãos.
E
se a fotografia de Giles Nuttgens se encarrega de aproveitar em tomadas
panorâmicas as grandes estradas que os dois irmãos percorrem para chegar aos
seus destinos, os raccords entre os diálogos e as canções sempre funcionam bem
– meu favorito é uma fala de Long Gone para a música You Ask Me To – e os
diálogos cínicos de Sheridan são o afrodisíaco de A Qualquer Preço.
Denunciando o preconceito com imigrantes, não à toa o xerife de Bridges faz o
típico texano clássico, os melhores momentos do longa-metragem passam por essa
autochacota, como um personagem se sentindo surpreso com o fato dos assaltantes
não serem mexicanos ou Alberto (Birmingham) perguntando para Marcus se ele era
cristão e este respondendo que sim, mas que não era um idiota.
Essa
falta de pudor em se autoparodiar e chacotear seus próprios personagens torna A
Qualquer Preço um dos filmes mais interessantes de 2016.
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