23 de outubro de 2013

Kick-Ass 2

Idem, EUA/Inglaterra, 2013. Direção: Jeff Wadlow. Roteiro: Jeff Wadlow, baseado nos quadrinhos de Mark Millar e John Romita Jr. Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Chloë Grace Moretz, Morris Chestnut, Clark Duke, Amy Anzel, Claudia Lee, Augustus Prew, Donald Faison, Garrett Brown, Christopher Mintz-Plasse, John Leguizamo, Yancy Butler, Robert Emms, Lindy Booth, Daniel Kaluuya, Olga Kurkulina, Jim Carrey. Duração: 103 min.

Kick-Ass 2 carrega uma conhecida abordagem de sequências: garantir na repetição da fórmula do primeiro filme elementos que dão uma sensação confortável e aparente de certa profundidade nos protagonistas. Por exemplo: alguém deverá morrer para trazer algum tipo de definição para um deles, as sequências de ação irão requisitar mais sanguinolência e assim por diante. É uma pena que a escolha para dirigir a continuação, portanto, seja o incapacitado Jeff Wadlow, que transforma uma bobagem divertida em um condensador de aspectos condenáveis e frustrantes.

Escrito pelo próprio Wadlow, que tem no currículo filmes como Cry-Wolf e Caçados, a história regressa para pouco tempo depois do final do primeiro filme. Mindy passou a morar com o detetive Marcus Williams, quem não gosta nada do passado heróico da garota e a força a se enturmar entre os “mais privilegiados” do colégio. Enquanto isso, Dave começa a treinar técnicas de combate e entra para um grupo chamado Justiça para Sempre, coordenado pelo ex-mafioso Coronel Estrelas e Listras (Carrey), que utiliza um código moral muito diferente daquele de Big Daddy.

E é exatamente nesse código duvidoso que começamos a nos divertir menos com a narrativa. Diferente do primeiro filme, onde a violência desregrada era um fator claro na realidade dos personagens, a política anacrônica do olho por olho e dente por dente é extremamente falha por já apontar que os próprios “heróis” acabam sendo os responsáveis por muitas das situações que são originadas. Dando-se conta disso, aliás, Wadlow até tenta criar algum tipo de filosofia existencialista para o grupo ao fazê-los refletir sobre estar no mundo real, não nos quadrinhos. Mas isso apenas acaba indicando o quanto o diretor está completamente perdido em sua estrutura – e basta observar o clima cartunesco que cria com seus vilões, principalmente na forma preconceituosa como encara Morte Negra e Mother Russia, ou como sabota, assim, a montagem de Eddie Hamilton, que pensa na história como se fosse proveniente das HQs. Um preconceito, além disso, que tenta se imacular na forma como é expressado (“esse jeito homofóbio faz você parecer super-gay” é bem claro).

Tornando-se também explicativo demais acerca dos acontecimentos passados (“o seu pai morreu em um incêndio. Não, ele morreu pelas mãos do Kick-Ass, um assassino”) e tentando sem sucesso brincar com o caricatural – o vilão matar a mãe, utilizar uma roupa de sadomasoquismo como fantasia e se chamar de MotherFucker –, Wadlow, como citado, ainda encontra tempo para pregar contra a violência usando a própria violência. Assim, uma personagem corta a mão de um assaltante como se fosse um aviso sem nenhum tipo de remorso e até a sugestão de um pedófilo ter seu pênis cortado é levantada. Como se não fosse o bastante, o diretor acredita que mostrar cenas escatológicas em um colégio são dignas de aprofundamento. Vale destacar, inclusive, que a cena em que Mindy olha um vídeo de Union J e o diretor focaliza a sua reação sexual é tão infantil quanto a sequência de O Tempo e o Vento que mostra Cléo Pires em uma água para aliviar sua excitação.

Finalizando o terceiro ato com uma batalha entre todos os personagens vistos até então, algo que atualmente muitos filmes parecem julgar necessário, Kick-Ass 2 erra em tudo o que seu antecessor acertou. E é triste ver o que poderia surgir como uma franquia interessante se tornar algo tão assustador.

                            

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