7 de maio de 2013

Em Transe


Trance, Inglaterra, 2013. Direção: Danny Boyle. Roteiro: Joe Ahearne e John Hodge. Elenco: James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel, Danny Sapani, Matt Cross, Wahab Sheikh e Mark Poltimore. Duração: 101 min.
Em Transe é o típico filme que, com medo de que sua trama principal não seja o bastante e o público perceba suas limitações, introduz uma quantidade absurda de twists no roteiro para parecer muito mais inteligente do que realmente é. Uma prática comum e que, infelizmente, costuma funcionar, já que uma parcela do público se satisfaz com surpresas gratuitas. Utilizando como base a polêmica questão da hipnose, o filme não se restringe ao trauma de uma pessoa que perdeu a memória, mas busca abranger todas as questões possíveis: seja o que é real ou não até a noção extrema de vingança.
Escrito por Joe Ahearne e John Hodge, a trama gira em torno de Simon (McAvoy), o responsável pela segurança dos itens mais valiosos de um leilão de peças de arte. Ele se vê envolvido com uma gangue responsável por roubo de quadros, quando os criminosos acham que ele tem algo a ver com o desaparecimento do item que eles procuravam. O problema é que, durante o assalto, ele é atingido na cabeça e acaba perdendo a memória. Assim, com a ajuda de uma hipnoterapeuta (Dawson), entramos na mente de Simon para compreender o que realmente ocorreu durante o roubo.
Sustentando precariamente a diferença entre realidade e fantasia – recorre ao uso do amarelo e vermelho em abundância, além de dar uma ou outra pista sobre o lugar em que estamos: note que em determinado momento se percebe que a televisão mostra o mesmo gol constantemente –, Danny Boyle acerta pontualmente na intensidade que pretende alcançar. Nesta perspectiva, o diretor arranca tensão das lembranças de Simon e quando Dawson força os outros personagens a viverem seus piores temores: a cena com o morango, apesar de tola, apresenta-se angustiante. Da mesma forma, as passagens de uma ambientação para outra sempre são feitas eficientemente, oferecendo, ainda, um design de produção certeiro no jeito como acentua cada instante. Além disso, são sempre admiráveis os momentos que Simon observa a si próprio nas suas lembranças e como passa a não saber mais diferenciar o que é realidade e o que não é – quando atinge os quatro criminosos com uma arma, fica claro para o espectador o que está passando, mas Simon só nota o que está ocorrendo quando Franck se dirige para ele sem uma parte da cabeça.
Por outro lado, Ahearne e Hodge buscam desviar a atenção do roteiro pedestre espalhando novas pistas a cada três minutos – como não rir, por exemplo, quando Dawson passa por meio de um beijo três capsulas de balas? Além do mais, não há como não citar a moda de personagens secundários assumirem o papel de protagonista para fazer justiça com as próprias mãos, o que oferece um novo reflexo desesperançoso para analisar. Mas é nas gracinhas que o filme se mostra ainda mais frágil: neste caso, os criminosos pedindo comida chinesa em um lugar inusitado é no mínimo estúpido e a trupe comandada por Cassel parece bandidos saídos de um filme dos Pythons.
E se Dawson surge embaraçosa na pele de alguém muito mais complexa do que parece, sabotando ainda mais o clímax absurdo, James McAvoy é competente na mudança linear que seu personagem requer – algo que valoriza a sua loucura radical no terceiro ato.
Com uma sequência final que prejudica todos os outros acertos que Boyle fez aqui ou ali nos dois primeiros atos, a mensagem é clara: manipular as emoções do espectador custe o que custar e hipnotizá-los (com o perdão do trocadilho) com todo o tipo de twists para abafar os seus erros. E é triste constatar que ainda funciona.  

                                    

Nenhum comentário: