17 de maio de 2013

Morte do Demônio, A

Evil Dead, EUA, 2013. Direção: Fede Alvarez. Roteiro: Fede Alvarez e Rodo Sayagues, baseado no roteiro original de Sam Raimi. Elenco: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore, Phoenix Connoly, Jim McLarty, Sian Davis, Randal Wilson, Rupert Degas. Duração: 91 min.

Embora essa nova versão de A Morte do Demônio se apresente muito mais calcada no “racional” que o filme original, os seus personagens são muito mais estúpidos do que naquele filme que explorava o humor absurdo como sua principal arma. Basta analisar a diferença mais gritante: o livro dos mortos. Enquanto o grupo liderado por Ash sentava em volta de uma gravação que revelava as palavras que despertava os demônios, Alvarez tenta resgatar um pouco do humor negro ao demonstrar Eric lendo passagens gravadas com sangue humano sem nenhum tipo de receio. Contudo, não é nas tentativas pontuais de humor que o diretor cria algo marcante, mas em sua homenagem ao gore que encontra a sua maior qualidade.

Escrito por Fede Alvarez e Rodo Sayagues, com base no roteiro original de Raimi, a história segue – como de costume – com um grupo de amigos que decide viajar até uma cabana afastada para passar alguns dias. Mia (Levy) é uma jovem viciada em drogas e os seus amigos decidem ir até o local para ajudá-la a superar os seus próprios demônios. O problema é que esses não são os únicos demônios presentes naquela região, assim, após Eric (Pucci) ler passagens de um livro intitulado “O Livro dos Mortos”, os jovens começam a ser assombrados por muito mais do que apenas uma crise de abstinência.

Com um primeiro ato explicativo demais, chegando ao cúmulo de incluir frases que dão alusão para quem é cada um dos personagens (“Lembra-se do seu melhor amigo?”) e por onde eles andavam (“Eu tinha que aceitar aquele emprego em Chicago”), o roteiro encontra, ainda, obstáculos em contornar de forma racional um motivo para os amigos permanecerem na cabana, mesmo que seja evidente que algo errado está acontecendo no local. Assim, fica impossível não se irritar com momentos em que uma enfermeira profissional aponta para uma clara possessão e afirma que é crise de abstinência ou como o grupo decide manter Mia em cativeiro porque, bem, prezam pela saúde dela (juro!). E se no roteiro original de Raimi a passagem pela ponte quebradiça já soava tensa e até verossímil, nesta nova versão falta lógica quando observamos os irrisórios esforços do irmão de Mia em tentar passar pela enchente que assola o caminho de volta. Da mesma forma, algumas tentativas mais cômicas não encontram tanto respaldo porque sua atmosfera não é própria para isso – o que cria certo conflito. Até porque é no tom intenso que a narrativa passa a ganhar força: avalie a curiosa cena da árvore.

Mas quase nenhum dos erros claros parece tirar o foco da eficiente direção de Alvarez e sua falta de pudor. Não se contendo na violência e buscando proporcionar tensão por meio de seus planos inclinados, o diretor não deixa de lado as claras homenagens ao original (o colar que Mia ganha de seu irmão e a aproximação do demônio) e investe no desconforto: um personagem tendo que tirar a agulha de seu olho ou outro tendo que cortar o braço para o vírus não se alastrar são angustiantes; ao mesmo tempo em que o braço de um deles caindo ou a língua de Mia sendo passada por uma faca não são nada amenas. Não se contentando somente com isso, ele passa a extrair tensão de cenas aparentemente simples – como aquela em que apenas focaliza as pernas de determinada personagem, o instante em que a cama sugere se aproximar de Eric durante a leitura do Livro dos Mortos ou até mesmo o hábil travelling que nasce no segundo em que o grupo encontra o livro. E não há como não citar a chuva de sangue ocorrida no terceiro ato.

Apesar de contar com uma atriz bastante adequada ao papel (excelente a expressão dela enquanto o irmão tenta a levar embora, além do filme ganhar muito com sua presença a partir do segundo ato) e ser divertidíssimo, fica claro que o longa de 1981 continua atemporal. Porque, com um protagonista inesperado e surpreendente – diferente da nova versão –, mostra mais uma vez o quanto se mantém misterioso e influenciador, e expõe que nem mesmo os melhores efeitos especiais e as cenas mais cruéis podem comprar conteúdo.

                                 

Um comentário:

Heliezer Soares disse...

Gostei da sua análise. Contudo, uma coisa eu achei muito estranha nesta obra e fora de contexto. SPOILERS a seguir...

Quando Mia se vê livre da possessão demoníaca, ela subitamente se cura dos ferimentos, da língua bifurcada, das queimaduras de segundo/terceiro grau e ainda ganha uma limpeza de pele. Como assim? Entendo que isso foi necessário para dar continuidade ao filme, mas a partir deste momento eu chutei o balde. Poderia descer um OVNI na floresta ou ser tudo apenas um sonho que não teria a menor importância para mim.

Talvez eu tenha deixado passar algo em branco no filme. Talvez esteja escrito no livro (e eu não percebi) que caso a pessoa se livre da possessão demoníaca, ela ganhe um corpo novinho em folha.

Abraço e continue com o bom trabalho.