11 de agosto de 2011

A Árvore da Vida (EUA, 2011)

Acima de tudo, um acontecimento histórico!
Uma das melhores coisas que pode acontecer para um crítico de cinema é ele gostar muito de um filme – o que acaba tornando o trabalho fácil e delicioso porque a escrita irá tratar de salientar essa adoração pelo projeto – ou quando o crítico odeia o filme, algo que proporciona o caminho inverso. Porém, é complicadíssimo quando em alguns casos o filme não consegue nos afetar de maneira alguma, nem positiva ou negativa, criando uma espécie de martírio por o filme ser completamente indiferente. “A Árvore da Vida” do diretor Terrence Malick não encaixa-se em nenhum desses casos. O filme é tão instigante, complexo e distinto que o sentimento no final da sessão pode ser igualmente cruel a primeira vez que muitos assistiram “2001 – uma Odisséia no Espaço”, por exemplo, a dúvida de ter amado ou odiado o projeto.


Escrito e dirigido por Terrence Malick, o filme é centrado em uma família dos anos 50 e na relação de pai, esposa e filhos. A narrativa é ambiciosa a fazer um paralelo no passado, presente e futuro do mundo – desde o Big Bang até o fim dos tempos, passando pela era jurássica e a complexidade humana de seus personagens.


Trazendo um clima contemplativo desde o começo da narrativa, Malick já explora em seu primeiro ato o sentimento de perda de um dos seus personagens. É belo e poético ver a câmera elevando-se e representando quase que a alma de Mrs. O'Brien deixando seu corpo junto com a morte de um de seus filhos. Malick ainda gosta de explorar desde o princípio todos os simbolismos que puder utilizar como artifícios, um grande exemplo é a porta do casal semi-aberta – quase que os escondendo para não vermos por completos seus sentimentos.


Igualmente interessante é a forma que o diretor conduz sua narrativa, geralmente utilizando contra-plongées para filmar o homem como se filmasse um Deus em frente de suas construções. Uma grande cena é a que em Sean Penn entra em um dos grandes arranha-céus mostrados no filme, sempre com uma luz forte no alto (talvez representando a graça daquele local) e a câmera trata de focalizar o personagem de baixo pra cima, ou quando Penn está em uma reunião e Malick imediatamente realiza um plano em plongée mostrando Penn olhando para baixo quando vê o resto do mundo – mostrando o homem como o dono de tudo, mais uma vez.


Por outro lado, o fato do filme ser cortado em quase 4 horas, já que a versão pretendida por Malick teria mais de 6 horas de filme, reflete intensamente na narrativa. Montado por cinco diferentes pessoas, a narrativa surge incômoda a todo o momento colocar a queda de uma cachoeira, a grandeza da natureza sendo representado por gigantescas árvores ou rochedos e as cenas sendo repetidas diversas e diversas vezes. Em contrapartida, o trabalho realizado no espaço sempre surge como algo fascinante, chegando ao ápice em uma das cenas mais poéticas e sublimes da carreira do diretor: a dança dos astros (quase como uma homenagem ao filme de Kubrick).


Complementando cada momento da obra de Malick, Desplat demonstra mais uma vez sua genialidade nas concepções para trilhas sonoras – aqui investindo em composições igualmente contemplativas ao filme e por vezes dando climas mais soturnos a trama. Ao passo que a fotografia de Emmanuel Lubezki oferece um realismo impressionante e quase inimaginável em alguns momentos.


Criando seu personagem como uma figura complexa em que sua aspereza é intercalada com sua paixão pelos filhos, Brad Pitt aparece como o destaque do filme. Se por momentos o personagem de Pitt surge como uma figura autoritária em sua casa e repreendendo atitudes de seus filhos, por outro lado sua devoção aos filhos e o desejo que seus filhos sejam ainda melhores que ele sempre ficam subentendidas na trama. É tocante ver Pitt reconhecendo seus erros como pai em uma cena e o pequeno Jack – que antes chegava a desejar a morte do pai – abraçando-o como se tudo tivesse sido perdoado por aquele único momento; ou em cenas mínimas, como quando Pitt pede para seu filho alcançar o isqueiro com a rudeza de sempre, mas logo depois pergunta para seu filho se ele o ama – demonstrando sua carência por amor, por trás do jeito enérgico.


Surgindo como um contraponto de seu marido, Jessica Chastain é um verdadeiro achado no filme por conferir um aspecto maternal tocante em sua personagem e, sobretudo, uma paixão igualmente comovente pela natureza – um sentimento compartilhado pelos filhos. É comum que Mrs. O'Brien surja sempre brincando com seus filhos na grama, banhando-se nas mangueiras de jardim ou apenas embarcando em brincadeiras simples com seus filhos – algo que é sempre bem mostrado por Malick, com diversão nas mínimas coisas: pega-pega, telefone sem fio, futebol com lata de tinta, etc. Ao passo que Sean Penn é o único que aparece deslocado na trama.


Sendo apenas um pouco confuso em seu clímax final, Malick conduz uma experiência quase que religiosa em uma espécie de missa contemplativa para a natureza e redenção divina. A confusão inicia (e isso pode ser apenas pensamento meu) em momentos em que na narrativa os próprios homens são tratados como os Deuses (talvez desse mundo?). Cenas como o materialismo sobrepondo-se a natureza e homens andando sobre as águas, mas ao mesmo tempo as portas do paraíso sendo abertas me transpareceram mensagens conflitantes. A comparação com 2001 é válida em determinados momentos, alguns parecendo homenagens (na cena da lua com o sol nascendo só faltou a trilha do filme) e o preciosismo de Malick com relação ao filme acaba sendo uma ferramenta de comparação ainda maior. Certamente o filme não será unanimidade e desconfio de suas chances ao Oscar, mas em determinados momentos o mais importante não são indicações ou não, premiações ou não, por vezes é importante apenas sabermos que presenciamos algo histórico. E isso... é inegável!


(4 estrelas em 5)

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