Après
mai, França, 2012. Direção: Olivier Assayas. Roteiro: Olivier
Assayas. Elenco: Clément Métayer, Lola Créton, Carole Combes,
Felix Armand, India Menuez, Hugo Conzelmann, Mathias Renou, Léa
Rougeron, Martin Loizillon, André Marcon. Duração: 122 min.
Todos passamos por
momentos de simples rebeldia na nossa adolescência ou juventude. É
algo natural e que nos molda a ser o que nos tornamos no futuro.
Nossas experiências juvenis acabam sendo o fator desencadeador para
uma vida desiludida e lamentada ou o precursor de tornar aqueles
nossos sonhos impensáveis em realidade – relacionamentos, ideais,
caráter, o que seja. O futuro, logicamente, é um reflexo do
passado. Nessa linha de raciocínio que o diretor Olivier Assayas
inicia o seu novo longa-metragem, Depois de Maio. Gilles, afinal, é
um garoto normal da década de 70: confronta o sistema, experimenta
drogas, ouve seus discos favoritos, mantém as esperanças na
comunicação livre, reivindica melhores condições para a
população e disputa território com a brigada. Basta saber o que o
personagem de Métayer tirará dessas resoluções e como guiará sua
vida daqui por diante – e é aí que observamos a melancolia
presente no filme.
O nosso
protagonista é um estudante supostamente aplicado, mas assim que sai
da aula (ou do sistema) vai para a rua vender o “único” jornal
honesto da região, O Tudo – o nome não poderia ser melhor. Ele
frequenta manifestações, passa a ser caçado pela polícia que
ataca com cassetetes, bombas de gás, balas de borracha e massacra
qualquer sinal de rebelião, pega dinheiro de seus pais para comprar
outros jornais, discute política e diretrizes nas reuniões de
estudantes, apaixona-se por diferentes pessoas, experimenta, troca
beijos escondidos; é um garoto procurando, como todos nós, o seu
lugar no mundo. Cabe destacar, aliás, o cenário criado por Dorota
Okulicz que apresenta o quarto de Gilles com inúmeros quadros,
posteres e fotos espalhados – inclusive uma cruz de cabeça para
baixo pintada em um folheto para sublinhar o seu ar revoltoso.
A direção de
Assayas, da mesma forma, evidencia esse clima juvenil nas reuniões –
note, por exemplo, as rodas de violão, as festas ou eventos mais
sérios de discussão – e como é passado uma sensação de
instabilidade adequada. Seu domínio e segurança, ainda, são vistos
quando os jovens chegam de moto em sua escola para a pichação e,
sutilmente, a câmera é deslocada minimamente para cima. Além do
mais, administra os contornos tristes que a narrativa assume como se
estivesse escrevendo uma autocrítica. Neste caso, analise a forma
com que a arte se desenvolve: primeiramente é um sinônimo de
rebeldia, os periódicos são utilizados para suas vozes, o cinema é um retrato da realidade, com cadeiras nas ruas e empolgação; após esse
primeiro momento, a arte não é mais a mesma, também adentrou ao
sistema capitalista que eles não acreditavam. De vários amigos que
participavam da construção de um jornal ou panfletos, e o
mimeógrafo à manivela, Gilles vira uma figura solitária olhando
para a máquina girar, e até o cinema sofre com a chegada das grandes
salas e a indiferença do público (“O que achou do filme? Nada”).
Em contrapartida, a montagem do falecido Luc Barnier é sem
inspiração e embaraçosa em determinados instantes, como aquele em
que uma personagem aparece lendo uma carta ou no insistente fade in e
fade out para as passagens de tempo. Ao mesmo tempo, os atores
carecem de sensibilidade – a sentença de Laure “Eu não quero
que você me veja partir” perde completamente a força pela
repressão dos seus sentimentos naquele momento e sua corrida tola.
Por outro lado, o
figurino de Jurgen Doering para Gilles é inteligentíssimo ao
equilibrar as cores conforme a narrativa cresce. Veja que o
personagem começa com uma camisa com diferentes tons de tinta,
retratando sua imaturidade e indecisão, e, quando se despede da
namorada, ele prefere um casaco mais escuro, começando a se
desprender de sua juventude. Contudo, durante a pichação, volta a
usar a camiseta para destacar rebeldia. Como se não fosse o
bastante, o relacionamento com Christine também é um interferente:
utiliza roupas mais sociais, listradas ainda, mas mais sólidas,
algumas com estampa, e contrapõe as cores claras dela –
principalmente quando ambos trilham caminhos díspares. E apesar das
roupas possuírem um ar de maior sofisticação, indicando a
experiência adquirida, Gilles coloca um amarelo espalhafatoso no
escritório de seu pai, afirmando que não é daquele lugar e está
deslocado. Ainda não está pronto para o sistema.
É nessa reflexão
temporal envolvendo juventude, ideais, trabalhos e frustrações que
está o charme do novo filme de Assayas. Mesmo Gilles, que ainda não
tem ideia de seu futuro, é um caso raro na realidade desregrada de
seus amigos (“Você tem sorte. Sabe o que vai se tornar!”). E,
embora não saibamos de seu destino, torcemos para ele ter acertado o
caminho tomado.
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