Há duas cenas que definem perfeitamente Homem de Ferro 3: a primeira delas é, curiosamente, a cena pós-créditos presente no longa-metragem, onde é acrescentada uma explicação divertida, mas estúpida, da origem da narração em off feita por Tony Stark; a segunda, ainda pior, diz respeito à origem do vilão interpretado por Ben Kingsley. Principalmente a última, destaca o que os espectadores observam ao longo das mais de duas horas de filme: uma narrativa que versa com momentos e situações pesadas, mas que aponta como uma criança para toda aquela estrutura gritando: “Ei, olhe, tudo não passa de uma grande piada!”.
É exatamente esse o motivo do filme não servir nem como entretenimento – já que se leva a sério em alguns momentos –, como uma adaptação fantasiosa das histórias em quadrinhos ou uma trama minimamente realista como a do primeiro (e muito bom) Homem de Ferro. Shane Black parece não ter ideia de como conduzir a trama que quer, assim, tumultua de piadas deslocadas e sem graça o primeiro ato, chega ao cúmulo de fazer uma introdução com cada personagem que veremos a seguir, e é dono de um dos piores terceiros atos, arrisco a dizer, de tudo que a Marvel já lançou no cinema.
O diretor, aliás, desconhece uma maneira correta para conduzir suas grandes sequências de ação, apelando para os convencionais cortes rápidos e que deixam quase impossível prestar atenção nas lutas entre um personagem e outro. Do mesmo modo, chega a ser irritante a sua insegurança em um minuto ou outro, onde dá ares de que necessita mostrar o que outro personagem faz enquanto acompanhamos a verdadeira ação: neste caso, Paltrow vai até a sacada de sua casa destruída para gritar Tony e nada mais, e um corte ou outro é feito apenas para mostrar que os assassinos ainda estão vivos – juro que esperava que a trilha pontuasse esses momentos com algo parecido com “TCHARAM”. E mesmo que Black tenha noção disso, a sua maior competência, o timing cômico, também não encontra a solidez que necessita – sendo apenas pontualmente eficiente, como podemos enxergar na química entre Downey Jr. e Simpkins.
Tony Stark mais uma vez é personificado como um cara extremamente impulsivo e temperamental (“mande a conta”), não se importando em dar endereço para o Mandarim; além disso, mesmo que a pessoa que desencadeia o sentimento de revolta de seu personagem (Black tentando andar pelo mesmo caminho em que Whedon foi bem sucedido) não tenha significado algum na trama, o ator aproveita para aprofundar um pouco mais seu personagem, ainda que sofra com inúmeras decisões de um roteiro problemático. Sua preocupação com o garoto vivido por Simpkins e o final dos dois reflete muito sobre a personalidade de anti-herói.
E se Guy Pearce, mais uma vez, faz o único tipo de vilão que sabe fazer e atinge o fundo do poço com uma performance risível e detestável, Ben Kingsley extrai algo interessantíssimo de seu personagem – note, por exemplo, a tediosa pronúncia que dá para as palavras, abusando do prolongamento de consoantes, somente para dar razão, instantes depois, para tudo aquilo que havia feito até ali. Ainda que o roteiro o trate como uma grandíssima piada, os méritos para que isso realmente aconteça são exclusivamente do ator.
Não conseguindo saber realmente o que quer ser, Homem de Ferro 3 mexe com temas interessantes e pesados (“É isso que quer? Que eu faça justiça por vocês? A morte dele?”), mas termina sendo um filme que ri de si mesmo. E isso não seria um problema, caso isso fosse seu principal desejo desde o começo. Infelizmente, no final, acaba não passando de uma grande piada de mau gosto.
Um comentário:
Não me incomodei com as cenas de ação. São excessivas algumas, é verdade, e o clímax extravagante prova isto, mas não as achei mal dirigidas. Também gostei do humor e concordo que existe um grave problema de tom entre não se achar sério e atolar de "quase-mortes" de personagens relevantes, o que acentuaria o nível de dramaticidade. Mas tem MUITOS problemas e é, ao lado do Homem de Ferro 2 e Capitão América, o pior da Marvel até agora. (Até agora tento engolir Pepper Potts radioativa ou Guy Pearce cuspindo fogo).
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