8 de setembro de 2016

O Homem nas Trevas

Don't Breathe, EUA, 2016. Direção: Fede Alvarez. Roteiro: Fede Alvarez e Rodo Sayagues. Elenco: Stephen Lang, Jane Levy, Dylan Minnette, Daniel Zovatto, Emma Bercovici. Duração: 1h28min.


           –  Você ficaria surpresa com que um homem é capaz de fazer, quando ele percebe que não há mais nada, que não há um deus.

Caso o novo filme do promissor Fede Alvarez não fosse praticamente igual ao Crush The Skull, de Viet Nguyen, lançado no ano passado, o mundo sem vida que envolve os jovens liderados por Rocky teria tido muito mais impacto, eu suponho. Afinal, sabendo lidar com a tensão de sua trama como se ela fosse uma novidade, o uruguaio consegue expor seus simbolismos de forma eficiente e sem que recorra a diálogos expositivos.

Tanto Crush The Skull quanto O Homem nas Trevas seguem uma premissa slasher incomum, em seus universos: as vítimas da história são assaltantes reincidentes que se tornam mais próximos de uma empatia com o público por estarem dentro de um "negócio" familiar. Era assim que Blair e Ollie nos cativavam, por exemplo, quando somavam o romance com o terror e a comédia – já que, como no filme de Fede Alvarez, ambos tentam assaltar uma casa que não sabem ser habitada por um psicopata.

A maior diferença entre o filme de Nguyen e o de Alvarez, portanto, reside na falta de comédia deste. O Homem nas Trevas é um filme que se preocupa muito mais em tornar o caminho dos personagens complexo e envolvente do que imprevisível. Assim, o primeiro acerto do diretor é fazer com que o homem interpretado por Stephen Lang seja tão misterioso quanto tridimensional. Ao mesmo tempo em que seu personagem é impassível e não demonstra resquício de qualquer humanidade, como na cena em que pretende injetar um tubo do seu esperma em Rocky, a dor que sente ao perder o futuro filho de uma das suas vítimas denuncia que ainda havia um pai enlutado que tomou um caminho extremo para descontar sua frustração.

Desta forma, quando o homem atira no retrato de sua filha na estante, numa explosão incontrolável, tentando achar quem invadiu sua casa, ele simbolicamente também está deixando de lado a memória de sua filha para entrar num caminho sem volta. 

Como em Halloween, o passado se torna um subterfúgio para compreendermos a psicopatia, sem que esqueçamos de sua monstruosidade. Duas cenas interessantíssimas de Alvarez destacam essa perspectiva: a primeira, ele desaparecendo e aparecendo na escuridão de seu porão, uma cena extremamente tensa por princípio; a segunda, seus olhos vermelhos, após ser baleado, em uma homenagem clara ao próprio Halloween.

Neste mundo sem cor e sem vida, o diretor também encaixa algumas interpretações eficientes sobre a natureza daquele ambiente que os personagens penetram: Rocky pisando sobre cacos de vidros ou apenas o som da respiração de um dos invasores são bons exemplos. O mesmo quando olhamos para as sombras que cercam a casa do homem cego num dia ensolarado – como se aquele lugar não visse um dia de sol há muito tempo.

Essa luz só irá voltar com intensidade, aliás, é no aeroporto, onde Rocky e sua irmã esperam ansiosamente para deixar o passado para trás. Pela primeira vez, uma perspectiva no horizonte se mostra mais segura do que as trevas que as envolviam até então. 


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