10 de agosto de 2011

Super 8 (EUA, 2011)

Quer algo mais retrô e nostálgico que isso?
Nasci em 1989. Infelizmente nunca passei pelas experiências cinematográficas aventureiras, ingênuas e prazerosas que eram os Gonnies de Richard Donner, os Gremlins de Joe Dante, a jornada dos quatro amigos de Conta Comigo e muito menos pude conferir no cinema o ET de Spielberg. Meu primeiro olhar sobre as obras foram no auge dos meus doze anos – curiosamente, a idade dos protagonistas dos maravilhosos filmes. É, portanto, totalmente proposital que Abrams, em parceria com Spielberg, queira retomar esse antigo gênero que consagrou muitos cineastas, através da ingenuidade e magia, um gênero que parecia perdido voltar a aparecer nas telas reconquistando gerações. Talvez o único problema de Abrams em Super 8 seja o excesso, criando por vezes uma obra que parece ser feita unicamente para resgatar essa essência e não aprofundar-se na história ou na aventura em si.


Escrita e dirigida pelo próprio J.J. Abrams, a história se passa no verão de 1979, quando um grupo de seis garotos, em uma cidade industrial de Ohio, testemunha uma catastrófica colisão noturna de um caminhão com um trem de carga. Eles conseguem registrar tudo com uma câmera Super 8 com a qual tentavam fazer um filme. Depois de a chegada militar, não tarda para que os seis amigos comecem a desconfiar que aquilo não fosse um acidente. Principalmente quando misteriosos desaparecimentos começam a acontecer e o exército tenta encobrir a verdade - algo muito mais terrível e improvável do que eles poderiam imaginar.


Estabelecendo um clima infantil e mágico desde o começo do longa-metragem, Abrams é inteligentíssimo ao não apenas retratar os seus personagens em momentos de aventura ou ação, mas estabelecê-los como personagens emocionalmente frágeis e curiosos. Portanto, é uma atitude sábia e bem pensada que o filme tenha início no velório da mãe de um personagem, mostrando desde seu princípio o sofrimento de Joe e as conseqüências que os personagens passarão a sofrer com todo o incidente.


Abrams é igualmente sutil e elegante ao mostrar em formas cuidadosas os sentimentos de cada um de seus personagens ou da cidade em cima da tragédia (inclusive brincando em alguns momentos com ambientes históricos – a citação de uma mãe com medo da invasão comunista não deixa de ser hilária). O diretor acerta desde a contemplação de sua cena inicial, em que vemos uma placa indicando tantos dias desde o último acidente até um trabalhador mudar a placa para apenas um, quanto para as particularidades e essências de cada um dos seis personagens principais. Um grande exemplo é na cena em que Alice e Joe trocam olhares pela primeira vez – se ela afirma “Ele não pode ir, ele é o filho do policial”, chega a ser surpreendente e apaixonante a reação do pequeno Joe ao responder “Você sabia?!”.


Igualmente competente é a fotografia de Larry Fong (mais familiarizado com trabalhos “Snydernianos”) que interessantemente deixa um flash de luz azul quase como um riscado em tela para um final grandioso e retratando de forma excelente os seis amigos em meio ao ambiente que estão. Ao passo que a trilha sonora do excelente Michael Giacchino consegue trazer etapas de dor, sofrimento e contemplação no primeiro ato, o clima aventureiro mais presente no segundo ato e, finalmente, o ar nostálgico que estamos acostumados em obras “Spielberganas” (mais uma vez, não deixa de ser cômico a trilha celebrando o clímax final em meio a inúmeros desastres).


Em contrapartida, a visão puritana de Abrams em torno do filme acaba prejudicando o gigantesco potencial da obra ao incluir cenas como a subtrama dos personagens de Kyle Chandler e Ron Eldard que o máximo que consegue evocar no público é vergonha. Ou algumas cenas que não acrescentam em nada, mas são jogadas na tela para apenas esticar o longa ou acrescentar alguma nova subtrama – por exemplo, a única finalidade que uma cena como a do Dr. Woodward sendo “cuidado” pelos militares poderia significar é que estávamos diante de um vilão cartunesco e patético.


Criando Joe Lamb com verdadeira determinação, curiosidade e destreza, apesar de emotivo, Joel Courtney é um verdadeiro achado na trama de Abrams ao resgatar justamente a essência que o diretor procurava. Se em um momento temos o personagem de Courtney confrontando o pai ao querer fazer suas próprias escolhas; em outro, o seu olhar não esconde a mágoa que guarda ao ver seu pai saindo para ajudar dezenas de pessoas, mas não ajudando o que seria mais importante naquele momento: seu próprio filho. É igualmente tocante ver o olhar de Courtney sempre choroso e curioso ao que está acontecendo ao seu redor. Já Elle Fanning é igualmente interessante ao criar sua personagem determinada ao tentar fugir de seu passado desde o principio e buscar algum consolo ou sentimento em Joe. Fanning ainda mostra-se talentosa na maioria das situações emocionais, lembrando um pouco a excelente Chloe Moretz no igualmente impressionante “Deixe-me entrar”.


Ainda que Abrams peque de maneira desconcertante em tentar transformar o filme sempre em algo nostálgico e ingênuo, o fato é que as qualidades do filme são curiosamente as mesmas. Super 8 tem o “q” de Goonies, Stand By Me, Contatos Imediatos de 3º Grau, E.T e realmente nasceu com o propósito de ser um longa feito para uma geração. Sua paixão, inteligência e sutileza são aspectos raros em obras do gênero. “Nunca vi um professor armado”, “Parece filme de desastre” e “se está no noticiário é real” são apenas algumas das frases que oferecem esse ar inocente e cuidadoso na obra de Abrams. Em uma das melhores cenas do filme, os seis amigos estão filmando a personagem Alice às lagrimas, na famosa câmera Super 8 , quando esta indaga depois da cena feita: “ficou bom?”. Sem resposta, os amigos com lágrimas nos olhos não conseguem balbuciar mais do que uma ou duas palavras. Talvez esse seja uma grande exemplificação para o público no final da sessão de Super 8: por vezes, a emoção sobrepõe-se a qualquer coisa.


(4 estrelas em 5)

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