Após uma bem sucedida estreia no gênero de terror com seu ótimo A Pele que Habito, chega a ser penoso ver Almodóvar tentar retomar sua zona de conforto com uma comédia escrachada e sem nenhum apelo emocional. Feito como um produto “a toque de caixa”, Os Amantes Passageiros é um longa-metragem insosso, imaturo e sem qualquer inspiração, que parece ser produzido apenas para pagar dívidas provenientes de algum mau negócio que seu diretor realizou no último ano.
Escrito pelo próprio Almodóvar, a história se passa dentro de um avião que está andando em círculos por conta de uma falha mecânica. Nesta perspectiva, acompanhamos um grupo de personagens que tenta descobrir o que está acontecendo e acredita estar perto da morte, assim como os relacionamentos tumultuados entre os comissários de bordo e pilotos.
Confuso até quanto ao cenário da narrativa, o diretor também nunca decide se focará no drama de seus passageiros ou nos estereótipos ou até mesmo em vidas interligadas – assim sendo, o terceiro ato acaba como uma soma bagunçada de todos esses fatores: há as ligações confessionais que são ouvidas por todos os passageiros, um absurdo e estúpido número musical, além – é claro! – de mudanças de vida por conta de uma viagem turbulenta. Almodóvar nem esconde o roteiro preguiçoso ao colocar todos os passageiros da classe econômica dormindo para não gastar muito mais tempo do que deveria ou “prejudicar” a “ligação” de seus três atos.
Além disso, ele parece perdido em como guiar o seu nonsense. Embora seja eficiente no tolíssimo número musical, encontra dificuldades em enquadramentos simples ou que sugira algo da trama – desta maneira, aposta em closes deslocados que tentam criar gags visuais espertinhas e infantis (note a simulação no começo da viagem) e planos inclinados que não têm motivo aparente. Ao mesmo tempo em que, crente que sua “história” não é suficiente para 90 minutos, retoma a ação para a vida pessoal de alguns de seus personagens, como é o caso do ator e seu relacionamento com Ruth, que é culminado em uma das piores sequências da filmografia de Almodóvar.
Criando um clímax que consegue ser mais intragável do que o relacionamento do copiloto com um comissário de bordo e do que as piadinhas politicamente incorretas presentes a todo o momento, Os Amantes Passageiros assusta pela seriedade com que os envolvidos tentam se expressar, como se tudo aquilo fosse bastante original. O resultado assustador acaba transformando uma obra simplória e tola em algo ofensivo e indefensável.
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