Em determinado momento de "Amor a toda prova", a linda Emma Stone olha para o talentoso Ryan Gosling sem camisa e afirma exasperada: "Meu deus, você está brincando, isso parece Photoshop. Depois disso?! Eu não tiro a minha roupa!". Apenas essa cena já mostra muito do novo filme dos diretores Glenn Ficarra e John Requa, ao mesmo tempo em que o sex appeal do ator é usado de todas as formas possíveis, a narrativa é incrivelmente natural e divertida.
Escrito por Dan Fogelman (roteirista de Carros e Enrolados), a trama gira em torno de Cal Weaver (Steve Carell), um quarentão que tem a vida dos sonhos: bom emprego, boas condições de vida e é casado com seu amor da adolescência. O grande problema é que essa vida perfeita desaba depois da descoberta de que Emily (Julianne Moore), sua esposa, está tendo um caso e quer divórcio. Desamparado, Cal conhece Jacob Palmer (Ryan Gosling), um cara que vai ensiná-lo a ter estilo, beber e paquerar mulheres.
Articulando bons momentos de comédia com uma aparente frieza em sua primeira cena, os diretores Ficarra e Requa administram bem o timing das cenas ao retratar tudo com naturalidade e nunca parecendo algo muito forçado – desde o pedido de divórcio na cena inicial até Carell contando para o filho e a babá sobre o divórcio logo quando entra em casa. E o politicamente incorreto e surreal presentes em "O Golpista do Ano", por exemplo, volta a aparecer quando somos apresentados a cenas hilárias, como a de Carell sendo surpreendido no escritório quando seus colegas achavam que ele estava com câncer.
Os dois diretores também são competentes na apresentação de seus personagens, mostrando em primeiro plano Cal como um homem frio e sem amor próprio até o personagem ser aprofundado em relacionamentos vazios, mas que mostram toda sua mudança – fazendo com que o espectador visualize o caminho que Cal está sendo conduzido e de forma bastante verossímil. É igualmente interessante como o personagem de Gosling é apresentado ao de Carell, o zoom de aproximação utilizado pelos diretores mostrando cada detalhe das roupas que Cal utiliza e a incomprenssão de Jacob com esse fato é simples, mas elegante.
Lindo casal, né!? |
O roteiro de Fogelman também é surpreendente ao conseguir administrar todas as subtramas da narrativa – com destaque a trama do filho apaixonado que é hilária – e conseguir pegar o espectador de surpresa no ponto de virada para o terceiro ato com uma revelação que não deixa confusos só Cal e Jacob, mas o espectador. As piadas são igualmente bem exploradas pelo roteiro deixando o ar de naturalidade citado. Frases como “Fui ver Crepúsculo e o filme era tão ruim”, as brincadeiras com clichês a partir do segundo ato mostrando Carell na chuva e sentado no bar exclamando “Se é alguma lição de final de filme, não estou entendendo”, ou nos jogos de Gosling, são sempre bem encaixadas– um bom exemplo é a primeira vez em que Jacob vê a personagem de Stone e brinca com o fato dela ser advogada. Porém, é inegável que o roteiro seria nada sem as atuações impecáveis do talentoso elenco.
Gosling é sublime ao retratar em princípio um sedutor barato, mas que consegue ser “fisgado” (não encontrei palavra melhor) pela personagem de Stone no segundo ato – observe como na cena em que os dois estão no apartamento interagindo, o ator já consegue mostrar um aspecto mais frágil emocionalmente de seu personagem e o quanto que o que ocorre naquele local é diferente de qualquer outra noite para Jacob. Já Carell faz uma das melhores atuações de sua carreira, ao retratar Cal como um personagem perdido e que é naturalmente corrompido por Jacob. Sua reconfiança adquirida também no segundo ato, por exemplo, auxiliada pela ótima montagem, é mostrada de forma genial pelo ator. Ao passo que Jonah Bobo e Analeigh Tipton são boas revelações ao compor verdadeiras almas gêmeas – visto que os dois se apaixonam por pessoas mais velhas.
Equilibrando momentos dramáticos com outros de pura hilaridade, como nas cenas com a personagem de Tomei (quase exagerando no overacting), “Amor a toda Prova” é aquele tipo raro de filme que aparecesse uma vez por ano e que consegue brincar de forma única com os clichês apresentados em tela, fazendo com que o espectador ainda torça para o final feliz. É também natural que a ascensão de Gosling em Hollywood apresente mais filmes explorando o sex appeal e talento do ator – os slow motions mostrando Gosling caminhando ou cenas de sedução representam bem esse caminho –, assim como Emma Stone. Hollywood pode até ter encontrado seus novos pombinhos, mas como é bom quando eles são talentosos...
(4 estrelas em 5)
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