23 de novembro de 2015

A Verdade sobre Marlon Brando

  “Quando a câmera está em você, o seu rosto se torna o palco. Ele é sua arte. E tudo faz parte: o olhar, sua boca. É seu dever tornar os filmes genuínos.”

Listen To Me Marlon, Inglaterra, 2015. Direção: Steven Riley. Roteiro: Steven Riley e Peter Ettedgui. Com: Marlon Brando. Documentário. Duração: 103 minutos.

Como um poema sonoro, Listen to Me Marlon contempla mais do que o mito; o ser humano. Não é o que percebemos de Marlon Brando, sua influência ou as perspectivas diferentes sobre suas ações, ainda que tudo esteja lá; é a visão do artista sobre si, e suas confidências. 

Marlon não liga pra o que os outros pensam dele. Mas para o que ele sente dentro de si. Assim, o documentário serve como um tradutor das maneiras, anseios e neuras do ator, que se relaciona consigo mesmo com uma honestidade acolhedora: ao falar sobre sua compulsão por comida, por exemplo, Marlon Brando revela sentir que ela é sua única amiga, quando chega em casa; igualmente, alguns detalhes de sua vida sexual surgem à tona, algo que se torna quase triste quando o ator assume que o seu pênis passou a ter agenda própria e que pouco é racional sobre esse estilo de vida.

Listen To Me não parece um pedido de socorro, é apenas um retrato. Que fala sobre problemas paternais, o mundo de negócios, onde a arte é pouco apaixonante, e a popularização do método é uma decorrência da busca pelo tom mais tangível. “Todos atuamos, alguns são pagos para isso”, pensa Marlon Brando sobre seu papel na indústria.

Afinal, o quanto podemos entrar no mundo dos bastidores, com Brando se entregando, expondo-se, em um último retrato? Em cada sequência, o documentarista Steven Riley se esforça para não ser evasivo em nenhum dado: tornando a figura do ator trágica e icônica, ao mesmo tempo.

Se a comparação entre a atuação e uma luta de boxe que o ator faz durante o segundo ato é homérica, o documentário é um acréscimo mais humano ao que seria o maior pugilista de todos, que continuamente nos nocauteou: com seus gestos, atitude, olhares e, claro, sua voz.

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