8 de dezembro de 2013

Sobrenatural: Capítulo 2

Insidious: Chapter 2. EUA, 2013. Diretor: James Wan. Roteiro: Leigh Whannell, baseado numa história criada pelo próprio e por James Wan. Elenco: Patrick Wilson, Rose Byrne, Ty Simpkins, Lin Shaye, Barbara Hershey, Steve Coulter, Leigh Whanell, Angus Sampson, Andrew Astor, Hank Harris, Jocelin Donahue, Lindsay Seim, Danielle Bisutti, Tom Fitzpatrick. Duração: 106 min.

A primeira coisa que ouvi de um casal que sentava atrás de mim na sessão de Sobrenatural: Capítulo 2 foi a reflexão: “Esse diretor é bom, mas aquele de Invocação do Mal é muito melhor!”. Antes de crucificar a afirmação impensada, porém, é importante ressaltar que ela não está 100 % incorreta. Ainda que James Wan seja, obviamente, o diretor dos dois longas-metragens – num deles, o acerto é claramente muito maior que o outro: seja em homenagens quanto na estrutura pensada. Todavia, é inegável que, mesmo que esse exemplar se mostre uma tentativa frustrada de um cruzamento de Psicose com Poltergeist, a capacidade que o diretor possui de explorar a tensão continua sendo impressionante.

Escrito por Leigh Whannell, que também criou a história juntamente com James Wan, a trama acompanha os acontecimentos que sucedem o primeiro filme. Tentando explicar as “dúvidas” que ficaram no anterior, o roteirista expõe o destino da família Lambert, que tenta se reestruturar na casa da mãe de Josh (Hershey). Investigada pela polícia sobre a morte de Elise, a família também passa a ser perseguida novamente por aparições.

E é nos guiando por uma imensa porta vermelha, aproximando-se aos poucos de Renai Lambert sendo interrogada sobre os acontecimentos do longa anterior, que Wan já demonstra o seu controle narrativo absoluto. Se o roteiro de Whannell quer ser explicativo demais, por exemplo, o diretor trata de criar uma coesão interessante que consegue permitir que esqueçamos os absurdos que estamos visualizando: assim, revelando um equilíbrio inteligente, observe o vermelho presente nas cortinas, o reflexo da luz nos portões vermelhos que ficam na frente da casa ou a grande porta vermelha que nos mostrará onde a “mãe da morte”, de fato, mora. Igualmente, o cineasta faz bem o uso da atmosfera clássica, usando diversões antigas para produzir tensão: seja em brincadeiras de quente e de frio ou no uso do telefone sem-fio, que acaba tendo um significado ainda maior ao oferecer uma ligação entre sonho e realidade. Wan, além disso, é eficiente em colocar dicas aqui e ali acerca de quando/onde ocorrerá o susto – e um belo exemplo é quando notamos uma pessoa sentada no canto da sala antes dela aparecer para Renai; algo que, diga-se de passagem, já havia sido usado no primeiro filme.

Por outro lado, o roteiro não exibe o mesmo charme ao tratar das sequelas deixadas na família e usa e descarta personagens como prefere. Qual é o destino da investigação policial, por exemplo? Por que Josh é esquecido? Ele não é mais um suspeito? A ausência de Lorraine por dias não é sentida pela família? Só o personagem de Wilson não consegue ver outros espíritos no limbo, por quê? E se é pelo fato de não estar morto, por que os espíritos aparecem para ele logo depois? Ao mesmo tempo, Whannell é muito mais brega ao compor os seus diálogos, investindo em coisas como um personagem sussurrando que pressente uma presença maligna, que vivos não os podem ver ou que alguém avistado um pouco antes já havia morrido há dias. Da mesma forma, a tentativa de criar uma persona humana para o demônio que assombrava a família é tão intragável que quase desqualifica toda a proposta do anterior.

É uma pena que James Wan ainda tente dar razão a trama de Whannell e passe a homenagear sem a melhor das intenções filmes como Psicose (e, além do filho que se veste de mulher para matar, a própria casa dos Lamberts é parecidíssima com a de Bates), Poltergeist (o armário e a ligação de um mundo ao outro por um cordão), O Iluminado (Wilson no melhor estilo Jack Torrance tentando matar a sua família) e, sendo um pouco mais otimista, A Hora do Pesadelo (as cicatrizes deixadas pelos sonhos num lençol). Nesta perspectiva, a pergunta levantada por um personagem no segundo ato é bem pertinente: “(...) mas o que estamos procurando?”.

Porque, no final das contas, Sobrenatural: Capítulo 2 é ainda menos sutil que seu antecessor na forma como lida com o seu ambiente opressor e acaba sendo apenas um caça-níquel dirigido por alguém talentoso. Os Lamberts mereciam uma conclusão melhor.  
 

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