Rush,
EUA/Alemanha/Inglaterra, 2013. Direção: Ron Howard. Roteiro: Peter
Morgan. Elenco: Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Natalie Dormer,
Olivia Wilde, Pierfrancesco Favino, Alexandra Maria Lara, Joséphine
de La Baume, Christian McKay, Tom Wlaschiha, Patrick Baladi. Duração:
123 min.
Poucos
filmes capturam de forma sensível o duelo travado por dois
esportistas apaixonados como Ron Howard faz em Rush: No Limite da
Emoção. A busca pela satisfação, pelo equilíbrio pessoal e,
por ao menos um minuto, ser reconhecido como um ser humano raro: um
campeão mundial. Em um dos melhores filmes de sua carreira, Howard
já denuncia o duelo entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt no grid
de largada. Hemsworth, que interpreta o piloto inglês, surge nos
refletores, flashes e rodeado de fãs; enquanto isso, um tímido
Brühl aparece concentrado dentro da única coisa que importa para
ele, o seu carro. Embora também se preocupe em criar a adrenalina
que uma corrida contém, na rapidez com que mostra o motor, as rodas,
o acelerador e a pista molhada, o diretor insiste na divergência
psicológica dos dois principais pilotos da fórmula um de 76 e suas
respectivas vidas influenciando em suas carreiras.
Escrito
pelo interessante Peter Morgan, o roteiro acompanha a rivalidade
entre dois dos maiores pilotos da fórmula um nos anos 70 e o auge
dessa disputa, quando ambos têm chances de ser campeão mundial.
Entre riscos profissionais e pessoais, os dois constroem diferentes
carreiras que ganharão, igualmente, futuros díspares.
E
é bastante claro que o duelo almejado por Howard é a rebeldia
tão bem quista no esporte contra a disciplina e o pragmatismo –
algo que nem o tempo conseguiu apagar nas discussões envolvendo o
automobilismo moderno: a mecânica do carro versus a paixão e a
igualdade de talento. A própria batalha já inicia até mesmo na
forma como os dois são expostos: narrações em off distintas. O
foco é no nome dos carros dos pilotos, não na máquina em si.
Assim, o diretor aponta para a política e o duelo nos bastidores
entre os dois, mas prefere abordar mais as vidas complexadas de Lauda
e Hunt. Por outro lado, Howard
encontra dificuldades em fugir da abordagem comum em determinados
instantes: ele indica o GP do Brasil como uma grande festa de samba e
carnaval, colaborando com uma visão antiquada; sublinha cenas tolas
no primeiro ato apenas para fazer um contraste entre aceitação
familiar e vida profissional; além das cenas embaraçosas envolvendo
as transas ocasionais de Hunt.
Mas
isso é pouquíssimo se comparado aos acertos que a narrativa possui.
Observe, por exemplo, a reação do piloto inglês ao saber de um
piloto morto e a avaliação oposta de Lauda – denunciando uma
complexidade moral dos dois pela primeira vez. O carinho que um tem
pelos companheiros e o esporte, enquanto o outro concentra na técnica
(“a culpa foi dele”). Além disso, a maneira como é apresentada
esse conflito colabora ainda mais para a reunião no final do segundo
ato e as consequências nas decisões tomadas. Aliás, o acidente
enquadrado de cima e o temor disciplinar de Lauda com seus 20% só
colocam mais tensão na angustiante batida. Sem esquecer de destacar
o jogo de foco utilizado no retorno de Niki às pistas.
Todavia,
fica no encargo de Hemsworth e Brühl transformar aquelas pessoas em
figuras complexas e genuínas – algo bem alcançado. A rivalidade
que vira respeito. Como Proust e Senna. O jovem Chris Hemsworth, que
havia indicado potencial em Thor, agora vira uma afirmação. É dele
o filme. Seja num sorriso rápido demonstrando uma afeição que
antes não era vista ou sua preocupação com o que mais ama: o
automobilismo. Mas a arrogância com que Brühl desenvolve seu Lauda
não fica muito atrás. É com ele as cenas mais memoráveis do filme
– a volta às pistas e o seu discurso final. Seu personagem não
possui amigos, trata o casamento como assunto familiar e acha a
felicidade uma inimiga. Sua força de vontade nasce de um destino
inesperado, o que sempre foi contra a sua filosofia. Ambos são ambíguos.
Prolongando
um pouco mais do que o necessário o seu terceiro ato, mas mantendo
sua sensibilidade até o fim, Howard realiza um dos melhores filmes
sobre a fórmula um e o automobilismo recente – focalizando em
apenas dois apaixonados. Num duelo tão brilhantemente travado por
atores e pilotos, caso retornemos ao ano retratado, não é à toa
que ambos os carros terminem lado a lado o fim do espetáculo.
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