1 de setembro de 2016

Café Society

Idem, EUA, 2016. Direção: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen. Elenco: Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Corey Stoll, Jeannie Berlin, Ken Stott, Blake Lively. Duração: 1h36min.


                                – Primeiro, um assassino; agora, um cristão. Meu deus, o que fiz pra merecer isso?

Dono de uma fineza contagiante, Café Society é exatamente o que faz Woody Allen prevalecer com a adoração jovem que ainda possui: um homem de mais de 80 anos que consegue ser paradoxalmente um pessimista esperançoso. No seu novo ensaio sobre a alta sociedade norte-americana, Allen é cínico com a hipocrisia de seus personagens, porém, nunca se rendendo aos caprichos românticos e clichês que essas charlatanices podem despertar.

Irmã de Tiros na Broadway, a narrativa de Allen não se restringe a um único foco ou uma história de amor entre Booby e Vonnie; voltando-se, primordialmente, ao desenvolvimento da alta classe, com seus filósofos pedantes, seus adultérios, seus sonhos, seus crimes, seus esbanjamentos. Café Society nasce como uma crônica nova yorkina do estilo de vida levado nos anos 30 – uma época que, embora já demonstrasse a alta onda de crimes e corrupção na cidade, despertava sonhos e possibilidades.

Assim, não só a fotografia aproveita essa magia pitoresca, ao salientar o verde de Nova York e uma cidade que ainda estava longe de ser tomada pelos grandes arranha-céus (oferecendo um simbolismo belo para coisas inacabadas), como também o design de produção de Santo Loquasto se sai particularmente bem em ressaltas as telhas antigas das mansões de Beverly Hills.

A direção de Woody Allen, por sua vez, mostra mais uma vez o talento do nova yorkino em lidar com perspectivas e inserir situações cômicas como poucos. Não apenas nos momentos que envolvem Ben Dorman (Corey Stoll, excelente), mas na forma como a intimidade dos personagens é sugerida em contextos diferentes. É comum, observe, que Allen estabeleça uma pessoa ou um objeto no centro da câmera, enquanto evidencia sua passagem por aquele momento – no tribunal, Ben é comprimido por duas bandeiras americanas ao ser condenado à morte; enquanto, na esfera romântica, nossas atenções recaem sobre Vonnie.

(No restaurante, por exemplo, ela aparece ao fundo, desfocada, com o piano em primeiro plano. Nós acompanhamos o seu caminhar até ela chagar a mesa de seu namorado, que só então sabemos que é Phil. A partir de então, avaliados pelo espectador, ambos são colocados frente a frente em planos centrais, como se respondessem nossas perguntas. Posteriormente, quando Phil decide terminar o seu caso, é só Vonnie que aparece em primeiro plano na mesa, os dois separados por uma vela. Onde está Bobby, neste momento? Em casa, com duas velas, esperando para compartilhar o momento do primeiro jantar com Vonnie.)

"A vida é um filme de comédia, mas escrita por um sádico", diz a personagem hilária de Jeannie Berlin, no segundo ato. E é assim que Allen leva seu romance até o fim. Não deixando de conceber ideias sobre a morte envolvendo a vida, como virou seu costume, o cineasta estabelece ao final o que todos nós passamos quando nos lembramos de nossa primeira paixão e nos perguntamos o que poderia ter sido: dezenas de quilômetros um do outro, mas na mente a única indagação: será que ela pensa em mim?  


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