26 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem (EUA, 2011):


Existe um certo ar de urgência em “Planeta dos Macacos: A Origem”, algo ameaçador e dolorosamente cruel: o maltrato de animais. De certa forma, o apelo do filme pode lembrar o de 68 protagonizado por Heston que também possuia uma crítica social mordaz – ali, quanto aos sistemas políticos e descriminalização -, mas no filme de Rupert Wyatt o alvo é outro. E essa, talvez, seja uma das únicas semelhanças entre os dois filmes, sem contar as referências obvias. O filme de Wyatt guia-se por um perigoso caminho de investir em uma trama que não lembra muito o original e como chegará lá, mas que prioriza acima de tudo seu principal personagem: César.


Escrito por Rick Jaffa e Amanda Silver, baseado no romance francês “La planète des singes”, a nova versão passa-se em San Francisco, onde Will Rodman (James Franco) é um cientista que trabalha em um laboratório que são realizadas experiências com macacos. Ele está interessado em descobrir novos medicamentos para a cura do mal de Alzheimer, já que seu pai, Charles (John Lithgow), sofre da doença. É quando um dos macacos consegue escapar e provocar vários estragos e sua pesquisa é cancelada que Will leva para casa algumas amostras do medicamento, aplicando-as no próprio pai, e um filhote de macaco de uma das cobaias.


O pai de Will, não apenas se recupera como tem a memória melhorada, graças ao medicamento. Enquanto o filhote, que recebe o nome de César, demonstra ter inteligência fora do comum, já que recebeu geneticamente os medicamentos aplicados na mãe. O trio leva uma vida tranquila, até que, anos mais tarde, o remédio para de funcionar em Charles e, em uma tentativa de defendê-lo, César ataca um vizinho. O macaco é então engaiolado, onde passa a ter contato com outros símios e, cada vez mais, se revolta com a situação.


Investindo na situação dolorosa em que seus personagens vivem desde seu primeiro ato, Wyatt é cuidadoso ao estabelecer os protagonistas de sua narrativa – desde a doença de Charles até a chegada do pequeno César e suas consequências na vida da familia. O desenvolvimento de César é muito bem demonstrado através da boa montagem de Conrad Buff IV e Mark Goldblatt que aproveita o ambiente de sequóias em que o animal é levado no longa para mostrar o crescimento do personagem em três anos – num excelente uso de elipses.

O impressionante Andy Serkis com seu olhar dócil e assustado. 

César, aliás, é o grande destaque do filme e Wyatt é inteligente ao investir quase que por completo em um aprofundamento no personagem. Andy Serkis é brilhante ao fornecer por meio de olhares todo o temperamento de seu personagem: seu aspecto dócil visto no começo do longa, seu jeito brincalhão e emocional, passando pelo seu estado assustado ao perceber seus erros e chegar ao cativeiro, até seu olhar experiente e fechado com os humanos – inclusive seu próprio “dono”. Impressiona, Serkis urrando contra o cachorro no parque e estabelecendo uma reação que ainda não havíamos visto em seu personagem: não querer ser tratado como um animal de estimação.


Infelizmente, Wyatt parece querer privar esse aprofundamento em César e estabelece o restante do elenco apenas como peças sacrificáveis em um jogo de xadrez. Começando com o personagem de David Oyelowo representando a aura capitalista sem remorso, Tom Felton como um humano maligno e sem alma, Cox como alguém que parece nunca querer saber o que está acontecendo e Freida Pinto totalmente deslocada na trama. Se isso não fosse o bastante, até Franco é apenas competente em seu papel, não criando nenhum tipo de vínculo paternal com César – algo que apenas mostra que se fosse qualquer outra pessoa carinhosa cuidando do animal, a relação seria igual ou melhor. Sobra pra John Lithgow criar um personagem que é apenas notado graças ao talento do ator, desenvolvendo desde a doença até sua aparente cura.


Criando um roteiro óbvio, mas pontualmente inteligente, Rick Jaffa e Amanda Silver conseguem estabelecer o aprofundamento de César e a crítica social que o filme se guia de forma competente, apenas falhando na construção do vírus (que mais parece ter saído de um roteiro da franquia “Resident Evil”) e nos referenciais que muitas vezes apenas parecem ter sido jogados na trama para estabelecer-se como um “pré-original” que nunca acontece. Claro que é notável situações como César brincando com uma réplica da estátua da liberdade, ou no cativeiro, em que o personagem de Felton berra “it's a mad house! A mad house!”, ou na missão de Heston indo pra Marte, entre outras referências. O grande problema é que isso nunca passa de uma tentativa de estabelecer semelhanças com o original e apenas jogadas de forma desnecessária. Um exemplo é a cena pós-créditos que salienta ainda mais a comparação da bizarra droga com o universo da franquia “Resident Evil”, como se apenas aquela cena demonstrasse o que viria num futuro próximo.


Ainda que seja um filme tecnicamente impecável, os efeitos especiais e o realismo dos macacos são impressionantes e serão possivelmente concorrentes ao Oscar, o filme guia-se pelo mesmo aspecto que outras obras depressivas de 2011 guiaram-se e falharam: a dor de estar numa sociedade cruel. Nunca fornecendo grandes respostas ao tema qual baseou-se, “Planeta dos Macacos: A Origem” não sofre apenas da péssima tradução de título, mas também do uso de estereótipos para definir a humanidade – sim, a mesma saída encontrada por Von Trier no cretino “Melancolia”, como se o fato da humanidade ser cruel, burra ou “má” (referenciando a frase patética de Dunst no filme do diretor dinamarquês) é o bastante para querermos que ela chegue ao fim de alguma forma. Oras, chega a ser irônico que um filme a favor da vida trague uma mensagem conflitante dessas em seu final.

(3 estrelas em 5)

2 comentários:

J. BRUNO disse...

Concordo em quase tudo com você e discordo em alguns outros pontos... gostaria que você desse um lida na resenha que fiz deste filme e na do citado "Melancolia"...

Planeta dos Macacos: http://www.sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/12/planeta-dos-macacos-origem.html

Melancolia: http://www.sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/11/melancolia.html

Anônimo disse...

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