Pulp Fiction, Bastardos Inglórios, Cães de Aluguel, Kill Bill, À Prova de Morte, Taratino sempre foi respeitado e admirado pela quantidade de sangue jorrando em tela e por inúmeras gags que criava a partir de temas incomuns e irreverentes. Fez seu nome em chacinas sisudas que, se nunca soavam absurdas demais, era justamente pela natureza estranha do próprio. Em Django Livre, o diretor até busca evidenciar as qualidades que seus fãs sempre procuram, mas acaba saindo algo muito mais infantilóide e grotesco do que o sarcasmo brilhante de antigamente.
Escrito e dirigido por Quentin Tarantino, a história acompanha um caçador de recompensas alemão, Dr. King Schultz (Waltz), que está em busca de três irmãos assassinos e conta com a ajuda de um escravo, Django (Foxx), para reconhecê-los. O doutor promete a libertação de Django se este ajudá-lo, além de uma parte do prêmio. Logo, ambos viram parceiros e vivem matando os criminosos mais perigosos do sul dos EUA. Ao mesmo tempo, os dois procuram o paradeiro da mulher de Django, o que os leva até a fazenda de Calvin Candie (DiCaprio)...
... que é o lugar onde ocorrerá a “ação” desenfreada. Claro que neste meio tempo iremos ver situações surreais e gracejos espalhados pela narrativa, mas geralmente acaba soando como se estivéssemos vendo um remake de A Vida de Brian. Note, por exemplo, a cena da conversa entre os homens encapuzados (que aparece como uma espécie de Ku Klux Klan), onde os “assassinos” param a ação por se sentirem sufocados pelos capuzes. Da mesma forma, Tarantino só parece interessado no choque: seja no figurino destoante de Foxx em determinada cena, nas mortes (como não citar a dos cachorros?) ou nos zooms de aproximação.
E se noutros filmes Sally Menke conseguia esclarecer a visão de Tarantino de uma forma curiosa e orgânica, o mesmo não pode se dizer de Fred Raskin – responsável por um dos fatores mais críticos do longa-metragem. Neste caso, observe a forma como somos introduzidos ao passado dos personagens (quase sempre após alguém ser visto pensando sobre o acontecimento) ou como soa completamente desconexo a maneira como “Hilde” apresenta-se. Aliás, provavelmente, o único momento em que Raskin acerta é no momento em que DiCaprio discorre sobre negros excepcionais, intercalando com ações de Django.
Em contrapartida, Tarantino mostra elegância na maneira como o sangue atinge as flores ou no modo em que ele confirma seu protagonista como uma espécie de salvador – a cena do chicote é um belo símbolo. Porém, ao mesmo tempo, sai-se extremamente nonsense nas aparições de Broomhilda durante o percurso. Todavia, se o diretor parece perdido em como almeja guiar seu filme, o elenco praticamente afasta qualquer dúvida que o longa forneça.
E se Jamie Foxx não possui expressão alguma na pele de Django, DiCaprio e Jackson são bastante eficientes como antagonistas. Desde o gestual físico até a mentalidade social, ambos mostram suas desumanidades de forma certeira. Vale ressaltar aqui o rosto inerte e interessado de DiCaprio durante uma morte ou a explosão durante a negociação dos escravos. Gostaria também de dar um adendo, se me permitirem, a uma decisão narrativa de Tarantino: por que mostrar a conversa entre DiCaprio e Jackson em vez de deixar o espectador tão inseguro e tenso quanto Foxx e Waltz? Falando nele, é Waltz que é o grande destaque do filme e carrega boa parte dele nas costas. Criando uma figura com um timing genial (“Não consegui resistir!”, “Está meio tenso lá fora!” ou “Agora é a hora de chamar o capitão!”), o ator parece se divertir a cada frase que pronuncia. Não só em momentos espirituosos, mas, em cenas dramáticas, também é hábil – aqui, analise o olhar doloroso e assustado de Waltz quando este vê uma morte bastante bárbara.
No fim, chega a ser conveniente, muito mais que a aparição de Tarantino na sequência final, quando Jamie Foxx indaga Waltz: “Espera aí, você ganha prêmios por matar pessoas?”. Pois, assim como em Bastardos Inglórios – no qual o personagem de Pitt serviu como um alter ego do diretor -, ecoa como uma sentença bem pertinente à carreira de Quentin Tarantino. Mesmo que em seu caso não sejam pessoas, mas personagens.
Um comentário:
Também achei fraca fraca a atuação de Jamie Foxx. Só que diferente de você, não suportei Samuel L. Jackson. Ô sujeito xarope haha.
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