17 de novembro de 2015

Olmo e a Gaivota

Olmo & the Seagull, Dinamarca/Brasil/França/Portugal/Suécia, 2015. Direção: Petra Costa e Lea Glob. Roteiro: Petra Costa e Lea Glob. Elenco: Olivia Corsini, Serge Nicolai, Pancho Garcia Aguirre. Duração: 87 minutos.

Poucas personagens são tão pertinentemente contemporâneas quanto Olivia (a brilhante Olivia Corsini), que empresta sua personalidade, físico e psique para as lentes de Petra Costa e Lea Glob desenharem a percepção da mulher moderna na sociedade e como ela pode ser prisioneira dentro de sua própria realidade. É quase num grito de socorro que transcorre as discussões de Corsini e Nicolai, os quais transitam entre as fases mais instáveis de um relacionamento: se o homem parece ter a compreensão sobre a situação da mulher, num primeiro momento, logo passa a se mostrar mais individualista com a nova rotina do casal.

Desta forma, Petra e Lea cativam por constantemente nos manter próximos de Olivia e a dubiedade que o bebê traz à sua vida. Se no início, as intenções dela de continuar sua carreira são demonstradas num jantar, onde ela defende que um filho não significa abnegação da vida e carreira; o instante posterior, que descobre ter que ficar de repouso para manter o bebê vivo, acaba soando muito mais forte para o futuro da personagem – agora, tendo que repensar praticamente tudo. As diretoras conseguem, igualmente, demonstrar a forma como a mulher pode ser descartada de um trabalho por uma gravidez ou como até pessoas próximas indicam que a tarefa da mãe é exatamente direcionar atenção as questões domésticas, quando o filho vira uma realidade.

Fica difícil não simpatizar com o sofrimento de Olivia, portanto, que tenta a todo custo ter sua liberdade. Até as coisas mais simples, como o fato das horas do marido fora de casa, antes não sentidas, pelo contato, tornam-se imprescindíveis para o equilibrio dela. É o amor que a mantém psicologicamente saudável. Deste modo, desde a primeira ligação de Olivia e Serge separados por uma porta, enquanto ela faz o teste de gravidez, no embalo de uma música, a cumplicidade se mostra importantíssima. Não à toa, a forma que a reconecção do casal se dá justamente no mesmo lugar, quando Serge acha na música com os amigos uma maneira de trazer Olivia de volta.

Ainda que o estilo de Petra na narração em off e nos flashbacks ainda destoem da realidade de Olivia e Serge, Olmo e a Gaivota é um documentário importantíssimo que nos transporta para uma ótica feminina sobre o nascimento, a qual confronta as concepções machistas persistentes dentro de uma sociedade que vê a maternidade como uma responsabilidade exclusiva da mulher. 



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