2 de fevereiro de 2017

A Qualquer Custo

Hell or High Water, EUA, 2016. Direção: David Mackenzie. Roteiro: Taylor Sheridan. Elenco: Dale Dickey, Ben Foster, Chris Pine, William Sterchi, Gil Birmingham e Jeff Bridges. Duração: 1h42min.

No cenário pós-bolha econômica que o mundo vive, é muito fácil criar um paralelo entre a ficção demonstrada no tragicômico A Qualquer Custo e a realidade norte-americana. Dialogando sobre política externa e interna, o filme do interessante David Mackenzie (Sentidos do Amor) se preocupa bastante em ridicularizar o preconceito americano criado por políticas cada vez mais antifronteiras e, ao mesmo tempo, apontar com cinismo os foras-da-leis modernos que decidem usar bancos, após assaltá-los, para conseguir ficar com seu patrimônio próprio.

Nesta ótica de faroeste contemporâneo, onde os cavalos são trocados pela quantidade deles no motor de veículos potentes e as estradas são asfaltadas, Mackenzie é honesto desde o princípio em sua crítica ao sistema, quando lemos "três idas ao Iraque e nenhuma ajuda para nós" pichado em um muro – caçoando da hipocrisia governamental. Ao mesmo tempo que a trama vingativa dos irmãos interpretados (com excelência) por Chris Pine e Ben Foster faz chacota com algumas das particularidades texanas mais polêmicas ("o porte de armas complicou os assaltos a banco"), o cineasta constrói a ideologia do seu filme naturalmente, culminando na compreensão final do xerife de Jeff Bridges sobre a cumplicidade dos irmãos.

E se a fotografia de Giles Nuttgens se encarrega de aproveitar em tomadas panorâmicas as grandes estradas que os dois irmãos percorrem para chegar aos seus destinos, os raccords entre os diálogos e as canções sempre funcionam bem – meu favorito é uma fala de Long Gone para a música You Ask Me To – e os diálogos cínicos de Sheridan são o afrodisíaco de A Qualquer Preço. Denunciando o preconceito com imigrantes, não à toa o xerife de Bridges faz o típico texano clássico, os melhores momentos do longa-metragem passam por essa autochacota, como um personagem se sentindo surpreso com o fato dos assaltantes não serem mexicanos ou Alberto (Birmingham) perguntando para Marcus se ele era cristão e este respondendo que sim, mas que não era um idiota.


Essa falta de pudor em se autoparodiar e chacotear seus próprios personagens torna A Qualquer Preço um dos filmes mais interessantes de 2016. 

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