16 de fevereiro de 2015

Teoria de Tudo, A

The Theory of Everything, Inglaterra, 2014. Direção: James Marsh. Roteiro: Anthony McCarten, baseado no livro de Jane Hawking. Elenco: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior, Harry Lloyd, David Thewlis. Duração: 123 min. 

Qual seria o pensamento do homem que regeu uma das maiores teorias científicas dos últimos 50 anos, que lutou contra uma doença que “deveria” ter o matado quando ainda era jovem, como foi sua luta, seu destino, seu reconhecimento, sua vida? Não conseguiríamos dar uma avaliação completa, caso conhecêssemos Hawking apenas pela desastrada cinebiografia dirigida por James Marsh.

Afinal, buscando dar uma típica fórmula para um sujeito atípico, o filme de James Marsh acha interessante indicar o destino do jovem cientista em enquadramentos assustadoramente cínicos e irresponsáveis, como aqueles em que apenas destaca as pernas dos personagens ou salienta o posicionamento de Hawking sem elas: aliás, perceba a cena que se passa no escritório do professor e uma transparência da porta denunciando essas intenções.

Da mesma forma, as elipses da história acabam fragilizando a narrativa, pois não conseguimos enxergar o desenvolvimento das teorias, relacionamento entre ele e Jane, bem como a perda gradativa dos movimentos. Basta analisar, como exemplo, o nascimento dos filhos de Hawking – um dia, sabemos que ele tem no máximo dois anos de vida; noutro, ele já está no segundo filho e não sentimos absolutamente nada da gradatividade degenerativa (inclusive, a “voz” computadorizada é simplesmente jogada). Igualmente, é quase ridículo que o instante escolhido como mais importante da carreira do cientista, para pontuar toda uma trama acerca daquilo, seja o encontro com a rainha. Algo que só não soa mais ultrajante, pois é uma bela amostra do que Marsh intenciona.

O instrumento, é claro, torna-se a família. Mas sem que isso seja fortalecido. Embora exista química entre Redmayne e Felicity Jones, o que sabemos do amor dos dois é muito pouco. Conheceram-se numa festa, apaixonaram-se, viveram com um fardo até certo momento e se desapaixonaram. Sem algum desenvolvimento para tudo isso no pouco mais de duas horas do longa-metragem. 

Ainda assim, é inegável a força dramática que Eddie Redmayne entrega ao seu Stephen Hawking. Nunca excedendo-se, como é costume em biografias do tipo, o ator confere sensibilidade a um pontualmente derrotado homem, quando não enxerga mais nenhuma razão para continuar vivendo sem suas habilidades motoras, tanto quanto oferece força nos gestos e olhares impostos por sua condição. Ao mesmo tempo, mantendo a cabeça sempre ao lado, próxima do corpo, Redmayne também é competente ao demonstrar o crescimento de sua condição: a tentativa de esconder uma doença que já o preocupa, a falta de coordenação motora com coisas pequenas, as cadeiras servindo como apoio, tudo é muito bem evidenciado pelo britânico. Ao passo que Jones é apenas simpática na pele de alguém dividida entre o amor e a responsabilidade.

Uma pena, claro, que uma história tão bela se torne quase espalhafatosa nas mãos de Marsh, o qual chega a entregar uma das piores sequências do ano: mais uma vez cínico, num breguíssimo slow motion com uma caneta como ponto de referência. No fim, A Teoria de Tudo é o esforço limitado/individual de um ator para fazer jus ao referenciado. E, ao menos nesse ponto, funciona.  


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