4 de fevereiro de 2013

Lado Bom da Vida, O

Silver Linings Playbook, EUA, 2012. Direção: David O. Russell. Roteiro: David O. Russell, baseado no livro de Matthew Quick. Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker, John Ortiz, Julia Stiles, Anupam Kher, Brea Bee, Shea Whigham. Duração: 122 min.

Boa parcela dos indicados ao Oscar de 2013 são filmes que abordam temas relevantes e que nas mãos certas renderiam narrativas ambiciosas e marcantes. Só que ao mesmo tempo em que temos obras como O Mestre (do diretor Paul Thomas Anderson), também somos “presenteados” com obras infantis e inoportunas, como o novo filme de Spielberg, Lincoln. O Lado Bom da Vida fica na linha tênue entre os dois – mostrando que pode versar com uma certa profundidade em momentos pontuais, mas que também se rende ao óbvio em outros tantos.

Escrito e dirigido pelo eficiente diretor David O. Russell (O Vencedor), baseado no livro de Matthew Quick, o filme conta a história de Pat (Cooper), que foi internado numa instituição psiquiátrica, após encontrar sua esposa com o amante no chuveiro de sua casa, e tenta se reestabilizar na vida. Explosivo, inconsequente e com diversos problemas familiares, Pat ainda está apaixonado pela esposa e precisa entregar uma carta pedindo o seu perdão e evidenciando sua melhora. Assim, encontra na figura da igualmente problemática Tiffany (Lawrence) sua principal “ferramenta” de ajuda para todos os seus problemas.

Mas é não permitindo seu público a pensar por si mesmo e abraçar a história crível que está visualizando na tela que O. Russell encontra o seu maior problema. Indicando cada situação como se fosse um dicionário explicando palavra por palavra para o leitor, o diretor investe em diálogos expositivos e momentos óbvios que soariam muito melhor se fossem apenas sugeridos. Em um determinado instante, por exemplo, a personagem de Lawrence, depois de confessar toda uma ocasião dramática intensa, chega a exclamar: “Isso é um sentimento”. Além disso, emprega com deselegância travellings circulares sem nenhum sentido a todo o momento (desde uma simples conversa até passagens ao redor do rosto de Cooper, algo que ocorre dezenas de vezes no longa) e utiliza simbolismos evidentes com frequência (Pat vestindo-se com um saco de lixo é o mais tolo deles). Como se não bastasse, ainda, joga suas subtramas para escanteio quando acha cômodo – um ótimo exemplo é o completo esquecimento das sessões de terapia com o psiquiatra ou a questão dos remédios afetarem o seu comportamento. 

Em contrapartida, O. Russell encontra mais uma vez substância no entrosamento de seu elenco e na naturalidade com que extrai esses momentos. Nesta perspectiva, opera de forma sábia o timing das cenas e as posições de cada personagem na narrativa (observe o momento em que De Niro está apostando algo com Randy e Pat e Tiffanny brigam fortemente atrás). Do mesmo modo, a cena, em que Lawrence se arrepende de ter se fingido de vítima quando as pessoas e a polícia abordam Cooper, é hábil em provar o conflito que Pat está vivendo dentro de si mesmo. 

E é contando com uma química fortíssima entre os dois protagonistas que o filme transmite alguma excelência. A decisão de colocar Bradley Cooper, neste panorama, como um jovem problemático e que se vê como um fardo para a família/sociedade soa apropriadíssima. O ator consegue transmitir com sensibilidade cada aspecto frágil e culpado de seu personagem, mesmo que O. Russell às vezes tente sabotar isso. (Até agora tento entender a necessidade de focar a aliança de Pat numa das sessões – sendo que ela já havia sido visitada outras vezes –, algo que é mostrado muito mais natural depois, quando ela não está mais lá no clímax final).

Jennifer Lawrence, da mesma forma, constrói uma personagem bastante imaginável e com problemas verossímeis: suas explosões são sempre correspondentes ao caso vivido e demonstra fragilidade pela primeira vez no momento que percebe estar apaixonada. Aliás, a cena da dança – em que apenas com um olhar e tremer de lábios imprime a sensação de excitação com aquele momento – talvez seja minha favorita com os dois. E se a indicação de Jacki Weaver ao Oscar é incompreensível e absurda (a não ser que atuar seja apenas aparecer chorando trêmula a cada cena), Robert De Niro extrai o melhor de um pai que tenta uma reaproximação com seu filho. Comunicando-se por metáforas para não sublinhar de forma clara os seus sentimentos, uma das cenas mais fortes é aquela em que admite ao filho, com os olhos marejados, o período em que estão vivendo. 

Ainda que pareça disposto a escancarar cada aspecto de seu filme sem deixar no ar qualquer tipo de aprofundamento, a verdade é que O. Russell tenta nos mostrar uma obra que foge do cinismo tradicional dos atuais filmes do gênero e almeja algo com apenas um final feliz, sem duplas interpretações. E isso acaba sendo o maior acerto e falha de seu novo filme.

                              

Um comentário:

Márcio Sallem disse...

Não tenho problema algum com o desfecho bem comedinha romântica já que era tudo que Pat queria desde o início, um final de cinema feliz e não a trollagem de Hemingway (e de outros autores que ele lê no livro).

Acho gostoso um filme, mas como pus na minha crítica, é incompreensível ele ser um filme indicado as cinco categorias principais do Oscar.