Olmo
& the Seagull, Dinamarca/Brasil/França/Portugal/Suécia,
2015. Direção: Petra Costa e Lea Glob. Roteiro: Petra Costa e Lea
Glob. Elenco: Olivia Corsini, Serge Nicolai, Pancho Garcia Aguirre.
Duração: 87 minutos.
Poucas
personagens são tão pertinentemente contemporâneas quanto Olivia
(a brilhante Olivia Corsini), que empresta sua personalidade, físico
e psique para as lentes de Petra Costa e Lea Glob desenharem a
percepção da mulher moderna na sociedade e como ela pode ser
prisioneira dentro de sua própria realidade. É quase num grito de
socorro que transcorre as discussões de Corsini e Nicolai, os quais
transitam entre as fases mais instáveis de um relacionamento: se o
homem parece ter a compreensão sobre a situação da mulher, num
primeiro momento, logo passa a se mostrar mais individualista com a
nova rotina do casal.
Desta
forma, Petra e Lea cativam por constantemente nos manter próximos de
Olivia e a dubiedade que o bebê traz à sua vida. Se no início, as
intenções dela de continuar sua carreira são demonstradas num
jantar, onde ela defende que um filho não significa abnegação da
vida e carreira; o instante posterior, que descobre ter que ficar de
repouso para manter o bebê vivo, acaba soando muito mais forte para
o futuro da personagem – agora, tendo que repensar praticamente
tudo. As diretoras conseguem, igualmente, demonstrar a forma como a
mulher pode ser descartada de um trabalho por uma gravidez ou como
até pessoas próximas indicam que a tarefa da mãe é exatamente
direcionar atenção as questões domésticas, quando o filho vira
uma realidade.
Fica
difícil não simpatizar com o sofrimento de Olivia, portanto, que
tenta a todo custo ter sua liberdade. Até as coisas mais simples,
como o fato das horas do marido fora de casa, antes não sentidas,
pelo contato, tornam-se imprescindíveis para o equilibrio dela. É o
amor que a mantém psicologicamente saudável. Deste modo, desde a
primeira ligação de Olivia e Serge separados por uma porta,
enquanto ela faz o teste de gravidez, no embalo de uma música, a
cumplicidade se mostra importantíssima. Não à toa, a forma que a
reconecção do casal se dá justamente no mesmo lugar, quando Serge
acha na música com os amigos uma maneira de trazer Olivia de volta.
Ainda que
o estilo de Petra na narração em off e nos flashbacks ainda destoem
da realidade de Olivia e Serge, Olmo e a Gaivota é um documentário
importantíssimo que nos transporta para uma ótica feminina sobre o
nascimento, a qual confronta as concepções machistas persistentes
dentro de uma sociedade que vê a maternidade como uma
responsabilidade exclusiva da mulher.
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