25 de fevereiro de 2013

Indomável Sonhadora

Beasts of the Southern Wild, EUA, 2012. Direção: Benh Zeitlin. Roteiro: Lucy Alibar e Benh Zeitlin, baseado em uma peça escrita por Alibar. Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Levy Easterly, Lowell Landes, Pamela Harper, Gina Montana, Amber Henry, Jonshel Alexander e Joseph Brown. Duração: 93 min.


Hushpuppy é uma garota estranha. Não por viver em uma situação caótica e humilhante – como muitos, infelizmente, vivem – ou tirar o melhor do ambiente em que está, mas por ser uma criança que discorre sobre a vida e o universo em seus pensamentos e que vez ou outra pensa que quando alguém morre vira um inseto ou uma árvore. Isto acaba sendo o mais conflitante do roteiro de Alibar e Zeitlin, pois enquanto parece que estamos assistindo aos pensamentos de uma garota ingênua somos introduzidos a momentos de pura pretensão filosófica – algo que destoa do clima esperado pelos realizadores.

Escrito por Benh Zeitlin e Lucy Alibar, a história gira em torno de uma pequena garota de seis anos de idade que habita em uma comunidade miserável que sofre de problemas com a chuva. Hushpuppy vive seu dia a dia por meio de incertezas, principalmente quando o pai aparece doente e com roupas de hospital certo dia. Após uma última tempestade devastadora, que inunda toda a comunidade, eles procuram os amigos que ficaram e tentam retomar a rotina.

É curioso como essa perspectiva se dá através dos olhos da personagem vivida por Wallis: Zeitlin oferece todos os problemas que aquelas pessoas sofrem por uma reflexão juvenil. Assim, observamos búfalos gigantescos devastando sociedades e o derretimento de geleiras simbolizando os trovões que são ouvidos por Hushpuppy – que pouco antes tinha ficado impressionada com uma foto que havia visto. Da mesma forma, o diretor acerta em sublinhar o espaço deprimente que pai e filha se encontram, onde a hora do almoço é o momento mais esperado do dia – e um pedaço de frango sendo assado rotineiramente fica bem representativo – e a parte traseira de uma picape é utilizada como um tipo de barco. Além disso, note como Zeitlin procura sempre trazer desconforto e instabilidade com sua câmera agitada.

Todavia, criam-se cenas que pecam pela breguice como são apresentadas. Neste caso, destaco a cena em que Wallis conversa com uma cadeira como se fosse sua mãe, algo que nem de longe oferece o sentimentalismo que merecia. Ao mesmo tempo, o roteiro não parece ter certeza ou confiança acerca dos pensamentos de Hushpuppy: assim, além da citada cena da árvore, analisamos como ela está ciente de suas condições, sabe o que fazer quando o pai está doente, mas decide comer comida de gato quando se encontra sozinha.

Apesar de prematura, a indicação de Quvenzhané Wallis pode ser entendida pela pungência como mostra sua Hushpuppy e a força dramática que encontra no aspecto conflitante criado pelo roteiro. Mesmo sua narração em off (algo que cada vez mais é usado para justificar frases de efeito irrelevantes) é necessária para o conjunto que é exposto no decorrer da narrativa. Dwight Henry também é competente na dinâmica com a filha e em exibir seus próprios problemas – aqui, acho pertinente salientar a cena em que, após ter sido “agredido” pela filha, entende-a e apenas pergunta onde ela estava, além da tocante sequência final.

É nessa química, aliás, que reside a força e a paixão com que Indomável Sonhadora vem conquistando muitos da crítica e do público. Ainda que tenha seus equívocos ou sua parcela de problemas, a ideia de abordagem Zeitlin acabou quase ofuscando suas resoluções.

                             

Um comentário:

Júnior Diniz Toniato disse...

Muito bom os seus textos, esse em especial eu tive uma visão diferente. Conheça o meu blog de críticas também, www.vocabularioextenso.blogspot.com.br.

Abraços