![]() |
![]() |
Don't Breathe,
EUA, 2016. Direção: Fede Alvarez. Roteiro: Fede Alvarez e Rodo Sayagues.
Elenco: Stephen Lang, Jane Levy, Dylan Minnette, Daniel Zovatto, Emma Bercovici.
Duração: 1h28min.
– Você ficaria surpresa com que um homem é capaz de fazer, quando ele percebe que não há mais nada, que não há um deus.
Caso
o novo filme do promissor Fede Alvarez não fosse praticamente igual ao Crush
The Skull, de Viet Nguyen, lançado no ano passado, o mundo sem vida que
envolve os jovens liderados por Rocky teria tido muito mais impacto, eu suponho.
Afinal, sabendo lidar com a tensão de sua trama como se ela fosse uma novidade,
o uruguaio consegue expor seus simbolismos de forma eficiente e sem que recorra
a diálogos expositivos.
Tanto
Crush The Skull quanto O Homem nas Trevas seguem uma premissa
slasher incomum, em seus universos: as vítimas da história são assaltantes
reincidentes que se tornam mais próximos de uma empatia com o público por
estarem dentro de um "negócio" familiar. Era assim que Blair e Ollie
nos cativavam, por exemplo, quando somavam o romance com o terror e a comédia –
já que, como no filme de Fede Alvarez, ambos tentam assaltar uma casa que não
sabem ser habitada por um psicopata.
A
maior diferença entre o filme de Nguyen e o de Alvarez, portanto, reside na
falta de comédia deste. O Homem nas
Trevas é um filme que se preocupa muito mais em tornar o caminho dos
personagens complexo e envolvente do que imprevisível. Assim, o primeiro acerto
do diretor é fazer com que o homem interpretado por Stephen Lang seja tão
misterioso quanto tridimensional. Ao mesmo tempo em que seu personagem é
impassível e não demonstra resquício de qualquer humanidade, como na cena em
que pretende injetar um tubo do seu esperma em Rocky, a dor que sente ao perder
o futuro filho de uma das suas vítimas denuncia que ainda havia um pai enlutado
que tomou um caminho extremo para descontar sua frustração.
Desta
forma, quando o homem atira no retrato de sua filha na estante, numa explosão
incontrolável, tentando achar quem invadiu sua casa, ele simbolicamente também
está deixando de lado a memória de sua filha para entrar num caminho sem volta.
Como em Halloween, o passado se torna um subterfúgio para compreendermos a
psicopatia, sem que esqueçamos de sua monstruosidade. Duas cenas
interessantíssimas de Alvarez destacam essa perspectiva: a primeira, ele
desaparecendo e aparecendo na escuridão de seu porão, uma cena extremamente
tensa por princípio; a segunda, seus olhos vermelhos, após ser baleado, em uma
homenagem clara ao próprio Halloween.
Neste
mundo sem cor e sem vida, o diretor também encaixa algumas interpretações
eficientes sobre a natureza daquele ambiente que os personagens penetram: Rocky
pisando sobre cacos de vidros ou apenas o som da respiração de um dos invasores
são bons exemplos. O mesmo quando olhamos para as sombras que cercam a casa do
homem cego num dia ensolarado – como se aquele lugar não visse um dia de sol há
muito tempo.
Essa
luz só irá voltar com intensidade, aliás, é no aeroporto, onde Rocky e sua irmã
esperam ansiosamente para deixar o passado para trás. Pela primeira vez, uma
perspectiva no horizonte se mostra mais segura do que as trevas que as
envolviam até então.
Nenhum comentário:
Postar um comentário