Nos últimos anos, a quantidade de filmes que tentaram adaptar contos de fadas para um clima soturno foi assustadora. A qualidade, idem. Obras catastróficas como Espelho, Espelho Meu, Branca de Neve e o Caçador, A Garota da Capa Vermelha, Alice e tanta outras tomaram as telas de assalto; sim, roubando nosso dinheiro e paciência para tramas grotescas e absurdas. Assim, todo ano que surge uma nova, como o caso deste João e Maria: Caçadores de Bruxas, uma nova apreensão se instala. Tommy Wirkola até não é dono de sequências tão bisonhas quanto as de seus companheiros de gênero, mas também nunca se mostra inspirado ou tenta fugir do convencional.
Escrito por Tommy Wirkola e Dante Harper, quinze anos depois de um traumático evento ocorrido em uma casa feita de doces que era controlado por uma bruxa má, dois irmãos (que se chamam Hansel e Gretel no conto original) tornaram-se caçadores de bruxas que viajam pelo mundo identificando e matando os tais seres. Neste percurso, ambos chegam a uma pequena cidade onde já desapareceram quase doze crianças e se veem inseridos em uma trama (para não variar!) que não estão acostumados.
Não sabendo se investirá em uma trama mais madura e assustadora ou apenas tratará de evidenciar diálogos que já conhecemos há séculos (“Aqui só há morte”, “Bruxa boa é bruxa morta”, “Só pode ser brincadeira”, “Atire no que se mover”), Wirkola transparece bastante sua indecisão já em sua primeira cena. Desta forma, captamos bem o ambiente assustador em que os dois irmãos chegam – uma casa de doces envolta em uma escuridão intimidante e que só chama a atenção pela fome em que eles se encontram –, mas deprimimos, quando notamos as piadinhas deslocadas e tolas que começam a entrar na narrativa (“Está quente agora?”). Seguindo a lógica, também não fica difícil de adivinhar cada passo que será tomado e observar que cada um (tristemente) terá seu interesse romântico para atrasar mais ainda uma trama que poderia ser contada em um curta-metragem.
Ao mesmo tempo, o diretor parece entender que cenas de ação só apontam para cortes rápidos e inúmeras metralhadoras, além de não saber nem situar adequadamente seus personagens em cena durante as batalhas (note a posição de Ben, por exemplo). Do mesmo modo, o 3D, aparentemente, apenas serve para jogar objetos em direção da plateia. Em contrapartida, Wirkola sobra em eficiência na elipse ocorrida nos créditos iniciais ou na boa sequência em que um ogro esmaga uma cabeça com as mãos e pisa noutra com os pés. Ou até mesmo na história dos pais ao calor do fogo.
E se Famke Janssen está risível no papel de antagonista, Renner e Arterton inauguram uma nova categoria neste tipo de obra: protagonistas menos carismáticos e competentes que um ogro – pois, visivelmente, é o único personagem que possui algum conflito interno.
João e Maria: Caçadores de Bruxas até tenta fugir um pouco do tom disforme e embarcar numa atmosfera que não se leva a sério (afinal, um toca discos e metralhadoras automáticas surgem na trama!), mas o máximo que acaba soando é como algo que Zeca Pires faria se tivesse um grande orçamento.
Um comentário:
Discutir esse filme é como bater em bêbado. Mas a cena mencionada do ogro é divertidinha, bem Tarantinesca.
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