12 de novembro de 2015

007 Contra Spectre

Spectre, Inglaterra/EUA, 2015. Direção: Sam Mendes. Roteiro: John Logan, Neal Purvis, Robert Wade, Jez Butterworth, baseado na história dos três primeiros. Elenco: Daniel Craig, Léa Seydoux, Christoph Waltz, Ralph Fiennes, Monica Bellucci, Ben Whishaw, Naomie Harris, Dave Bautista, Andrew Scott. Duração: 148 minutos.

Após o filme mais autoral de James Bond, é no mínimo confuso que Sam Mendes tenha proposto homenagear uma franquia que havia decidido esquecer previamente. Interligando a “era Craig”, o inglês tenta construir uma obra romântica, aventureira e dramática ao mesmo tempo, mas sendo eficiente só na construção de um passatempo esquecível.

Não que Spectre não tenha sequências extraordinárias ou bem pensadas por Mendes. Muito pelo contrário, o diretor acerta na maneira de lidar com a instabilidade moral do personagem de Craig através dos filmes – observe que, se antes o víamos chegar por trás de um criminoso para dizer seu nome antes de matá-lo, a mesma cena retorna em Spectre com uma conclusão diferente: Bond encara Blodfeld de frente, na mira de sua arma.

Porque James Bond é um homem mudado. O início brutal de Cassino Royale e o auge impiedoso de Quantum of Solace deram lugar a necessidade de trabalho, hiperatividade e conflitos internos de Skyfall e Spectre.

É parte de sua vida continuar sobrevivendo, sem a oportunidade de parar ou pensar no que lhe fez/faz puxar o gatilho. Uma parte da era Dalton, que é exatamente retomada quando o britânico é confrontado, num momento de fraqueza, com a promessa feita ao pai de Swann – talvez um dos momentos mais vulneráveis do agente na franquia, que precisa pensar sobre uma ação que na cabeça dele “precisava ser feita” naquele momento.

Vesper Lynd, nesta perspectiva, continua a personagem mais importante da quadrilogia, quando observamos a motivação do agente em salvar Swann de um desastre parecido com o que vitimou a personagem de Lynd. Ele não está salvando Madeleine, mas a metáfora do amor de sua vida. Não a deixará novamente. O que, igualmente, denuncia o lado que tomará no clímax: aonde ir.

A sinalização de uma coesão narrativa é admirável, portanto, mas é algo que Mendes não investe tanto quanto deveria. Apenas afirmando superficialmente o papel de Blofeld nos filmes anteriores ou a participação de outros na trama, o diretor também procura montar um conjunto de homenagens a inúmeros filmes do 007 – antes da saída definitiva. Estão lá: Moscou Contra 007 (no personagem de Bautista), as saídas extravagantes de Brosnan (as lutas no helicóptero, a lancha, a saída pela janela no México), o conflito existencial de Dalton (na mesa com Swann), o amor influente na vida do personagem (o filme de Lazenby) e, claro, o humor brega de Moore (com menos intensidade). Mas sempre gratuito.

Mendes acredita no poder da franquia, claro. Mas acaba criando um exemplar genérico e esquecível, num ano com tantos outros filmes eficientes do gênero. 



Nenhum comentário: