13 de setembro de 2013

Rush: No Limite da Emoção

Rush, EUA/Alemanha/Inglaterra, 2013. Direção: Ron Howard. Roteiro: Peter Morgan. Elenco: Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Natalie Dormer, Olivia Wilde, Pierfrancesco Favino, Alexandra Maria Lara, Joséphine de La Baume, Christian McKay, Tom Wlaschiha, Patrick Baladi. Duração: 123 min.

Poucos filmes capturam de forma sensível o duelo travado por dois esportistas apaixonados como Ron Howard faz em Rush: No Limite da Emoção. A busca pela satisfação, pelo equilíbrio pessoal e, por ao menos um minuto, ser reconhecido como um ser humano raro: um campeão mundial. Em um dos melhores filmes de sua carreira, Howard já denuncia o duelo entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt no grid de largada. Hemsworth, que interpreta o piloto inglês, surge nos refletores, flashes e rodeado de fãs; enquanto isso, um tímido Brühl aparece concentrado dentro da única coisa que importa para ele, o seu carro. Embora também se preocupe em criar a adrenalina que uma corrida contém, na rapidez com que mostra o motor, as rodas, o acelerador e a pista molhada, o diretor insiste na divergência psicológica dos dois principais pilotos da fórmula um de 76 e suas respectivas vidas influenciando em suas carreiras.

Escrito pelo interessante Peter Morgan, o roteiro acompanha a rivalidade entre dois dos maiores pilotos da fórmula um nos anos 70 e o auge dessa disputa, quando ambos têm chances de ser campeão mundial. Entre riscos profissionais e pessoais, os dois constroem diferentes carreiras que ganharão, igualmente, futuros díspares.

E é bastante claro que o duelo almejado por Howard é a rebeldia tão bem quista no esporte contra a disciplina e o pragmatismo – algo que nem o tempo conseguiu apagar nas discussões envolvendo o automobilismo moderno: a mecânica do carro versus a paixão e a igualdade de talento. A própria batalha já inicia até mesmo na forma como os dois são expostos: narrações em off distintas. O foco é no nome dos carros dos pilotos, não na máquina em si. Assim, o diretor aponta para a política e o duelo nos bastidores entre os dois, mas prefere abordar mais as vidas complexadas de Lauda e Hunt. Por outro lado, Howard encontra dificuldades em fugir da abordagem comum em determinados instantes: ele indica o GP do Brasil como uma grande festa de samba e carnaval, colaborando com uma visão antiquada; sublinha cenas tolas no primeiro ato apenas para fazer um contraste entre aceitação familiar e vida profissional; além das cenas embaraçosas envolvendo as transas ocasionais de Hunt.

Mas isso é pouquíssimo se comparado aos acertos que a narrativa possui. Observe, por exemplo, a reação do piloto inglês ao saber de um piloto morto e a avaliação oposta de Lauda – denunciando uma complexidade moral dos dois pela primeira vez. O carinho que um tem pelos companheiros e o esporte, enquanto o outro concentra na técnica (“a culpa foi dele”). Além disso, a maneira como é apresentada esse conflito colabora ainda mais para a reunião no final do segundo ato e as consequências nas decisões tomadas. Aliás, o acidente enquadrado de cima e o temor disciplinar de Lauda com seus 20% só colocam mais tensão na angustiante batida. Sem esquecer de destacar o jogo de foco utilizado no retorno de Niki às pistas.

Todavia, fica no encargo de Hemsworth e Brühl transformar aquelas pessoas em figuras complexas e genuínas – algo bem alcançado. A rivalidade que vira respeito. Como Proust e Senna. O jovem Chris Hemsworth, que havia indicado potencial em Thor, agora vira uma afirmação. É dele o filme. Seja num sorriso rápido demonstrando uma afeição que antes não era vista ou sua preocupação com o que mais ama: o automobilismo. Mas a arrogância com que Brühl desenvolve seu Lauda não fica muito atrás. É com ele as cenas mais memoráveis do filme – a volta às pistas e o seu discurso final. Seu personagem não possui amigos, trata o casamento como assunto familiar e acha a felicidade uma inimiga. Sua força de vontade nasce de um destino inesperado, o que sempre foi contra a sua filosofia. Ambos são ambíguos. 

Prolongando um pouco mais do que o necessário o seu terceiro ato, mas mantendo sua sensibilidade até o fim, Howard realiza um dos melhores filmes sobre a fórmula um e o automobilismo recente – focalizando em apenas dois apaixonados. Num duelo tão brilhantemente travado por atores e pilotos, caso retornemos ao ano retratado, não é à toa que ambos os carros terminem lado a lado o fim do espetáculo. 

                              

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